terça-feira, 30 de junho de 2015

Nunca poderei ser um intelectual a sério

Gosto de mulheres demasiado bonitas.



Os indigentes famintos

Quereis saber o que comi ao pequeno-almoço? Clicai aqui. O meu almoço? Foi aqui. Para o jantar? É ver aqui. E os lanches? São sempre aqui. Eu não lancho. Eu snacko aqui. E eu também bruncho aqui. Clicai e vede como sou tratadinho, aqui. Eu como os melhores caracóis ranhosos aqui. Eu alimento as redes sociais. Eu estou em todas, aqui, aqui, aqui, aqui e até ali. Eu agonio com os caracóis. Vejam como vomito aqui. Eu delicio-me com sushi peçonhento aqui. Eu devoro likes. Eu deliro com partilhas. Eu existo para ser li(n)kado. Eu como para existir aqui. Eu sou imortal aqui. Eu imortalizo o que como aqui. Mesmo quando for pelo cano de esgoto abaixo, o que como continuará aqui vivo, nesta nuvem etérea que me sustenta. Razão tinha a minha mãe: o meu cocó é santo. Aqui.

(Romina Ressia)


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cismas efémeros, pesadelos revisitados num segundo a mais

Passeio de olhos fechados. Deixo expandir-se o pensamento, pelo reflexo dos olhos, para além da imagem. Caminho rumo ao prazer único do seu perfil que exalça supremacia. Tropeço no matiz dos lábios entreabertos... prestes a revelar que me perdi na ilusão de uma suserana desprovida de afetos.

Aproveito o segundo 60 para reler Eça: "o dever da mulher era primeiro ser bela, e depois ser estúpida... (...)  A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar bem.".

Desejos exorbitantes

Anda com elegância. Se não for ocasião para stiletto, escolhe sapatilhas. Não vaciles.
Fala comigo. Só para mim. Se não tens o timbre de Juliette Greco, não imites.
Ri-te quando te contar peripécias. Se não tas contar, não amues.
Se te fizer um convite, aceita. Não perguntes para quando. É sempre para já.
Veste-te para mim. Não esqueças que é a ti que vestes.
Olha-me nos olhos. Deixa-me olhar-te toda. Não desvies o olhar.

domingo, 28 de junho de 2015

Parergas e Paralipomenas, os outros podem esperar

Será o orgulho um vício ou uma virtude? O único dicionário que vale a pena é o de Voltaire. O almejar de uma sociedade melhor implica, necessariamente, a igualdade absoluta? Assim se constrói a Torre de Babel ou a queda de Ícaro? A união erradicará o desigual ou tratá-lo-á como igual? Temos todos os mesmos sonhos? Amamos uniformemente a Vista de Delft? A integração económica é demasiada ou insuficiente? Esquecemos o entrosamento social? Este é indispensável ou impossível? Ou será indesejável para alguns, como uma música dodecafónica? Vejo-me grego.
Bem sei que a forma de evitar que a criança caia ou se afaste é levá-la às cavalitas. Contudo, ficará também impedida de correr atrás dos pombos. Porque é o meu destino mais importante do que o seu chafariz? Acudi, sobrinho de Rameau. A cegueira é um vício? Qual o seu reverso? Alexandre Bogdanov e sua Proletkult resolviam-no? Assim, entraremos em ciclos viciosos conducentes a non liquet? Será esse nada uma forma de preguiça? Vejo-me grego.
Sem respostas, mantenho, porém, a desconfiança perante os que, de olhos postos num objetivo e alheios ao percurso, falam para baixo, abanando a cabeça após cada ditame, com audível fecho de epiglote marcando pontos finais que parecem não acabar.   
Ainda que se vivam períodos intermédios da história, equiparáveis aos do Antigo Egito, para les uns, as férias são en Provence...

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Frase do dia

Aguardava, entre as gentes, o vaporetto que se aproximava apinhado de turistas. A meu lado, uma dogeza, antecipando a sobrelotação ou a espera por outra maré, vociferou: "porca miseria!".

Convenço-me de que o mundo é finito quando só me apetece repetir






Afinal, constato que tudo é inacabado e infinito.




