sábado, 30 de maio de 2015

Encontros que dizem adeus


 

O destino passa
No amigo que é lentamente puxado para o outro lado da razão
e um dia mergulha na sombra que trazia em si por resolver
o destino cumpre-se e passa
Na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
como as imagens que sem cessar me assaltam e abandonam
na espuma que esmago contra a areia muito fina
na mulher que me acompanha e comigo se perde na noite
nos soluços de luz verde que um farol nos envia
o destino detém-se e passa
 
(Alexandre O'Neill)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Catilinárias

Todos os leitores deste blogue, pessoas eruditas e poliglotas, conhecem bem o discurso de Cícero a Catilina, em que aquele se queixava "Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra" (até quando abusarão as mulheres da nossa paciência). Os meus leitores também sabem que é destas catilinárias que vêm as atuais calinadas.
Vem isto a propósito da nova rubrica neste blogue, que é também a primeira: calinadas em versão literata dedicadas a todas as que abusam da paciência.
Sem mais demoras:


Não há reuniões com o Ente ao almoço. A recusa não tem em conta a pessoa do proponente. Não se sintam pessoalmente preteridas.
Todas as reuniões com o Ente ao jantar são pessoais. Se declinar o vosso convite não insistam. Finjam que não se sentem pessoalmente preteridas.
(Prefiro as que me deixam convidar. Nem sempre.)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Campeonatos e plebiscitos - futuro ou condicional

O Reino Unido já tem a sua pergunta. Uma confusão na destrinça. Ser ou permanecer. A Rússia talvez já não tenha o campeonato do mundo em 2018. Uma neutralidade suíça. A dificuldade em ter e manter. A hegemonia da língua inglesa ou the all american. Sobre o leite derramado, nem cães nem gatos. A riqueza das vacas leiteiras.  La belle époque. Bucólicas. Ma Belle. Nada de bulir. Que beleza de calor. Um rebuliço de russas e roliças numa aliteração forçada.


Au clair de la lune mon ami Pierrot
Prête-moi ta plume pour écrire un mot
Je ne sais pas écrire
Prête-moi des mots

A aniquilação da euforia

Sem querer repetir os termos da polémica quanto ao desenvolvimento intelectual e seu reflexo na consciência individual, constato que releio com o gosto de ler, impondo-se-me a mesma exigência totalitária de outrora.
Terminado um poema indiano, entre baforadas de H. Upmann e inspirações de terra molhada, atenuo a importância de Atman e encurto o Om para me indultar - de novo - no substrato humano. Magistral!
"Ela chamou-o com o olhar (...) Kamala beijou-o longamente e Siddhartha compreendeu, com espanto, o quanto ela lhe ensinava, como era sábia, como o dominava, o repelia e o atraía."
Hoje não me apetece o silencioso mendigar da meditação. Afinal, "nada existe que seja o Nirvana, apenas existe a palavra Nirvana".
Falemos de outras coisas...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Anónimos

Tessituras poéticas de assinaturas incógnitas. Ecos de vozes singulares.


(Shirin Neshat)

Só os professores de blogues é que podem

O arauto vaticina o incumprimento generalizado pela burguesia. O povo unido não só não será vencido como não será convencido. Nem ás nem asno, o povo ainda vê o que se quer visto. As cortes infames botam faladura para não estarem caladas e decretam para se ocuparem.
O arauto levanta o pano e revela a cena similar desse "laisser faire, laisser passer" característica dos trovadores. Em boa verdade, parece que aqui o arauto se estica um bocadinho assim*, empolando sem empolgar.
Mas o arauto é magnânimo e acha bem que existam regras, contanto que não sejam cumpridas. Acredita e quer acreditar, numa oração de fé sem precedentes, nos leitores ma non troppo.
O sol quando nasce é para todos. A lei é cega. Boys will be boys. Tudo bons rapazitos.



*Post não patrocinado pelos suissinhos.




 

 
 

terça-feira, 26 de maio de 2015

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ente dá o pontapé de saída no comentário ao fato

O fato é preto. Mesmo quando não é smoking. Grilos, este ano, nem vê-los. As calças são vestidas e não descaídas, nem tão curtas que sirvam para atravessar cheias nem tão compridas que arrastem, devendo o vinco de trás tocar no tacão e o da frente ser 1cm mais curto, para não enfolar sobre o pé.  (Que deu a alguns para não cumprirem o comprimento?) Não deixes que te enfaixem como a um bandarilheiro, sob pena de pareceres o rabeador. (De vermelho então...) A camisa branca estará engomada e não acabada de sair da caixa, com o punho a cair entre o pulso e o início do polegar, aparecendo 1cm sob o casaco. (Guardai a preta para o lux. Melhor ainda, usai-a sempre branca.) As meias são pretas (cor de vinho tinto eram os sapatos da Prada, não as meias, e mesmo esses ficavam escondidos pela batina.) Os sapatos são pretos, de atacadores e finos, sem autocolantes na sola. Nem Fred Astaire, nem Crocodilo Dundee. (Aquilo parecia pele de cobra. Um susto.) O laço é um papillon. Usa-o como tal e convence-te de que fica menos ridículo do que os atilhos de quem traz a corda ao pescoço. Um relógio e botões de punho. (Aquelas flores de cordel que vêm com as camisas não se qualificam.)
Se for necessário um jogador de bola mostrar como se faz, não penses que chegou o fim da linha, antes reconhece a mola real.
No dia em que esqueceres estas regras e te vires numa figura saloia ao lado de uma mulher aperaltada, diz-lhe "the joke is on you". Também é. E vai-te embora, que para engalanados bastam os Santos. 

