Um blogue delico-cool, onde o tal e o outro dão graças por não saberem que não sabem o que não sabem.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Carta de J. Eustáquio de Andrada
Magdalen College, 27 de Janeiro de 2016
Meu muito estimado Xilre,
Escrevo-lhe no azul cobalto da S. T. Dupont com que me caracterizou, ainda da faculdade de literatura portuguesa onde rejo e antevendo já o meu naufrágio em Positano.
Apud Nietsche sabemos que o homem de qualidade se sente obrigado quer à ação quer ao suicídio, numa sucessão de compromissos e descompromissos que se engendram, sendo nesse próprio movimento, que ora o obriga a comprometer-se, ora a descomprometer-se, que reside a sua qualidade.
Pois que me chegam novas do abandono lá do seu hebdomadário das internetes, com que não posso deixar de me congratular, visto que o demarcam do Carlitos da Maia e o irmanam com o super-homem. Malgrado, porém, mostrou-me Orchidée no seu Snapshot que o Pauvre J. trocara o café de Dona Aldina pelo coffeeshop estilo holandês do Saraiva que lhe serve cariocas de limão e jornais onde ele próprio escreve.
Vendo o incómodo que me causara, Orchidée fechou os olhos acusadores e desfaleceu, deixando-me só com as suculentas.
Na verdade, reconheço que sempre preferi aletheia a veritas. Mas, talvez esteja na hora de abraçar emunah e regressar àquele seu botequim enquanto jovem.
Deste que o estima e considera,
J. Eustáquio de Andrada (em versão de Outro Ente).
Cada um sabe de si
Circular na 2ª Circular sem nunca ter ultrapassado na 1ª Circular é como ir para a prisão sem passar na casa da partida e sem receber dois contos? Vale mais um pássaro na mão é a definição popular do síndrome da abstinência? É preciso viajar para Lisboa no comboio noturno para ler Um Ourives das Palavras? O sucesso é menos importante do que um vestido bonito? É perigoso contrariar a nossa natureza? É arriscado contrariar Agustina? As gaivotas da marginal terão cuidado com os degraus? O conhecimento será convexo e o pensamento côncavo? Se o génio não é alegoria fatal porque se insiste em castrar as flores? O Snoopy cheira a cão? Será necessário o rio para justificar a ponte? Será que voltam?
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Cozido à portuguesa
Se conduziu sem cinto, se acelerou com o pé esquerdo, se estacionou em contravenção, são questões que ocupam as redes sociais. Independentemente da diversidade de afinidades políticas, a noção de que as regras são para cumprir e a afirmação da igualdade perante a lei avultam nos comentários. E isso, parecendo que não, é um valioso espelho de civismo.
ComicsTrips
Amar para sempre é o absoluto de quem se vê no futuro. Eu tenho uma noção inexata dos serões projetados e não consigo imaginar algo que, por gosto, frequentasse a vida inteira. Há quem escreva gestos quotidianos concretos e ignore que a vida é um espetáculo abstrato. Podendo, escolho escrever-me livre, ainda que seja apenas para satisfazer vontades intelectuais em conversações de trocadilhos idiotas, assim vencendo o vício de frequentar o salão de cerimónias dos verdadeiros intelectuais. Não sei como aqui vim parar. Garanto que articular um manual de maneiras não está nos meus horizontes. A despropósito, as coisas mais vulgares podem tornar-se moda e, logo, passar por distintas. O que não lhes altera a natureza e depende apenas do gosto coletivo da ocasião fortalecido pelo ensejo individual de se sentir participante... ou não depende de nada e circunscreve-se à imitação de hábitos. Na revolta contra os dogmas a energia vital há-de ser intrínseca. Os salamaleques desvirtuam o pregador num padreco. Uma chanfrada é uma chanfrada. Há silêncios que não são erudição nem consentimento, apenas ignorância. Quem vai ao baile nos Saint-Cloud mas não passa pela porta direita da escadaria D nunca saberá o que é gozar em Combray. Ainda assim, há quem se ache preso no quarto a ver as vistas, resignado com a auto-imposta imagem de prestígio social, amarrado a maçadas suportáveis. Há quem vá por toda a parte.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Propositadamente vago
Há tempos, li algures que uma senhora dona de um blog teria dito qualquer coisa com o sentido de "tudo o que lhe acontecia no dia a dia era matéria de posts". Comigo é mais o contrário.