Sempre me foi cara esta erma colina
e esta sebe, que por toda a parte
do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentando e admirando, intermináveis
espaços para lá dela e sobre-humanos
silêncios, e profundíssima quietude
eu no pensamento me finjo; onde por pouco
o coração não me amedronta. E como o vento
ouço sussurrar entre estas plantas, eu aquele
infinito silêncio a essa voz
vou comparando: e me sobrevém o eterno
e as mortas estações e a presente
e viva, e o som dela. Assim entre esta
imensidão se afoga o pensamento meu;
e o naufragar é-me doce nesse mar.

(El Infinito, Giacomo Leopardi)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Entscheidungen, so viele Entscheidungen


Os ghost busters em versão pelotão anti-headers-voodoo

Uma equipa de especialistas e professores, anónimos e curiosos, Jorges e Gorettis, habituais e avantesmas, tapadinhos e descascadas, juntou-se na protecção da blogo-sociedade, que terá sido colocada em perigo por quem jurara protegê-la. Apesar dos equipamentos e de bebermos os iogurtes da bolha, não sei até quando conseguiremos aguentar... May the flights be on time!

Um post sério ou ecos de liberdade dos blogs

Os que me lêem sabem que tento pensar o menos possível, com receio de apanhar uma encefalopatia. Porém, em (des)virtude do voodoo que nos assola - só pode - dou por mim a escrever estas linhas, como se sentisse a tardia necessidade de responder a certo Eco que jamais as lerá.

Os meios de comunicação social ditos tradicionais comunicam periodicamente acontecimentos e dados tecnicamente considerados convenientes ao conhecimento público, à luz de um critério de honradez que determina a publicação de todas as notícias "que vale a pena imprimir".
Esse poder absoluto de divulgar ou suprimir foi abolido com uma "rede em linha". Existe agora a possibilidade de aceder a factos e opiniões que, de outro modo, seriam dados a conhecer na medida e com a forma como "os do momento" considerassem adequado.
Muito embora a prática raramente corresponda à teoria, a liberdade de expressão protege, essencialmente, o interesse universal no acesso a informações e discussões, sem monopolizações ou censuras, simpáticas ou virtuais.
Num reino com poucas leis e limitações tremendas à proteção e à responsabilização será necessário zelar para impedir que as oligarquias disponham do poder absoluto de suprimir vozes dissonantes.
É demasiado frequente a equiparação do bem aos interesses dos que podem e mandam... silenciar.


(Norman Parkinson)


terça-feira, 23 de junho de 2015

Não sei se lhe chame desgosto, se desabafo

Não tenho qualquer interesse nas alças de soutiens que não pretendo desapertar. Intriga-me a insistência feminina em exibi-las. Eu, apesar de não perceber nada de moda, digo-vos com honestidade: é feio. Na rua, coloca-vos mal. Nos meus escritórios, coloca-vos na rua.

Sugestões para férias

Vivem-se momentos fundamentais na decisão do destino estival que, as mais das vezes, é eleito com base em relações precárias e razões arbitrárias. Deparo-me com a necessidade de salvaguardar a autonomia pessoal singularmente inucleada em cada um de vós e, concomitantemente, a responsabilidade social de todos.
Antecipando a relevância da aurora,  boreal ou talvez não, nas vossas férias e exercendo as funções de tutela e garantia dos vossos desejos como só eu sei,  fecharei o triângulo das Bermudas e entregar-vos-ei, de mão beijada (a vossa, por mim, evidentemente), o código de acesso ao estatuto de veraneante que almejais.
Este Ente, ser atuante e dinâmico com mais de 700 anos de viagens, dono de um programa estratégico de acumulação de milhas, condutor ao volante de objetivos longínquos, cavalheiro de poder axiológico e senhor deste blog, alarga-vos os horizontes e traz-vos as paisagens.
Tende a bondade de optar, sem perder de vista que o vosso destino de férias deverá ser fruto de amantes dialéticas e complementaridades subtis, recusando estanquicidades rigorosas e exclusões recíprocas e equívocas.
Escolhei pois, mas escolhei bem:
 
 






 
 
 


 
 
(Horizontes de Klein. Paisagens de Van Gogh)
 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O problema das Tootsies

Elas: -  I never said I love you, I don't care about I love you! I read "The Second Sex", I read "The Cinderella Complex", I'm responsible for my own orgasm, I don't care! I just don't like to be lied to!


Eles: - You know, I could lay a big line on you and we could do a lot of role-playing, but the simple truth is that I find you very interesting and I'd really like to make love to you.


Todos sabemos como acaba a cena...