Eu sou pela identidade e pela distinção

As redes sociais são a salvação da democracia e o palco do reto exercício dos direitos cívicos. Ámen. Glória ao facebook onde as rosas nunca murcham e as frases inspiradoras nunca faltam. Louvadas as sãs amizades, ali nascidas, entre boa gente com quem se pode contar. Exultemos com a força dos likes que move marés de ir e voltar. Bendigamos as mulheres que ali são livres de pedir amizade ou algo mais.

Este blog é o que é e este Ente não adere a redes ou campanhas que lhe retirem identidade.


(Queixam-se que eu não respondo aos emails...
Não se amofinem com a potencialidade para multiplicar números. Revisitemos Lisboa.)

domingo, 24 de maio de 2015

Resumo ou previsão numa história que se repete

O enfezado tem piada com aquele ar de gigolo, que se lhe colou desde os gémeos. Não sei se é dos sapatos se da barbearia. Já todos percebemos que uma maria capaz é capaz de tudo. As outras  marias também. Mesmo as que vão com as outras. Seria preciso sair debaixo da árvore para ver a floresta. Não tomar a floresta pela árvore nem a árvore pela floresta. O todo e a parte fundem-se mas não se confundem. Confundidos andam muitos. Cegos estaremos todos.

Our Inventions

Nunca seremos só amigos

Existe em mim uma superlativa limitação para abarcar a multiplicidade das relações humanas.
Navego entre trópicos com um enlevo sem bússola e uma inocência sem norte.
Hesito perante a entusiástica disponibilidade que anestesiantemente nos fixa continuação.
Obstinado neste meu ceticismo mantenho a incondicional ternura.
Porém, sei inequivocamente que não sendo amantes, seremos estranhos.
Desconheço esse conceito de desvalor inventado pelo sexo feminino que, perante um termo que não desejou, insiste numa "só amizade", como uma amizade menor, como se tal desvio fosse instituível.
A recordação no simbolismo de um horizonte passado não se confunde com qualquer tipo de futuro.
Jamais servirei para quem, subliminar ou despudoradamente, reduz a amizade numa abusiva comparação de termos exclusivos que nunca vivenciou.
Obsidiante é Dante: é vasto o mar a tão pequena barca... 

Obsessões

A minúcia propicia a escritura.

sábado, 23 de maio de 2015

Chegou a hora


Amizade também é

Comprometer um fim de semana luminoso e apetecido para rever a tese de um amigo...
Nunca seremos estranhos, apesar das memórias da nossa amizade serem eternamente sagradas. Nietzsche não tinha ciência nenhuma.
... valem-me o ar puro e a esperança de, ainda hoje, mergulhar nas águas que acenam sempre que me acerco da sacada.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vamos antes jogar Tetris

Fixava indefinidamente o jardim de onde o esperava. Perscrutava o caminho de pedra que serpenteava por entre as ervas. Numa esperança sem resignação, caminhava preso ao desejo de o encontrar por detrás das folhagens. Pum! Matei-te! Esgares. Revirar de olhos. Desequilíbrio forçado. Pam! Cai como cerimónia fúnebre. Que fazes aí espojado? Morro! Levanta-te idiota! Deixa-me morrer em paz. Não podes morrer, que a mãe não nos deixa brincar às guerras. Vamos antes brincar a outra coisa.



Morla, a tartaruga

Neste castelo de pedra, sem tapetes nem pêlos, impera o vagar e o camarão seco.


(Um dia postarei a fotografia de uma melga.)
 
 
"- Ouve lá - gorgolejou Morla, - nós somos velhas, pequeno, velhas demais. Já vivemos bastante. Já vimos muito. Para quem sabe tanto como nós, nada é importante. Tudo se repete eternamente, dia e noite, Verão e Inverno; o mundo está vazio e não tem significado. Tudo se move em círculos. O que aparece tem de desaparecer, o que nasce tem de morrer. Tudo passa, o bem e o mal, o estúpido e o inteligente, o belo e o feio. Tudo é vazio. Nada é real. Nada é importante." (História interminável)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Post dedicado a todas as minhas meninas dos blogs

As minhas meninas dos blogs são todas as que eu leio e comento e as que me lêem e sei quem são. Isto não tem nada de paternalista, notem. Poderá soar arrogante... Tampis! É assim que penso nelas: as minhas meninas dos blogues. As minhas meninas dos blogs são divertidas e, no fundo, sabem que isto são só blogs. As minhas queridas meninas dos blogs, não esquecem que isto são só blogs. Ou blogues. Com toda esta confusão acho que fiquei baralhado. Parece que há mesmo quem se leve demasiado a sério e esqueça que isto são só blogs. Tampis! As minhas meninas dos blogs não se deixam enganar. Isto são mesmo só blogs. Hoje, para todas as minhas meninas dos blogues, ode triunfal:
"Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome 
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais..."