(Herbert List)
Trilhos
Este sábado foi dia de aventura, com trekking, orientação, slide e escalada, organizado pelo colégio e aberto a todos os alunos e pais. À chamada, responderam mais de três dezenas de crianças e quase uma vintena de pais. Entre eles, apenas uma aluna e duas mães. Há caminhos difíceis...
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Das agências de blogs e pouco mais
Os bloggers nascem iguais. Iguais a si próprios! Deixem-nos ser astutos empresários ou jovens agricultores que "consideram de que" e estão sempre "há espera". Deixem-nos continuar a repetir ternas frases nascidas de maligna obsessão com a consistência de uma publicidade sem objeto. Deixem-nos preferir o êxtase inchado à lucidez vazia. Ó dentaduras. Ó próteses. Ó vícios espetaculares. Ó ganha-pão. Ó manhas saloias. Ó labregos. Ó lagartixas. Ó agências de pechisbeque. Quereis colar marionetas com cuspo e transformá-las no coelho de peluche? Exilo-me em ilhas de tabaco na região de Cognac e bebo, mas não esqueço. No charco da galinha dos ovos de ouro chafurdam Cornélias e osgas que se creem crocodilos do Nilo. Pelo batom vermelho. Pelo cheiro a verniz. Pela catapulta do pudor. Pelo colchão deformado. Pelas mamas de Nut. Pelo nada impulsor. Pelos cães amestrados do universo. Pelos peixes malcheirosos dos mercados. Pelos martelos de orelhas. A energia erótica das autoestradas dos looks parece interminável. Já ninguém corta a barba no barbeiro. Nem eu. Nem os ascetas. Temos isso comum. Deixem-nos ser como são. Talvez a proeza resida num paradoxo em que 5 = 0. Talvez não. Talvez a estratégia da inimputabilidade extermine a imputabilidade. Talvez a potencie. As profecias são imbecis. As moralidades ocupam as horas vagas. As interpretações são absurdas. Embora, não mais do que o cenário de cadeiras podres dispostas e trajes de nobres esfarrapados empilhados a um canto. Ou somos todos imputáveis e vamos ao Ritz ver Fellini. Ou somos todos inimputáveis e medimos a genialidade pelo tamanho das olheiras. Abaixo as agências de blogs que perpetuam um simulacro de evolução, que prometem conduzir aos Shrines e desembocam em templos de gargalhadas despudoradas. Viva a identidade de quem nem ao espelho se reconhece. Viva a tagarelice de Fernão Mendes. Viva o Amor com H. (e U.)
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
A falar é que a gente se entende
Ainda que pretendam apenas regurgitar ideias requentadas, aprendam a comer. Mesmo que não vos seja dada a oportunidade de vomitar em horário nobre. Especialmente se for.
"Post escrito em parceria com a Agência de Comunicação"
"Post escrito em parceria com a Agência de Comunicação"
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Medina nem sempre é capital
Medina chegou para o debate. Tinha andado a pensar numa coisa e precisava de a discutir. O Medina, que é adversário de longa data, é antes de mais e sobretudo amigo de infância. Digladiamo-nos frequentemente a propósito e a despropósito. É interlocutor de palavras viscerais e interveniente em intermináveis conversas. Apreciador de Porto, bastam-lhe dois dedos para um bom serão. Nunca o ouvi entaramelado nem o vi toldado. Possuidor de um invejável conhecimento livresco e de raciocínio rápido e sagaz, é, por vezes, apenas parvo. Mas, dizia eu, chegou Medina em boa hora, visto que o sporting acabara de perder e o debate de começar... O Estado avalia as famílias que pretendem adotar, não é assim? Sim... E só permite a adoção por quem reúne condições? Sim... E, como dizes, todos nascemos iguais em direitos e deveres? Sim... Então, as pessoas deveriam ter de pedir autorização ao Estado para terem filhos! E começou o debate...
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Basado neste arrazoado recorrente impetra a reforma...
"Na burundanga em que se desdobra o aranzel recursivo do recorrente – repete de forma “pregnante”, percuciente e ad nauseam as mesmas galimatias dobando e escarchando um fastidioso e entediante ror de inanidades parecendo querer desafiar a inteligência de quem julga pela iteração alusiva e desaforada das mesmas razões, de facto e de direito – o recorrente pede que seja decretada a nulidade do acórdão recorrido por ter existido um pacto simulatório entre o recorrente e o recorrido, com a intenção de prejudicar a Autora."