Manhãs mediatas

Proclamo a magnificência de todas as manhãs inventadas por ti. Reclamo o direito de servir os teus caprichos nesse espaço que pintas. Clamo pelo tempo em que viajas de ti para outra parte de ti, em que partes até partes que te são estranhas e que adoptas como arte.


Cantaram pardalitos no meu quintal

Vieram em bando. Fizeram algazarra. Deliciaram-se com Milu. Ignoraram tudo, com exceção da pizza. Consumiram doses generosas de fanta e de coca-cola. Jogaram futebol. Marcaram faltas fingidas e fizeram passes de craque, não esquecendo o "estou aqui" à Ronaldo. Deliraram com as voltas no trator. Vibraram com o PES 2015. Fui guarda-redes e avançado. Encestei e peguei-lhes ao colo para os encestar também. Transpirei e passeei-os de jipe. Estou cansado de tanto brincar.

Experiência nova do dia: enchi 24 balões e não sobrou nenhum. 

domingo, 21 de junho de 2015

Constatações

Deus, ele mesmo, não precisa de teologia nenhuma, como bem notou Heidegger.
(Henri Cartier-Bresson)

sábado, 20 de junho de 2015

Areópago, onde estás?

Ao sábado, os jornais são servidos em dose generosa contrariando o meu hábito de os tomar como pequeno almoço existencialista. Acabados que estão, só me ocorre perguntar: quando é que nos tornámos Erínias? Desenganem-se os que se julgam Nêmesis.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Famosas últimas palavras

Vem isto a propósito da carta de J. Eustáquio de Andrada que Xilre amavelmente deu a conhecer sob a epígrafe supra transcrita.
Conta a lenda que o visconde Pierre de Cambronne, ao ser derrotado na batalha de Waterloo, terá respondido aos pedidos de rendição pelo general Charles Colville, que "La Garde meurt mais ne se rend pas".
Porém, Victor Hugo em Os Miseráveis esclarece que Cambronne respondeu simplesmente "Merde". Palavra que ficou conhecida como "le mot de Cambronne".
Um homem avisado, que se mete em batalhas retóricas, tem que saber sempre que, independentemente do que disser, os outros ouvirão apenas o que souberem ouvir.

A estultice dela

- Uma água com gás bem fresca, por favor.
- Quer copo?


(Nova rubrica aqui no blog: perguntas que não merecem resposta.)

Sem medo

Alienada, brutal, cruel, difícil, egoísta, fútil, gélida, hipócrita, infiel, lenta, mesquinha, negativa, oportunista, perigosa, quezilenta, ridícula, sonsa, triste, usurpadora, vulgar. Embromadora, fugidia, mentirosa, injusta, aparente, negra, indistinta, quotidiana, indiferente, inevitável, nervosa, agitada, inerte, maçadora. Impiedosa, maldita, distraída, inclemente, ilusória, marginal, murcha, terrível, pequena, ingrata, fraca, feia, aturdida.

Amante, bondosa, curiosa, delicada, experiente, feliz, gloriosa, honrada, iluminada, justa, leal, maternal, nobre, ousada, poética, querida, real, suave, ternurenta, única, voraz, zelosa. Divertida, interessante, amável, inteligente, esbelta, enternecedora, clara, alegre, ardente, verde, virtuosa, estimada, gentil, doce, bela, encantadora, imensa, azul-celeste, eterna.

A vida é tudo isto e mais, para quem não tem medo dos adjetivos.
Conjugo todos os seus verbos.
Mesmo o do medo.


(Brice Portolano)

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Continuemos viagem

Não gostas que te passem pela direita? Tens bom remédio: conduz pela faixa da direita. Saberá esta gente que, seguindo pela mesma faixa, a passagem não é considerada ultrapassagem? Apitou. São as taxas. As taxas não são impostos. Muito gosto destas construções ideais. Como peças de lego, que servem para criar o que quisermos e acabam sempre espalhadas no chão da sala. Talvez caminhemos para uma sociedade sem dinheiro. Sim, porque o dinheiro não tem cara. Vai tudo corrido a cartões. Os recibos desaparecem. O Estado controla tudo. Um big brother sem Estado mínimo. Voltaremos às trocas diretas numa espécie de economia paralela a la Idade Média. Estes campos de milho, o gozo de andar no meio das espigas que nos camuflavam. Lembro-me de um ano que foi o menos chuvoso e das peripécias da rega daquela enorme extensão. Ah, sobreiros. Tenho uma paixão por sobreiros. Desde miúdo. Lembro-me de o meu irmão mais novo ter uns 5 ou 6 anos... Dá-me um abraço. Outro, forte. Hoje já não tenho abraços de menino de 5 anos. Os abraços dos 6 anos são ainda mais fortes!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Reação às novidades


(Hum?...)