PS ou Ante Scriptum - Um Post Scriptum

E viu Deus que era boa a luz. E vejo eu que tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. E vemos nós uma declaração de intenções que não confundimos com carta de recomendações. E vêem eles questões fraturantes que confundem com desafiantes. E vedes vós novas oportunidades, sentidos únicos ou vias sem saída. E tu tonho, que vês? Cerram-se-te os olhos quando ris. E Deus separou a luz das trevas. E nós separamos o lixo. Às vezes.


Arthur Tress. Flood Dream.

Se delirar é verbo qual o modo de delírio

O meu sonho é intersubjectivamente interveniente. Quando preterido desaparece. É coordenada efectiva do meu ser. É meramente afectivo. Há uma importância estruturante em si. Não passa de expectativa circunstancialmente desmentida. Permite navegar num mar de experiências por experimentar. Depende das margens de tolerância desse mar. O meu sonho é delírio na síntese de dois polos. Procuro a antítese. Evade-se-me a tese.


Vou e venho,
Vou e venho,
E o vento sempre a rolar-me,
E agora quero agarrar-me,
Lanço a mão a procurar-me,
E é só vento que apanho...
Sebastião da Gama

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Levar a carta a Garcia

Esta manhã ligaram da livraria do eci, informando da chegada da encomenda. Munido do canhoto, aproveitei uma pausa para ir buscar os livros que aguardava. Enquanto papagueava o número que me identifica como contribuidor-pagador: permite que lhe fale de um livro? Permito, qual livro? Permita que o vá buscar. Acho que ia gostar deste. Ai sim? Pois, como leva aquele ali... Levo este também. Leva? Sorri-se enquanto pergunta como quem afirma. Já ouviu falar? Não ouvi. Pode ir à internet ver. Vou fiar-me na sua palavra. Ah, responde como quem é elogiado. Lembrei-me, então, do texto de Elbert Hubbard a propósito da carta a Garcia. Do louvor ao Rowan, de quem ninguém ouve falar. A todos os Rowans ninguém. Da lição moral que tece o Hubbie. (Bom trabalho Rowanzitos.) Da que teço eu. (A uns o trabalho, a outros a fama.) Da que tecemos nós. (           )
A lição moral é como a água benta: cada um toma a que quer... desculpem a confusão, isso é a presunção.
 

terça-feira, 19 de maio de 2015

Certamente não terá sido um piropo

Vinha na A1 a velocidade constante, mercê do cruise control, aproveitando para responder a algumas chamadas perdidas. Uma calmaria só incomodada pelas ocasionais rajadas de vento. Apercebo-me de que já teria ultrapassado aquele ford fiesta preto algumas vezes. Talvez não. Mantenho velocidade constante. Sou ultrapassado pelo FF, que logo se esvai assim que se coloca à minha frente. Ultrapasso-o, sem nunca usar os pés. Velocidade constante, portanto. Olho pelo retrovisor. Uma miúda, que me ultrapassa, para se deixar abrandar logo que põe o carro à minha frente. Acho que só lhe faltava travar. Mantenho velocidade constante. Olho-a enquanto a ultrapasso. Sorri-me. Acelero, sem saber se ela quereria um aceno de mão ou uma buzinadela na traseira.

Calduços e patejar

Uma semana de violência no Mediterrâneo. Outra de violência juvenil. Mais uma semana de violência nas claques. E outra de violência policial. Assim se passam os meses. As "coisas" têm que ser divulgadas e o público tem o direito a saber. Fico eu sem saber onde ficam o dever de informar e o direito a ser esclarecido. Defeito meu, certamente, que as audiências demonstram esse contentamento de quem assente. Então e as políticas europeias adotadas? Claro que não se limitam a impedir o acesso a este novo mundo. Pois não? E a agilização no funcionamento das CPCJ? E a alteração dos programas de educação para a cidadania? E o reforço dos quadros das escolas com psicólogos e assistentes sociais? E, já agora, qual a sanção para os canais televisivos que passam incessantemente as violentas imagens, focando e identificando os menores, facilitando a sua estigmatização?
E a indignação? Por onde anda o nosso direito à indignação? Esse, que será um dos mais essenciais e nobres direitos de um povo em democracia...
E do Reino Unido só o nome da pequena? E o Egipto está longe? As eleições por cá ainda vêm longe? Ide morrer longe...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Voam as vitórias, demoram-se as derrotas

