sábado, 2 de maio de 2015

O estranho caso do livro que lia o leitor V

I - Palmier Encoberto
II - Xilre
III - A contar vindo do céu
IV - O mundo da G.


O homem desaparecera. Mas, o leitor que não quer nunca como é, sem assombro, colheu a lente negra e atarrachou-a ao monóculo. Não reagiu o homem, que reconhecera ex ante naquela alma a insaciável tortura de sede de terror. Colocado o monóculo, com respeito pelas pestanas, o leitor sentiu-se um impostor pequeno, reconhecendo que o artigo fora feito à medida de quem lê sem medidas. Retomou o livro, encontrando o homem indiferente à devastação, virado a nordeste, de pé, mirando um painel forrado a seda negra, frente ao qual se destaca, sobre o jarrão azul debruado a ouro, a cabeça de carne inerte de uma mulher. Escovada, tisnada, esfolada, empoada, ressequida, com os berlindes dos olhos baços e carcomidos em periclitante equilíbrio, o nariz encovado a repuxar e a boca escancarada num sorriso podre de dentes muitos brancos. Quebrando o silêncio com sete passos graves, o homem regressou à secretária de pau-preto e virou a página do manuscrito, onde o leitor confirmou a escritura "não te satisfaz". Agoniou-se o leitor, vibrando-lhe as entranhas com o pavor insolente e atroz de quem quer como quer.  E virou a página: tem que haver mais qualquer coisa...

VI - À esquina da tecla
VII - Mirone
VIII - Cuca, a Pirata
IX - Pipoco Mais Salgado
X - Sonhos do tipo D

10 comentários:

  1. Há sempre mais qualquer coisa.

    (gostei de andar a saltar de blog em blog, fez-me recordar outros tempos...)

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  2. Querida Maria Moura,
    Conte-nos que mais há. Daremos um pulinho ao double m para descobrir.
    Um beijo,
    Outro Ente.

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  3. Jesus, Maria, José!! Há uma cabeça decepada de mulher na sala? E eu nem a vi?!

    :)

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    1. Cara G.,
      Será daquela cabeça que surgiu a caveira? Ou será apenas visível ao leitor que escolheu aquela lente? Ou estará o homem a levar o leitor a ver o que não existe, ficcionando os anseios deste? Ou o leitor viu apenas o que quis? Há? Não sei se houve?
      Pobre Luizinho com nome de patinho.
      Bons sonhos,
      Outro Ente.

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    2. Como ousa ironizar a humanidade que o meu pobre engenho tentou dar ao leitor? :)

      Boa noite, Ente.

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    3. Louvo o préstimo que lhe deu. Luizinho é sujeito de medos e lençóis. Entretanto até lhe deu uma tia. Espero que seja a Margarida. Luizinho é e será sempre, irmão de Zezinho e de Huguinho. A ironia foi toda sua, tal como o mérito.
      Beijos,
      Outro Ente.

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  4. Pois tem ! Tem sim! ....Mas o quê, por amor da santa, o quê???
    Vá, rápido que o arrepiozinho começa a desvanecer-se....

    ( Boa malha, Outro Ente :) )

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    1. Querida M D Roque,
      Seguir-se-ão risos ou choros?
      (Obrigado.)
      Beijo,
      Outro Ente

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  5. Tudo reside em virar a página... :)

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    1. E que boa arte a sua encontrámos na seguinte.
      Beijo,
      Outro Ente.

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