Se música no coração fosse fado português

Descobri-me enjeitado por Eurípides com as primeiras paixões.
Eu tentava escrever poemas de amor, mas o resultado era apenas risível. Ainda assim, não posso dizer que tenha desistido.
Após o introito, que serve também de aviso à navegação, segue a adaptação de "climb every mountain", a ser lida ao ritmo da música original.

Beber de todas as fontes
Gozar todas as pontes

Mamar de todas as tetas
Saudar todas as marionetas

Vender todos os aviões
Contar todos os tostões
Andar sempre aos apalpões

Aparecer no telejornal
Até a coisa correr mal

terça-feira, 16 de junho de 2015

As variações do Conde von Keyserling

A uns as insónias, a outros a fama.

Por ser para ti, eu uso um eufemismo

Se temos assim tanta coisa em comum, se somos tão parecidos quanto repetes, sejamos retas paralelas. Dizem que se encontram no infinito. (Espero que não.)

A lenda do milagre das rotas

Easyjet - São lapsos, senhores.
PPC-  Lapsos? Levai-me a ver.

 
Conta a lenda que, daí em diante, não mais PPC se cansou de repetir as diferenças entre os dois destinos turísticos.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A VOZ

A VOZ (Capítulo I) - Teia de Folhas de Papel
A VOZ (Capítulo II) - A elasticidade do tempo
A VOZ (Capítulo III) - A vez da Maria

Capítulo IV

Era imperioso possuí-la inteiramente, enlaçá-la com a língua e manejá-la docemente, como à mulher amada. Receava partir no seu encalço ao mesmo tempo que ecoava a insistência em tornar-se-lhe imprescindível. Recolhia-se em si mesmo, para recordar a voz primordial. Angustiava-se e sentia-se febril com as preocupações sobre a desconhecida de voz tão familiar: a que saberá uma voz assim, como se iluminará e em que rosto, como se acalmará em corpo, será possível fundi-la sem a transfigurar... Com estas insignificâncias se mortificava, como se crescesse em seu peito a incrustação que dilacera o coração. Seria a voz dela o resíduo insuspeito que suaviza a natureza humana, elevando-a? O que diria a voz dela se soubesse como ele se gastava em corpos húmidos de vozes ofegantes e entendimentos tácitos.
Achou-se homem. Com voz, mas também com boca de lábios, dentes e língua. Com timbre e com paixão, num corpo de pele. Dotado de sentimentos, mas também de sentidos. Imaginou-a inteira, à voz, feita corpo de mulher nua. Existiria ela também assim? Naquela hora a poente, contemplou sonhadoramente um futuro e decidiu não voltar a ligar-lhe.
                   ...atendeu ao primeiro toque. Quero-te muito, disse a voz dele.

domingo, 14 de junho de 2015

Seria melhor não polemizar?

Sem edição original, o artigo de uma mulher sobre a parvoíce das mulheres, rememorando aqueloutro onde se escrevia que no tempo do outro senhor é que elas estavam bem. Sem literatura, também o artigo de um homem adora que elas sejam assim, que se sintam as "arrumadeiras" ou "empregadas" lá de casa, desejando que não mudem nunca, em nome de "nós - os filhos, os pais e os avós". E as "heroínas", que se reveem, comentam agradecendo os "elogios". Pois que venha a bruma...
Ai que prazer ter um livro para ler, sem ir à feira. As marchas são maçada. As sardinhas são nada. Os manjericos em vez de perfumar, secam.
Mais que tudo isto é vender a tap por metade do JJ.
Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Não basta ler

O capítulo 7 da Rayuela de Julio Cortázar é leitura incontornável.
Importa ouvi-lo, dito pelo próprio.
Impõe-se vivê-lo.
Se ainda não o leram, não o ouviram, não o sentiram, ainda não viveram. Não direi que ainda não viveram nada. Direi, pelo menos, que ainda não viveram tudo. Permitam-me o negrito.

Toco tu boca, con un dedo todo el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.
Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más cerca y los ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos, donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.
 