Em dias como o de hoje ocorre-me que talvez devesse agendar posts. Uma espécie de escrita em diferido, para quando não me é possível desdobrar em mais Outro Ente. Poderia servir umas citações requentadas. Recomendar uns vinhos. Partilhar umas fotos da Milu. Dispersar-me por temas mais ou menos inócuos...
Porém, o meu gosto é postar o agora. Mesmo que seja apenas o meu agora, mesmo que seja só o da minha memória, ainda que não passe de imaginação.
E, como sabeis, isto são só blogues.

domingo, 17 de maio de 2015

Da mulher no casamento

No Essay VIII - Of marriage and single life, Bacon revela o papel das mulheres no casamento: "wives are young men's mistresses; companion's for middle age; and old men's nurses".
O papel dos homens, neste contexto, não é objeto de referência.

Campeões


O fim é sempre princípio

Desorientada por uma verdade que sempre lhe escapava, transtornada pelo fulgor que só a ela hipnotizava, Ursa pôs-se a dançar, rodopiando e chocando todos os pirilampos do universo. Tomada pela vertigem, duvidou que pudesse regressar à carne o que perdera o coração para conservar a razão. Nesse instante fugaz em que a dúvida revelaria a verdade, em que o raio contaminaria a escuridão, Ursa compreendeu. Então, possessa, enganchou-se no remendo e, sem artimanhas, fundiu-se com Plutão.
Afinal, também este havia sido expulso...

Moral da estória: é dos censurados que elas gostam.

sábado, 16 de maio de 2015

Diálogo entre Ursa e Platão

Tenho sede.
Na verdade, também eu.
Onde está o leite que se fez creme na caçarola?
Na verdade, foi-se.
Foi-se com a Via Láctea?
Na verdade, não se foi assim.
Foi para selar o buraco que eu deixei...
Na verdade, não há buraco.
Aquele rasgão no céu estrelado onde cintilam ideias...
Na verdade, está escuro.
Mas, não vês a luz?
Não aldrabes a verdade.
Preocupas-me!

O romance de Ursa

Ursa, ansiando a fusão com Platão que expulso se afastara da caverna, voava como quem nada, sem saber se descia ou se subia, por entre o firmamento coado pela palavra espalhada, em direção à mesa decadente, que sem sobrevoar flutuava, onde a esperava Alice servindo o chá preto à viúva negra  e para si guardando a efervescência do champagne, que descendo ao centro subia à aura que respaldava o pensamento, impedindo-o de se ir borbulhando, até por fim seguir pelo estreito da alma ascendente que nunca ninguém vira, na esperança de também a ela nunca mais se ver. O que seria, evidentemente, uma perda demoníaca naquele vazio sem sal.
Apesar do temperamento encantador e terno, Ursa via como levianos e intranscendentes os diálogos mantidos com Platão, que aos demais cintilavam como carícias loucas, esgotantes da ignorância, e aos quais não sucumbiriam.
Beatífica,  com um espírito torturado, aturdida pelo feitiço do toque da claridade que sempre acordava o ardente desejo nascido de uma agitação longínqua e que se fazia momentaneamente presente, assolando subitamente, Ursa lamentou ser uma dessas estrelas que vivem nas bocas da multidão, mas nunca se viram refletidas no desejo de um homem.

(Haverá 2ª parte.)  

Reflexões que antecedem este post

Apetece-me escrever. Escreve sobre... Isso não. Mas a tua opinião... Porque não tenho opinião e não quero ter. Então e o dia da... Demasiado pessoal. Nesse caso, a reunião de... Demasiado aborrecido. Mas a cena da que em maio cobria as pernas com o visão e respondia, a quem atentava no casaco espalhado pelo chão, pode pisar que já está morto... Foi caricata, mas nem vou comentar. Os direitos das minorias... Hoje é sábado. O acordo... Está calor e alguém tem de tomar a dianteira e factos são factos e o desatino está nas palavras compostas, que nas letras mudas só muda o que há muito mudara e eu não sou tão avesso à mudança que não aceite que mudar mudamos todos e de valor é que sejam para melhor ou, pelo menos, que não sejam desvaliosas. Então, os livros infantis da senhora dona e do senhor tuca, tuca, tuca, mas que vida tão maluca... Passou-me a vontade de escrever.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Desafio aceite. Subamos a fasquia.

Milu em pontas, num bailado perfeito, ao mesmo tempo que canta a mui erudita área "a mim não me enganas tu" e a dramatiza com uma expressão facial épica que lhe valerá a distinção com a ordem das artes cadelas.

Para Cuca, a Pirata



Este é o Tonic. Não toca piano. Mas, a arfar ninguém o bate. Poderiam formar uma banda.