Acórdão do STJ de 20/10/2015
Muitos são os países onde as decisões judiciais principiam "Nós, em nome do povo, decidimos que...". Inexiste tal hábito entre nós... Por cá, decida-se ou não em nome do povo, notório é que ninguém se lhe dirige.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Repto às sabinas
Vem comigo. Vamos filmar o grande filme do silêncio. Vem ver Toledo e descobre o grego. Anda, deixa de devorar livros. Deixa-te devorar pelos livros. Lê Pamuk. Rebela-te com Ravel. Solta o cabelo. Não faças caras. Não ligues às caras dos outros. Corre. Faz de conta que é Innsbruck. Não faças contas. Se trautear je suis desolé, ri-te. Não diminuas os prefácios. Nem os prelúdios. Pede-me canções sem palavras. Só se as souberes ouvir. Desenha-me linhas herméticas, impossíveis, metafísicas. Sê paciente, todas as minhas linhas são abertas. Dá colo ao gato Barbieri. Não desdenhes da minha dificuldade em decidir entre Rémy Martin e Henessy. Se disseres que é tudo a mesma coisa, vou saber que nunca escutaste a 9ª Sinfonia dirigida por Furtwängler. Troca Ginseng por Ginsberg. Sorri com as minhas noites chez Maud. Não me asfixies com as análises de Derrida. Ensina-me o arco-íris de Mark Rothko. Não peças desculpa por seres bela. Aprecia o ninguém de Ulisses e não desprezes o do romeiro. Excita-me com os teus diários do desassossego. Arrisca uma estória sem dia seguinte. Vem comigo!
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Não é bem isto
No bolso do bibe encardido o lápis colou-se à pastilha. As pessoas que não dizem nada de jeito demoram-se tanto a conversar. Num silo com escada em caracol vive-se muito devagar. O palhaço pobre tem tempo de sobra e cheira a perfume de mulher. Está um papagaio de óculos de sol na missa. Na casa mais feia do mundo o quarto de banho não tem janelas. O motorista é lento para não passar muito tempo à espera. A gaveta dos talheres não tem sítio para as colheres de café, falta-lhe um espaço minúsculo. Não sei se sonhei, se inventei, se vivi repetidas vezes. Não quero dizer nada. Às vezes, só quero não desaprender a falar.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Obituário dos tempos modernos
Eu, que não deprecio David Bowie, venho comunicar que Ella e Louis também já morreram.
(Tempos houve, em que apelaria às pessoas da rádio. Hoje em dia, dirijo-me aos postadores do facebook.)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Ensaio fora-de-horas
Comecei a usar agenda quando comecei a precisar de a usar. Estávamos quase na Páscoa daquele ano. Lembro-me de estar sozinho quando comprei a minha primeira agenda e do que me custou comprá-la. Foi como se, com aquele ato, abdicasse de uma parte de mim; como se abrisse mão de parte importante da minha liberdade; como se assumisse um compromisso que nada tinha a ver com as obrigações ali apontadas; como se dissesse aos outros que não ia a lado nenhum e que, portanto, podiam contar comigo. Na altura, com a idade, os ideais, o ritmo de vida e as solicitações que eu tinha, foi como se tivesse sido preso por mão própria. Depois disso, a agenda ainda andou uns tempos no lugar do morto, embrulhada, até que me resolvi a levá-la para os escritórios e a colocá-la sobre a minha secretária.
No dia em que a abri para inaugurar os agendamentos, encontrei a frase de Saramago escrita na página de rosto, em caligrafia do pai e a tinta permanente: "Não tenhamos pressa mas não percamos tempo".
Desde então, todos os anos escrevo uma frase na página de rosto da agenda que nunca mais deixei de usar. Às vezes, só encontro a frase certa quando o ano vai a mais de meio. Outras vezes, em dezembro já sei como inaugurar janeiro. A agenda de 2015 abre com Goethe "O que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre". A Agenda de 2016 ainda só tem apontadas as obrigações.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Missão: Atravessar Janeiro
Armas de defesa pessoal:
Assinalar na agenda nova os compromissos importantes como o corta-mato <10, o aniversário de Mifá e o dia dos namorados. Assegurar lareiras acesas, serões longos, boa comida e a melhor companhia. Selecionar os desafios e aceitar alguns convites. Preparar a apresentação e não esquecer as luvas. Planear as viagens do ano. Sobreviver aos fins de semana que se avizinham. Descobrir os melhores lugares com vista para os teus olhos. Fazer a lista dos livros a ler e a dos filmes a ver. Acreditar no que dizem os horóscopos favoráveis. Construir um castelo. Ir riscando o que não interessa.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Reis
- Porque andaste à luta, hoje?