 

sábado, 13 de junho de 2015

Na falta de artigos definidos, esta é uma das minhas cenas



Maggie: Is it any wonder? You know what I feel like? I feel all the time like a cat on a hot tin roof.
Brick: Then jump off the roof, Maggie, jump off it. Now cats jump off roofs and they land uninjured. Do it. Jump.
Maggie: Jump where? Into what?
Brick: Take a lover.

Finais de uma continuação

De bom grado aceitaria que continuasse a massacrar-me com a presunção da sua juventude. Habituei-me ao estardalhaço da sua curiosidade virtuosa e amável. Noto-lhe uma bem-aventurança conciliadora de simpatias, que conquista como poder supremo. Também ela partirá sem hesitações nem embaraço...
Em pensamento não conseguirei juntar os pedaços todos para produzir o mesmo efeito da sua presença.
(Passei a manhã com Keith Jarrett, ouvindo a melodia da noite contigo, sozinho. Está na hora de procurar companhia. Agora, a minha, contraria-me.)

 (Toni Frissell)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Imprecisões sumárias

Esta zona de quietude em que me lanço é tão diferente da frenética que agora mesmo me engolia. Ainda busco o pórtico da entrada, como se tivesse de existir uma linha negra contínua que permitisse descontinuar; uma qualquer faixa dividindo o alaranjado quente do azulado branco. Às vezes penso que se me afastasse o suficiente  poderia avistar os instantes divididos, antes de esbarrar neles. Só o horizonte nos vê fugir em oscilações indecisas, como se saltássemos campos divididos por cercas de ervas daninhas e amores perfeitos, entre tardes findas e serões sem convidados.

Urgência na acção

Quando chegares ao início, não procures mais atrás. Partamos da pressuposição de algo que pressupomos sem discordar. Sejamos dogmáticos.
Não esqueças que a ética consequencial se opõe à ética da fundamentação. Aprende que acima dos efeitos estão os valores. Sejamos conscientes.
Não me faças perder tempo. Sejamos práticos.


(Pierre Boulat)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Se ao menos...

Soubesse o que é assoberbado, poderia dizer, com propriedade, "estou assoberbado". Fosse menos crente e vigiasse o plantel que me fica de plantão nestes dias que são só um fim de semana, seria (ainda) mais soberbo. Conseguisse falar dela sem me lembrar dos palhaços que, elogiando a beleza de uma soberba menina da plateia, sempre diziam "os teus beiços fazem lembrar as bordas de um alguidar", falaria com sobriedade. Pudesse dizer o que costumava ler na folha afixada numa antiga repartição de finanças "urgências é com o 115", estaria soberbamente lixado e simultaneamente descansado. Desabafasse sobre a perseguição aos pavões soberbos, correria o risco de ser acusado de vitimização. Partilhasse que minha avó dizia ser o amarelo a cor dos tontos, seria soberbamente perseguido. Houvesse um cavalo para cada cavaleiro, teríamos uma cavalgada de Valquírias. As minhas não fossem as melhores broas do universo, poderia ir ler. Tivesse tempo para esmiuçar cada um destes se... 

quarta-feira, 10 de junho de 2015

terça-feira, 9 de junho de 2015

Leitores a sério

 Hoje, a acompanhar um café creme que servia de desculpa para não comentar a conversa das minhas duas convidadas - "Eu só há dois sítios que gostava de ir: às Caraíbas e a Cuba" (o diabo despe prada e tem pernas de pecar) - lembrei-me do título de um artigo que vi recentemente "E que tal começarmos a ler escritores a sério". Senti-me, momentaneamente, mais provocado por tal mote do que pelas pernas bronzeadas.
O que são escritores a sério? São o mesmo que escritores sérios? O meu Spidou, os meus almanaques, o yakari, o Don Pendleton não foram leituras a sério? As minhas tardes eternas com páginas de pistoleiros e de polícias, cujos autores não recordo ou nunca soube, não foram a sério? O meu prazer, o meu tempo, o meu vício de ler, os meus duelos imaginados com vilões malditos em escritos, os meus diálogos decorados de parágrafos inteiros, os meus trejeitos do oeste dos livros de cowboys e índios, não foram a sério? Porque não foram sérios?
Serão escritores a sério os distinguidos pelos estrangeiros? Um Saramago é a sério mas um Camilo não? Ou serão a sério "os que têm mensagem" excluindo os "fantasiosos"? Um Paulo Coelho é a sério mas uma Marion Zimmer Bradley não?
A distimia é uma doença. A intelectualite também. Passou o momento. Voltemos às pernas.