É favor chegarem à receção

Minhas senhoras que usuais soutiens: tende a bondade de atentar para que os mesmos não apareçam através das camisolas vincando a separação entre 2/3 inferiores e 1/3 superior - isto medições a olho, está visto -, aparecendo dois espalmados e dois libertos, aparentando 4 mamas.

É mútuo...


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Eh lá, assim não dá

Então, levam um tipo ao olivo dos candelabros e lustres e balaústres e estrelinhas douradas a piscar plim plim para depois o submeterem a um rito de iniciação à base de mistela esverdeada? É que nem com funil.

Quem disparou à lua? Cáspita.

Estilhaçou-a. Tantos pedaços que não sei contá-los. Toma este redondinho. Para ti. Vais ficar bom. Este brilha tanto, muito mais que todos os outros mil pedaços, não sei se serão tantos assim, talvez mais. Não vai apagar-se nunca. Nem depois. Acordei. Pelo menos parece que sim, tenho a sensação de ter estado a dormir no colo das tuas vontades embalado por ideais tão irreais que só poderiam ser louvados e esquecidos. Conheces o poder do absurdo? Aquele que te permite chegar a bom porto, por mais que andes perdido, bastando que seques o mar cálice a cálice? Vou ensinar-te o poder da fome. Ficarás a saber que quem não tem padrinho morre pagão. Continuarás a amar-me apesar disso. Vou perdoar-me por isso. Porque continuarás.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Só não me peças que não ria

Hoje acabaria a espera. Ocupámos tanto o entretanto que acho que esquecemos o tanto que esperávamos. Acho eu. Sem de que. Nunca tinha pensado nisto, mas agora que estamos aqui, acho que gosto da minha casa porque não tem corredores. Sinergia crua. Não te pego na mão. Lembro da mãe dizer "se pudesse trocava contigo". A cumplicidade deflagra nas premissas. Não precisas que te peguem na mão. Não esperava isto. É preciso arejar. Lembro o dia em que levantei a mão a dizer "olha que eu sou forte". Quer dizer, não lembro, mas tantas vezes mo repetiram que é como uma memória soprada. E tu ma seguraste firmemente "quem é forte" e eu "somos os dois". Tu, que te lembras, não esqueças. John Coltrane. Por que esperas? Já sabes que me rio.


Eu quero viver no castelo do Barba Azul

Ali entre Montmartre e Trastevere, junto ao Central Park West, servido pela estação de Komsomolskaya, com vista sobre a falésia e junto ao mar, ouvindo as lady birds, nas margens de um rio amarelo.
Eu quero viver na Rua dos Bobos nº 0.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Retrato da borga digo bloga


Não é preciso recorrer ao velho complicado que caducou, decrepitou e morreu e paz e descanso e sopas de galinha já não vale a pena e rip ainda estou para saber o que quer isto dizer. Além disso, todos sabem que no início eram os egípcios, aqueles dos hieróglifos que ensinaram os sumérios das somas a fazer letras de gente.
Revelo e relevo, que eu até sei a diferença, o mais fiel retrato da blogosfera, com o nome catita e impressionante - eu, pelo menos, acho, que me impressiono com pouco, até porque ainda nunca colhi flores no jardim suspenso nem apanhei secas e pó na biblioteca do Alex, que os ácaros fazem-me espirrar e eu cá é mais mergulhos quando me dá para passar por aquelas bandas - A árvore da vida.
Isto, está claro que são todos aves de arrivação (não há erro ortográfico, que a  palavra vem do arrivar francês e do arrivista bom português).
Poupo-vos a maçada do esforço intelectual facultando a cábula, até porque estamos em altura de ginasticar o templo que fomos atulhando e hoje é dia de descontãozão. E assim, sem mais demoras, tambores vai, já me sinto na arena, a legenda, que a papinha quer-se sem grumos, a uva sem grainha (Uva, és grande) e a cereja sem caroço, etc e tal que já chega:



Em cima, as superioras supervisoras que são as mais melhor boas com o rabo cheio de monogramas e olhar de quem não parte um prato.
De asas abertas, as espaventosas (aprendi esta palavra com o Ente e ainda não me esqueci que eu tenho esperto no cabeço) com casas imaculadas e refeições empratadas onde cabe tudo menos gente, modistas que não sabem pregar um botão, que exibem in fits e sonham ser a Lala ou até a Maria, mas sem pé não se dá coice e as asas são só para enfeitar, num pandã a contrastar com o segundo traço no olho a imitar as olheiras das festas em fatos cor de rosas murchas.
Logo abaixo as mamãs poedeiras de olhos pequenos derivados das noites, que o Estivil é mau, o lobo é mau, o tau-tau é mau, o biberão é mau e bom é o menino, o ranhinho do menino, beija-lhe o cuzinho, que até o xixizinho é santo, com a realização nos refegos e o desespero nos percentis, e nem que eu me mate que não lhe falta nada. De nada.
Os da crista alçada são os machos, esses alfas (lembram-se do ET? não é esse, é o willy) penteados em barbearias e em constantes disputas quanto ao tamanho do bico (ora reparem lá na imagem. Tenho razão? ó não que não tenho). São os maiores, os melhores e lá na sua rua são uns heróis. A fazer o quê, não sei, mas isto vai lá. Só não sei onde.
E, finalmente, numa milhentas vezes ensaiada pose jovial, presumindo camadas como a cebola (ora ide lá atentar novamente na pintura) querendo-se ricas e profundas como a vida, que se vai descascando camada a camada, as que podiam ser e os que tinham tudo para ser mas, faltando a graça divina, e porque já se sabe que vale mais cair em graça do que jograis, sabem, num saber de experiência e convicção feito, daqueles mesmo sintéticos e sem relativos, que o poeta escreveu para si. 