- Porque eu acabei a coroa dos reis primeiro e disse "eu sou o primeiro rei de Portugal"... e o Henrique disse que o primeiro rei era ele.
- Porque eu acabei a coroa dos reis primeiro e disse "eu sou o primeiro rei de Portugal"... e o Henrique disse que o primeiro rei era ele.
Será o espírito do Ano Novo a falar comigo?
Há pouco, dirigi-me ao parque de estacionamento e verifiquei que um carro atravessado na zona de passagem me impedia a saída. (Mau!) Ao aproximar-me, dei conta de uma senhora que sorria dentro do carro atravessado. (Menos mau!) A senhora saiu do seu carro atravessado, aproximou-se e, efusivamente, cumprimentou-me com dois beijos. (WTF) Perguntou-me pelo irmão e pela mana, falou da sua mui bem-sucedida filha que "lá" (?) está, das suas viagens que agora é que é tempo de aproveitar e despediu-se com um repenicado beijo (A sério?) pedindo "dê cumprimentos meus à mãe". Darei! Só não sei de quem...
Sobretudo as sem sal
As que já estavam mesmo a ver. As que tomam o caju por cor. As fernandas que namoram. As virgens ofendidas e as dos pés de barro. As que dão pernas longuíssimas a ideias curtíssimas. As que não bebem. Nem comem. As donas da verdade. As que nunca têm culpa. As que prendem o burro e as que não se calam. As que se armam em engraçadinhas. As que falam alto e disfarçam o riso. As que não ouvem. As que não sabem o que querem. As que querem o que eu quiser. As que fazem olhos de carneiro mal morto e as que matutam na morte da bezerra. As que estão sozinhas porque os homens não gostam de mulheres inteligentes. As sempre em festa. As que não gostam de sair de casa e as que nunca estão em casa. As que não percebem. As que não querem perceber.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A minha caixa de comentários é a melhor
A vaca Mu-Mu não é louca
É só um pouco chanfrada
A vaca Mu-Mu está em fuga
Porque enjoa na estrada.
A vaca Mu-Mu é portuga
Em Portugal registada,
Mas teve que ir à farmácia
Por causa da varicela
Que contraiu na Dalmácia.
Em picanha queriam vê-la
Lá prás bandas de Zurique
Mas a Mu-Mu é chique
E embora não saiba porquê
Troca o chocalho em ouro
Do barco pirata o tesouro
Pelo carro da Palmier,
Sai directa no blogomundo
Surfando na malibu
Pelo Pipoco mais Salgado
E a prancha não vai ao fundo
Mas entra num tubarão
Que a guardou no porão
Porque o assunto era quente,
E devia ser abafado
Até apurar a razão,
Com a ana de vigia
Que já preparava o dente
Para lhe comer uma fatia,
Encontra o Ourto Ente
Que a desenha à maneira
E a põe a caminho
Da praia da Ericeira,
Onde a Susana a esperava
Com o seu bloco de notas
E que por nada a trocava
Mesmo por muito dinheiro,
Não fosse a Cuca pirata
Aparecer com o cozinheiro
Que prometeu que a preparava
Como se fosse um petisco
Para a mesa da flor
Que alegremente jantava
Com o conde de Trovisco.
A teresa não aparecia
Porque esperava na eira
Pela sua Mu-Mu sagrada
Que tinha sido raptada
E mais parecia uma artista,
Em digressão pelo mundo.
Quando apareceu a surfista
Que a rum tresandava
Chamou-lhe sua arrivista
E foi assim que o vacum
Voltou ao seu paradeiro
No alentejo profundo.
Fim?
Brilhante Comentário/Poema de Teresa Borges do Canto.
(Concedo que "isto são só blogs", proclamo que isto é a antítese de só.)
É só um pouco chanfrada
A vaca Mu-Mu está em fuga
Porque enjoa na estrada.
A vaca Mu-Mu é portuga
Em Portugal registada,
Mas teve que ir à farmácia
Por causa da varicela
Que contraiu na Dalmácia.