(Dane Shitagi)

Pois se até Shakespeare plagiou...

Em King Lear, escreveu Shakespeare: "Nothing will come of nothing." Um slogan lapidar que cativa pela profundidade, sonoridade e (ir)refutabilidade. Apareceu-me como um génio quando o li.
Anos mais tarde, debruçando-me sobre os latinos, descobri que "de nihilo nihilum" já Auli Persii Flacci escrevera. Admirei-os a ambos.


Plagiam-me os posts? Pavoneio-me. Não alimentarei polémicas a esse nível. (Não é só por falta de tempo, é essencialmente por falta de nível de quem assina como seu o que não escreveu.)


Ah, e isto são só blogs!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Preguei noutra freguesia

Um peixe entre os tubarões. Um plebeu entre a elite. O Ente no Desblogue d'Elite.


A dúvida, a razão, o desejo, o ato de contrição e um Auto de Fé, numa quimera.


Num blog cabem todas as palavras.
            Mesmo as que te engasgam.
                        As que não conheces e as que só tu conheces.
                                   As que te assustam e as que te acalentam.
                                               As que queres esquecer e as que nunca existiram.
                                                           As eternas.
                                                                       No teu blogue, cabem todas as tuas palavras.
                                                                                  Mesmo as que tens medo de dizer.
                                                                                                          Amo-te!








(Felicito Filipa Brás pela sua simpatia e pelo seu empenho.)

Consultório público

Há uns dias, li um artigo que me deu asco. Acontece com alguma frequência. Porém, desta vez, fiquei a pensar na forma de ajudar os desalmados assim perdidos neste mundo de definições. Decidi então criar esta rubrica, onde tentarei esclarecer os mais necessitados quanto ao seu lugar no catálogo.
Podem enviar-me as vossas dúvidas. Por exemplo: já fui do BE mas sem a Drago a coisa não é tão boa; era beto, mas cortei o cabelo "à homenzinho"; era freak, mas arranjei emprego como RP; gosto do Varoufakis mas abomino caloteiros. Em suma, aqui vos darei respostas a torto e a direito. Ou, mais precisamente, à esquerda ou à direita.
Por hoje, debruço-me acerca das dúvidas do gajo que escreveu o adeus ao sporting, justificando o abandono com a contratação de Jesus, e que terá ficado ao Deus dará, sem saber o que será agora que deixou de ser lagarto.
A resposta é simples: um tipo que deixa de ser adepto de um clube por Jesus ter entrado nesse mesmo clube é um anticristo.


PS1 - As minhas respostas não carecem de justificação, por serem evidentemente acertadas.
PS2 - Notem que isto é "público" (não "púbico") pelo que agradeço apenas as dúvidas que me colocassem olhos nos olhos - assim se cria um certo ar de intimidade - e com a vossa mãe ao lado.

domingo, 7 de junho de 2015

Les Fleur

Trivialidades alimentadas a pudim

Regresso de um local onde já fui feliz várias vezes. Retorno repetidamente aos sítios onde já fui feliz. Na verdade, creio que há sítios que me fazem feliz, que me dispõem e predispõem para ser feliz. Haverá um encantamento nesses lugares, cujos odores e cores (e sabores também) me tornam os dias perfeitos. Por isso me rio dos que dizem que não devemos voltar onde já fomos felizes, como se apenas os infelizes pudessem regressar sem lamentar.

Ocorre-me dizer-vos que encontrei o ar amarelecido aparentando um invólucro de papel envelhecido pelo passar dos tempos; que os pássaros ali acolhidos pregam a virtude de acordar com a aurora, num sonoro apelo à lição de Shel Silverstein:
Oh, if you’re a bird, be an early bird 
And catch the worm for your breakfast plate.
If you’re a bird, be an early early bird
But if you’re a worm, sleep late.
 