E tu? Ora, tu estás de fora a olhar o retrato, que isto aqui não há complicações de inversões encobertas. Mira! Mas mira bem...
 

Mundanal antropologia de uma prótese

Aparecia como ilusão tangível, agarrável, objectivável. E logo tranquilizadora, analgésica. E logo inconcludente, indefensável. Quedava-se entre a ignorância da doutrina do facto passado, o desconhecimento de Jacob Viner (brilhante na conclusão de ser a economia o que os economistas fazem) e a desconsideração dos tableaus économiques (todos eles, mesmo os que não se chamam assim e são antes princípios, lições, leis ad eternum e imutáveis, racionais e plebeias, num conhecimento sem classes nem deminutio). E assim a evidência de Quesnay, pelo menos parcial, é mesmo possível receber sem produzir.
A grandeza continua a residir no amor... muito amor próprio, que os poetas têm sempre razão. Mesmo sobre a "ridícula" "negação" da greve na Tap e o quanto eu gosto de cabeça(lho)s.

domingo, 10 de maio de 2015

Desconcertos a Cecília sem enquantos

Ver a beleza no pescoço tenso da jovem flautista e sentir-lhe as carícias dos dedos. Encanto. Ver o esforço no suor das têmporas do amish contrabaixista que se enrola nas suíças e sentir-lhe o treino. Todo. Ver a concentração no sobrolho franzido do violinista japonês e sentir que o mestre de shaolin se elevou. Inteiro. Ouvir Franz Von Suppé e cavalgar com Lucky Luke em direção ao pôr-do-sol. Só.
A emoção é uma experiência presencial. A experimentação da emoção distingue os que vão aos concertos daqueles que, sabendo a ciência toda, optam, invariavelmente, por ir dormir.


Quando os ídolos mais pecam

Hércules era um cãozarrão, setter irlandês de carvão, que viera para a herdade no início de um verão menino, prometendo ser caçador exímio, em chegando a setembro.
Afeiçoei-me tanto a ele, que sonhava ser o Hércules um Tim, que me perseguia até para casa, até para o colégio. E, sonhei tanto, que a mãe deixava de proibir cães em casa e Hércules se deitava aos pés de meus pés.
Findas as férias, o avô contava que Hércules era um safado. Fartando-se da jornada desaparecia por uns dias, voltando pimpão e esfaimado, abanando tanto a cauda, que dava a impressão de estar prestes a despegar-se e voar.
Estas fugas, eram acompanhadas pela falta de galinhas alardeada pela D. Maria Rita e seguidas de uma ou outra cadela cheia.
Um dia, o Dr. Teixeira confundira Hércules com um coelho e atirara a matar. Lembras-te quando, naquele dia, tu confundiste um coelho com uma raposa bebé e gritaste tanto que afugentaste a caça toda? Eu, envergonhado, lembrava-me e, encolhido, calava as perguntas, deixando morrer na garganta, afogadas com as lágrimas dos homens, as perguntas sobre a morte do meu cão. O Hércules era meu!

Anos mais tarde, soube que o avô afogava os cães e os gatos recém-nascidos, na ribeira ao fundo da herdade.   

Cowgirl

sábado, 9 de maio de 2015

O prometido é devido e a Milu debuta

Nos blogues, como na vida - uma graça de cena

Uma trupe de pavões bloggers, atrevidos e turbulentos, divertia-se com as partidas afáveis que pregava aos amigos da blogosfera.
Iam a caminho de mais uma tropelia, saltitando por entre as arrelias, quando o jovem todo esperto desafiou o mais vaidoso do bando: dizes que não perdes uma, mas o galito maldoso voltou a desafiar-te. Acho que não vai parar.
E logo se riu o pavão garboso que bem percebeu a provocação.
Sem perderem tempo, de gargalhada em gargalhada, num alarido desavergonhado, mergulharam num novo post.

Aos pavões brincalhões, basta-lhes a graça do galito a agitar-se, ele que diz não ter o hábito de se agitar, de cada vez que alguém tecla: vejo um pavão a divertir-se.

O banho de Milu


Milu, prestes a tornar-se A Diva deste nosso pedaço da blogosfera.
 