Em picanha queriam vê-la
Lá prás bandas de Zurique
Mas a Mu-Mu é chique
E embora não saiba porquê
Troca o chocalho em ouro
Do barco pirata o tesouro
Pelo carro da Palmier,
Sai directa no blogomundo
Surfando na malibu
Pelo Pipoco mais Salgado
E a prancha não vai ao fundo
Mas entra num tubarão
Que a guardou no porão
Porque o assunto era quente,
E devia ser abafado
Até apurar a razão,
Com a ana de vigia
Que já preparava o dente
Para lhe comer uma fatia,
Encontra o Ourto Ente
Que a desenha à maneira
E a põe a caminho
Da praia da Ericeira,
Onde a Susana a esperava
Com o seu bloco de notas
E que por nada a trocava
Mesmo por muito dinheiro,
Não fosse a Cuca pirata
Aparecer com o cozinheiro
Que prometeu que a preparava
Como se fosse um petisco
Para a mesa da flor
Que alegremente jantava
Com o conde de Trovisco.
A teresa não aparecia
Porque esperava na eira
Pela sua Mu-Mu sagrada
Que tinha sido raptada
E mais parecia uma artista,
Em digressão pelo mundo.
Quando apareceu a surfista
Que a rum tresandava
Chamou-lhe sua arrivista
E foi assim que o vacum
Voltou ao seu paradeiro
No alentejo profundo.
Fim?
Brilhante Comentário/Poema de Teresa Borges do Canto.
(Concedo que "isto são só blogs", proclamo que isto é a antítese de só.)
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Sabes que andas demasiado simpático
Quando recebes um convite dirigido à "querida amiga" senhora tua mãe, enviado por uma seguramente(?) "querida amiga" senhora remetente que, não dispondo do email da destinatária, se sentiu à-vontade para fazer de ti pombo-correio.
Inferência sobre as diferenças entre os homens e as mulheres
Ele dorme com pijama de algodão, em lençóis de algodão e com um edredão médio. Ao deitar pergunta invariavelmente: "Papá, podes puxar um bocadinho para baixo?", assegurando que nada lhe roça o pescoço.
Ela dorme com um pijama polar, em lençóis de flanela e com dois edredões quentes. Ao deitar pergunta invariavelmente: "Papá, podes aconchegar-me?", assegurando que só o nariz e um emaranhado de cabelos ficam de fora.
(Considerando que ainda estamos numa época de boa-vontade em que se distingue entre ter e ser, não vou concluir que as mulheres são mais frias. Apenas que têm mais frio.)
domingo, 3 de janeiro de 2016
Resoluções de ano novo
A rotação começou. Leva-nos a todos. Aos que querem ir e aos que fazem de tudo para não ir. Aos de ribaTejo e aos de alémTejo e aos que não têm Tejo. Há quem tenha pressa em chegar e quem ande para trás. Há quem preferisse não ter partido e quem nem dê pela rotação. Há quem tente contrariar o movimento e quem se embebede dele. A rotação começou e é inexorável. E absoluta. E universal. Ninguém escolhe entrar a bordo e ninguém paga bilhete. Ninguém viaja sozinho e ninguém fica de fora. Mesmo os que vão sós e os que não chegam ao fim, não lhe conseguem escapar. Vamos todos. Alguns aproveitam para conviver, outros para se isolar, alguns sorriem a desconhecidos, outros abrigam-se em herméticas construções nem sempre hermenêuticas. Há quem se inquiete com sobressaltos e quem se aquiete com o movimento. Há quem aproveite a rotação e quem se revolte contra a sua indiferença. Há quem sofra com a rotação e quem se fixe nela. Há quem coma pão com manteiga e quem pronuncie nomes cagões sem saber o que come. Há quem adormeça a ver televisão e quem se deite na cama. Há selvagens e anjos e profetas loucos. Há amigas e solitários. Há quem aprecie as vistas e quem não queira ver nada. Há quem colecione porcelanas e quem aposte em cavalos. Há quem fale dos velhos tempos e quem anseie os luxos do futuro. Alguns pintam, outros cruzam as pernas, alguns tomam banho, outros discutem, alguns voltam à vaca fria e outros dão banho ao cão. Há quem toque Chopin, quem valse o Danúbio Azul e quem abra uma lata de atum. Alguns têm vontade de rir e outros de se tornar outra coisa qualquer. Desligam-se luzes, cerram-se cortinas, sobem-se elevadores, percorrem-se corredores, enchem-se sacos de compras, beijam-se tornozelos, despem-se vestidos vermelhos, quebram-se copos novos e confianças velhas. A rotação prossegue, inexorável, absoluta e universal...
Igual a uns e a outros, desejo observar tudo, mesmo o que está fora da rotação, mesmo que fora dela não esteja mais nada. Observo-me. Proponho-me viajar como gostaria de viajar. Mesmo que ninguém veja.
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