terça-feira, 26 de julho de 2016

Gambozinos de última geração

Começámos a sair para a rua, ao lusco-fusco, há quase uma semana. A voltinha, cada vez maior, é guiada alternadamente, ora por ele ora por ela. Sigo-os agarrando-lhes os colarinhos, para que não parem absortos no meio da estrada nem deem cabeçadas em postes ou tropeções em lancis. (Às vezes, lembro-me dos animais que abocanham as crias pelo cachaço e penso que essa seria a imagem acabada da nossa figura.) Rendo-me à pontaria dele e ao domínio das regras dela.
Entretanto, apanhámos 27 Pokemons - é certo que 13 são morcegos, mas se aparecem é para serem caçados e de nada adianta explicar a falta de interesse nos repetidos. O interesse deles é caçar! A adrenalina surge da vibração na sua mão assinalando a presença de outro ser. As bolas existem para ser usadas e poupar munições é conceito que lhes é alheio.
Ontem, eclodiu o primeiro ovo "ó que fofo" e só faltou pedirem para o dinossauro ir morar lá para casa. Também atingiram o almejado nível 5 e puderam, finalmente, entrar em ginásios. Porém, o seu mais forte com 113 não era competição para os que ali encontraram, com uma força de várias centenas e até milhares de pontos. Decidiram não sacrificar os seus bonecos "tão giros" e empenhar-se em fortalecê-los.
Com esta caça aos gambozinos já fomos ao cruzeiro, ao castelo e à biblioteca, a várias rotundas e a alguns painéis de azulejos, e já descansámos sentados nos bancos de uma avenida que diariamente atravessamos e onde nunca tínhamos estado. A sério.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Palavras simples ao fim do dia

Doce de tomate com pão de ló. Limonada com limões quentes e gelo. Apetece-me tanto um magnunzinho. Relva não tão verde. Vais regar? Também posso? Vens brincar?  Sou eu a marcar. És tu a apanhar. Que falteiro. Isso não vale. Já chega. Corre! Mais não. Quieta Milú! Bruta Hara. Ai, ai, são sempre a mesma coisa. Estava-se mesmo a ver. É uma ferida!, dói-dói é de bebés. Já leste esse também? Vou comer-te o umbigo. Não és capaz. Posso ficar só um bocadinho na tua cama, no mimo? Vá lá, vá lá, vá lá?! Papá. Amo-te muito.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Simulacros de morangueiros desconstruídos


De como quem vai à guerra dá e leva...

(A)Cedendo ao plágio - fim

Carta aos homens que nunca amei
Vim para Pirata para fugir aos homens que me bafejavam declarações de amor imbuídas de mau hálito. Neste navio ninguém cheira mal da boca e, parecendo que não, isso não é desprezível no aumento da minha qualidade de vida.
Nunca gostei de homens estagnados e de imaginação estéril que nem para movediças dunas serviria. Não os quero lá em casa vivendo um maniqueísmo simplista. Repugnam-me a dogmatização da vida, ainda que sob capa farisaica, a iluminada perfeição, feita da remissão de pecados, e a verdade absoluta, disfarçada de manto teórico.
Alguns dos homens que não amei ensaiaram escrever-me poemas e citar-me Borges, mas fiz-me de surda e disse-lhes que não sei ler.
Que me interessa quem conduz o carro, se neste navio que capitaneio aboli credos e crenças, etnias e intolerâncias e institui uma resolução maior de respeito pela diferença e apreço pelas divergências? Na caminhada amadora dos meus dias, repleta de dedicação, humildade e esforço, não é a glória que me compensa mas o lampejo da lua.
Escolhi apaixonar-me pelo mar, não para me tornar plácida sereia de candura e cauda cintilantes, mas para ser amante do infinito, profundo e imprevisível. Para poder ser errante sem nunca errar e poder cambiar o sentido da rota sem que, no fundo, nada mude. Sou menos andarilha do que me julgam, atracada à sereia que em mim também habita. E, consumo-me nesta luta titânica, sem saber o que será melhor escolher. Sei, porém, que a sereia está condenada a não ganhar. Pelo menos, enquanto não usar sapatos.
O mar não corre sempre. Às vezes, fixo-o a cinzel e escopo numa fantasia naufraga. Nesse instante, arrependo-me com um grito fugaz de raiva súbita pela falta de movimento. Então, retomam as ondas prenhes de silêncio e despertam as palavras num arrepio lento, em confidências que só eu escrevo, em canções que só eu danço.
Aos homens que não amei faltou o lampejo de um caminho desconhecido, feito corpo e sentimento. Faltou o talento do gesto, da vontade, do beijo. Faltou o êxtase do sonho cumprido. Os homens que não amei não souberam ser alento, alimento interior, essência do meu templo, sustento das palavras que reinvento, entusiasmo de algo mais do que procuro.
Não é que não compreenda a história dos meus desamores, é que ainda está longe de começar a minha história de amor.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

(A)Cedendo ao plágio II

penteio-me com um pente de marfim e casca de ovo. enquanto deixo os olhos vaguearem pelo espelho e fixo-me, nua, no sinal castanho que me diferencia a mama esquerda. os dentes ásperos, em contínuo movimento, entranham-se-me pelos cabelos adentro e percorre-me um frémito de prazer. se ao menos o Dantas me mordesse o lóbulo da orelha em vez de passar o tempo a segredar-me joies de merde. pelo espelho vejo o piaçaba de aço escovado que se esconde atrás do omnipresente aquecedor a óleo. ainda não é desta que pinto as unhas de cerejas. não gosto de envernizados, tratados, arrebitados, salamalecados. se o piaçaba fosse envernizado, refletiria o meu retrato como um espelho. seria tudo tão menos escatológico, se o passado soubesse ocupar o seu lugar, em vez de invadir o meu presente. não é me esteja a cagar, mas estou farta de apertos. hoje, vou sem soutien. 