Mais logo, sem necessidade de aguardar pelo 11, a imagem completa, num campo de relva cortada.


 (A presente fotografia respeita a privacidade de Milu.)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Pelos cem olhos de Argos

Um sono iluminante na distância do símile e das controvérsias da manhã. Dar banho à Milu. A recusa das especiosas lucubrações remando com Othelo. Cortar a relva. Bookish theorie, mere prattle without practice. Folhear o expresso. Um vasto mundo de cem vielas secundárias. Correr com a Hara.
O cicerone do lugarejo das avenidas principais e do largo da igreja. Não faltar ao concerto. O prazer na mobilização em torno do Pintas do Douro. Almoço de domingo. Adormecer na ilha voadora. Perder-me na ilha voadora. Ser mais um lapuciano. Acordar na ilha voadora. Ser mais do que lapuciano.

Carisma da síntese


Quero gastar contigo todos os relógios.


                                            (Toni Frissell, My shadow)

Falcão

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Todos os dias são dias de champanhe

1001 noites, 40 ladrões, 3 irmãos, 1984 porcos, 1185 km esta semana, 4 paredes sólidas, 7 saias, 100 anos de solidão, 2 amantes, 808 e 707 a evitar, 6 amigos para toda a vida e mais além, 1995 incontornável, 1843 camisas à medida, 20 valores, 9 sinfonias, 1 barco sem vela, 10 da biblioteca de Babel, 0 pedras no sapato, 48 ou 54 anos do aniversariante... malditas esganiçadas que vão contando até sei lá quanto, eu que até dos meus me esqueço, se é para isso antes a invertida que termina sempre no zero e me poupa ao ámen depois do pai nosso rezado na missa. 235 segundos desde que comecei e continua a somar, como os anos sempre a mudar, nem sempre como os amores, que os números não são de fiar. Palavras manifestas. Sim. Muito. Infinito. Mais. Encore. Moi non plus.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Cabra Cega e questões de peso

Para quem gostou de Ivan Ilitch e só lhe lamentou a morte tão breve, recomendaria Roger Vailland. Não sendo um calhamaço, impõe respeito. É suficientemente conhecido e simultaneamente obscuro, pelo que não compromete. E é tão bom, mas tão bom, que o podemos abrir ao calhas e ler apenas meia dúzia de linhas para ficarmos inspirados até ao folhear seguinte.


"A sua única moral, mas que tinha sido a regra intransgressível de toda a sua vida, tinha sido guardar-se para uma tarefa que nunca tivera de cumprir. Cada vez que se achara a ponto de ficar completamente empenhado naquilo que sentia não ser essa tarefa essencial (que, finalmente, nunca tivera de realizar) tinha-se brusca e facilmente desembaraçado, como se livra um esgrimista bem nascido e treinado nas armas."


"Ele estava como morto. Sentia-se desprender, exactamente como se desligavam aquelas frágeis nuvens, quando o vento muito leve que as tinha feito entrar no horizonte meridional da janela e acentuava lentamente a curvatura do arco que desenhava no céu tendia, à medida que se aproximava do horizonte setentrional, a dissipa-las numa bruma dourada. Assim, tinha ele pensado sem angústia nem felicidade, como se fosse uma coisa para si próprio, assim, tinha pensado, é a morte, a minha morte. Mas se tu sentes a morte, é porque vives, ó homem!"
(in A Lei)

Vou levar como elogio

Senhora D. Eugénia entreabre a porta e diz-me a meia cabeça: "-Vou almoçar e chego mais tarde."
Apanhado numa bolha de concentração que pufou, confirmo com o pulso que estamos a meio da manhã. D. Eugénia costuma lembrar-me da hora da refeição apenas quando me esqueço e se faz tarde...
"-Ontem, a minha filha disse que a escolinha da 'licinha convidou as mães para o almoço. Por causa do dia da mãe, sabe? Mas ela não pode ir que ainda arranjava problemas no emprego. Eu disse logo que ia em vez dela."
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Poderia ser o mote para fazer a apologia de alguns princípios no emprego que prezo. Na falta de tempo, fico-me pela síntese: não sou polícia.

domingo, 3 de maio de 2015

O estranho caso da chave saltitona

Salta "maravilhosamente bem":

I - Calma com o Andor
II - Dúvidas cor de Rosa
III - A Mais Picante
IV - Mirone
V - Pasme-se quem Puder
VI - Uva-Passa
VII - Kiss and Makeup
VIII - Amor Autista
IX - TalqualmenteOutro
X - Linda
XI - Isto é assim
XII - A elasticidade do tempo
XIII - A vez de Maria
XIV - Teia de folhas de papel
XV - Imprópria para consumo
XVI- O que me dá na telha
XVII - Beijo Molhado
XVIII - Fatiferando
XIX - A miúda com pelo na venta
XX - Mustache
Trailer - Palmier Encoberto
Xilre

(O mistério do livro lançado por Palmier Encoberto lembrou-me o caso da chave iniciado por NM. Aqui ficam os link dos XIX capítulos já escritos. É caso para dizer que o caso está cada vez melhor.)

Presente

O amor não tem data marcada é tão verdade e, simultaneamente, tão cliché como as datas que o marcam. Tornou-se kitsch a celebração das datas marcadas. Seja! Continuarei a festejar as marcantes.
Hoje é dia da mãe. E nós, só nós que somos todos nós, acorremos à chamada inaudita.
Todos os dias são dias da mãe. São! Mas o primeiro domingo de Maio é especial. Fazêmo-lo especial. O orgulho de pertencer a uma trupe que responde sempre presente.
Lembro-me de quando éramos miúdos e queríamos oferecer qualquer coisa à mãe. Que prenda vais fazer para a mãe? A resposta oscilava entre o é segredo e o queres fazer comigo. A mãe incutira-nos o dever de fazer render os talentos ao mesmo tempo que nos descobrira dons que só ela via. Então, um fazia um desenho, outra ensaiava um teatro ou um desfile de moda em que todos éramos forçados a participar voluntariamente e eu escrevia um papelito.
Hoje, o caga-no-ninho pintou uma tela, a nariz-empinado fez arroz-doce e eu escrevi um papelito.
Não somos todos iguais. Os dias também não.

sábado, 2 de maio de 2015

O estranho caso do livro que lia o leitor V

I - Palmier Encoberto
II - Xilre
III - A contar vindo do céu
IV - O mundo da G.


O homem desaparecera. Mas, o leitor que não quer nunca como é, sem assombro, colheu a lente negra e atarrachou-a ao monóculo. Não reagiu o homem, que reconhecera ex ante naquela alma a insaciável tortura de sede de terror. Colocado o monóculo, com respeito pelas pestanas, o leitor sentiu-se um impostor pequeno, reconhecendo que o artigo fora feito à medida de quem lê sem medidas. Retomou o livro, encontrando o homem indiferente à devastação, virado a nordeste, de pé, mirando um painel forrado a seda negra, frente ao qual se destaca, sobre o jarrão azul debruado a ouro, a cabeça de carne inerte de uma mulher. Escovada, tisnada, esfolada, empoada, ressequida, com os berlindes dos olhos baços e carcomidos em periclitante equilíbrio, o nariz encovado a repuxar e a boca escancarada num sorriso podre de dentes muitos brancos. Quebrando o silêncio com sete passos graves, o homem regressou à secretária de pau-preto e virou a página do manuscrito, onde o leitor confirmou a escritura "não te satisfaz". Agoniou-se o leitor, vibrando-lhe as entranhas com o pavor insolente e atroz de quem quer como quer.  E virou a página: tem que haver mais qualquer coisa...

VI - À esquina da tecla
VII - Mirone
VIII - Cuca, a Pirata
IX - Pipoco Mais Salgado
X - Sonhos do tipo D

sexta-feira, 1 de maio de 2015

As estradas não são desertos

Ontem passou-se sem jazz. Não foi só a falta de um link ou comentário modesto. Foi mesmo a falta de vontade. Ontem apeteceu Madredeus. As pens são coisas fantásticas. Ainda melhores do que a caixa de 6 cd's. Não digo que tenha ido de fio a pavio, mas passei da porta da catedral, à vida boa, cruzando o electrónico. Às vezes penso na quantidade de música (de boa música, entenda-se) que há. Na imensidão que ainda não conheço. Talvez me falte, mesmo, conhecer a música da minha vida. Aquela inolvidável que marque. A que fique tatuada na ponta da língua, pronta a responder como a música preferida. Perguntas banais acerca de músicas ou livros, de cidades ou museus, de monumentos ou espetáculos, de amores ou conquistas, feitas em termos absolutos, deixam-me desconfortável. Prefiro os relativos. Este em vez daquele, o outro antes desse. Perco-me. Retomando: por vezes penso que deveria ouvir música, como leio. Repetindo muito raramente e apenas os meus eleitos. Porém, Sacrement será sempre condecorado. Mas, Francesca da Rimini nem sempre soa a traição. Por falar em traição (ou talvez não), hoje fui às compras. (Claro que a traição não foi o facto de eu ter ido às compras, isso foi apenas a exceção que caracteriza o sul e confirma a regra.) O templo do sol abrira como habitualmente. Sem greves nem promoções. Com burro de cabra, nozes do Chile e 5 jotas cortado por quem sabe. Recordo ter-me cruzado ali, junto aos balsâmicos, com Carvalhas que, coerentemente, já deixara de ser secretário-geral. Se estas sextas prolongadas não existissem, deveriam ser inventadas, ainda que sob as vestes de greves. Até porque, quem tem pressa vai andando, com cautela que os cães nascem cegos. Alguns.

Sem pressas

Dias claros. Palavras de sempre. Companhia dos nossos.
Só um barco no mar é urgente.