(A)Cedendo ao plágio

Ontem, Macaquito relatava como tinha feito uma nova amiga, com quem passara a ir procurar caranguejos nas rochas:
- Ela é uma polonesa e não sabe falar português. Nem sequer sabe falar inglês...
- Macaquito, tu também não falas inglês.
- Mas eu sei gestos!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Teosofia

Não é preciso ter estado em Nice. Não é preciso ter memórias da cupidez feita no Negresco. Não é preciso ter fitado a Côte D'Azur com olhos clandestinos...
A exuberância da liberdade, da igualdade e da fraternidade não vêm em guias de viagem. Vivem-se em toda a parte. Numa festa de aldeia, na marina, num festival de verão, num concerto ao ar livre, no meio da multidão, num passeio solitário.
Chegam notícias de demónios de um deus que não conheço - imagens tão diferentes da cosmopolita Promenade que com vagar e paz calcorreei - e invade-me um sentimento de maresia, em jeito de catarse, para que o mundo não me morra de desumanidade.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O plágio não é só um problema, também é um crime


Há coisas que são e não poderiam não ser e outras que não são, mas vão sendo...
A apropriação de textos originais publicados em blogs é crime.
A apresentação desses textos como criação do agente é crime.
O plágio viola a individualidade.

À laia de fundamentação*, mas na verdade é só porque me apetece:
Artigo 12.º (Reconhecimento do direito de autor)
O direito de autor é reconhecido independentemente de registo, depósito ou qualquer outra formalidade.
Artigo 213.º (Regra geral)
O direito de autor e os direitos deste derivados adquirem-se independentemente de registo, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.
Artigo 196.º (Contrafacção)
1–Comete o crime de contrafacção quem utilizar, como sendo criação ou prestação sua, obra, prestação de artista, fonograma, videograma ou emissão de radiodifusão que seja mera reprodução total ou parcial de obra ou prestação alheia, divulgada ou não divulgada, ou por tal modo semelhante que não tenha individualidade própria.
2 – Se a reprodução referida no número anterior representar apenas parte ou fracção da obra ou prestação, só essa parte ou fracção se considera como contrafacção.
3 – Para que haja contrafacção não é essencial que a reprodução seja feita pelo mesmo processo que o original, com as mesmas dimensões ou com o mesmo formato.
4 – Não importam contrafacção:
a) A semelhança entre traduções, devidamente autorizadas, da mesma obra ou entre fotografias, desenhos, gravuras ou outra forma de representação do mesmo objecto, se, apesar das semelhanças decorrentes da identidade do objecto, cada uma das obras tiver individualidade própria;
b) A reprodução pela fotografia ou pela gravura efectuada só para o efeito de documentação da crítica artística.
*Todos do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.










quarta-feira, 13 de julho de 2016

Mental coach e blogs

Pipoco Mais Salgado está para Senhor Ministro assim como Susana Torres está para Eder?

Nem sempre acaba bem

Não somos tantos que não os conheça a todos. Alguns já cá estavam, outros foram trazidos por mim. São momentos bons, aqueles em que formamos equipa e acreditamos nas pessoas que escolhemos. Depois, vem a aprendizagem, a adaptação, o trabalho e, eventualmente, a rotina. Muitos nunca a sentem ou, pelo menos, não cedem. 
Prefiro recuperar um trabalhador a substituí-lo, ainda que isso implique "voltar ao início", explicar de novo, exigir as coisas pequenas que estavam pressupostas, voltar a formar, acompanhar de perto. Normalmente, consegue-se (re)motivar e recuperar um bom elemento para a equipa.
Porém, não é possível andar sempre em cima de uma pessoa, nem eu tenho feitio para polícia, nem ao trabalhador agradaria a vigilância constante...
Acaso tivesse sido mais polícia teria, agora, de ser menos carrasco?

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Com propriedade

Ontem, voltou a cantar o hino, de pé, com a mão no peito, muito compenetrado:
Heróis do mar, Nobre povo,
Nação valente e brutal...


Ainda não foi desta que o corrigi.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Outro Ente não declama poesia

Nem nunca ouviu as suas boas companhias fazê-lo.
Nem bebe gin tónico ao fim da tarde.
Mas, lê blogs que lhe agradam e pensa que gosta da pessoa que escreve.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Outro Ente vem a terra


Nuances

Uma das questões que nos tem ocupado o tempo de navegação, e sobre a qual eu e o meu irmão não chegámos a consenso, é esta:
Há sempre razões para viajar ou para viajar não são necessárias razões?

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Largar amarras

Lembro-me do princípio, vago e tempestuoso como todos os início. Desperto, de madrugada, com o soprar do vento e as velas inquietas. O sol que vejo nascer não será o sol do meu crepúsculo. Terminarei o dia onde não o comecei. Urge levantar a âncora. Anseio pelas velas desfraldadas. O leme pede direção, mude de rumo ou não. Sou cavaleiro de marés, alquimista dos tesouros do silêncio, cientista dos pensamentos que deixo para trás, pescador de ondas seladas na memória. A neblina desvanece-se. A espuma do oceano ilude uma fragilidade inexistente. É impossível apressar as ondas. Não demoro...


Partida