 Ocorre-me dizer-vos que chego a casa rendido ao pão acabado de cozer, num ritual de saudação de dias perfeitos.

sábado, 6 de junho de 2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A espada de Dâmocles

Escorreu-nos a vida por detrás da vidraça. Resguardámo-nos na profunda inutilidade dos conselhos para que nada ousasse perturbar-nos em espera. Esforcei-me por falar com meias palavras em tom normal, sobressaltei-me sem exclamações, permaneci sem saber se deveria interferir ou afastar-me.
Acordámos hoje das horríveis visões da espera. É madrugada e não morri no pesadelo que me asfixiava o sono. Não sei se inspirei ou se expirei. Apenas respirei. De novo. Profundamente. Com as entranhas. Senti o ar pesar-me no fundo dos pulmões, preenchendo-me os alvéolos mirrados de esperar. Leve, flutuei. (Sabes, às vezes sonho que voo nadando bruços varanda fora.) Reencontro os meus pensamentos. Ingenuamente concluis que a vida é menos cruel do que a imaginação e descartas a morte. Não te respondo. Sou incapaz de descrever o descalabro de não ver os teus olhos nos livros por escrever ou de não ouvir a tua voz nas discussões por nascer. Harmonia. (Passei a sonhar com acidentes.)
Propagou-se um sopro como vento que me varreu do avesso. Corri a tarde ensolarada e encontrei-a oblíqua, a poente, com méritos estéticos dos olhos de quem regressa a casa. Eu bem te disse. Hoje é dia de champanhe. Amanhã também. 

Abismal abissal

O roteiro da tragédia na grafia de uma vida.

(Ben Zank)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Parábola

Caríssimos,
Naquele tempo, andava Ente entre os blogs, acabado de atravessar o mar de sargaço, quando avistou uma tentativa de lavar as mãos, como quem pacifica ao invés de incitar à hostilidade.
Porém, levado pelo grande gozo de cair em várias tentações, Ente tomou o teclado e recordou que no início eram os cães e os póneis. Só muito mais tarde se deu o cisma do rato que queria ser urso. Sucederam-se, depois, a bem aventurança da dança na capoeira e o baile dos flamingos alucinados.
Então, rejeitando a superficialidade dos cabelos e de outros pêlos, dos trapos e das chinelas, os irmãos deram as mãos, qual cortejo de pequenos gnomos anhucas.
À procissão acorreram os mirones. O andor deslocava-se sobre sexinhos lisos, anunciando um banquete de uvas doces e picantes. As dúvidas efectivas multiplicaram-se em rosas afectivas. Até Moisés acorreu num hino de amor... E todos se pasmaram.
Em verdade vos digo: os sonhos não pereceram.

As sandálias dela

Como um gladiador, chegou amarrada por atilhos, numa circulação impossível. Metade da perna branco/esverdeado e a outra metade vermelho/arroxeado.
Percebi-lhe a carência da respiração boca a boca, mas não me apeteceu.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Overbet ou uma espécie de bluff

Jesus, que era filho de Deus, não conseguiu agradar a gregos e a troianos. Conseguirá o Jorge, que também é Jesus, agradar a Benfiquistas e a sportinguistas? Dizem os discípulos que quem desdenha quer comprar. Dizem os jogadores que subiu a parada. Quem paga para ver? Cuidado com o bubble factor. Viva a Broadway!
(Sabem aquelas situações em que, independentemente do desfecho, saem sempre a ganhar? É isto! Só me dá vontade de rir.)

Ente opina sobre as selfies

O sorriso precisa de tempo.
O sorriso nasce nos olhos.
O sorriso precisa de tempo para nascer nos olhos.
O sorriso precisa de tempo para nascer nos olhos, para se espraiar pelo espírito e para, depois, tomar conta dos músculos.

Há quem confunda sorrir com arreganhar os dentes.

(Joyce Tenneson)

terça-feira, 2 de junho de 2015

Dúvidas metódicas

Há umas semanas, dei conta da avaria do congelador que serviu de pretexto para remodelar a cozinha. Esta experiência permitiu-me atingir uma verdade absoluta: é possível viver sem gelo; e, confirmar outra: prefiro viagens a obras. O novo aparelho chegou ontem...

 Vou comprar mais gelados.

As boas intenções das mamãs

Por esta altura, começam a aparecer, no Conservatório, as extremosas mamãs decididas a inscrever os seus rebentos-prodígio na "música". Sabem muito bem da queda do petiz, que será violinista ou pianista "mas só por hobby". A ansiedade reside na marca de instrumento a adquirir. (Algumas dessas mamãs são mesmo muito boas. A essas, tivesse eu tempo e recomendar-lhes-ia um Kuhn-Bösendorfer, um Stradivarius ou juízo e umas aulas de colocação de voz.)
Instrumentos de percussão para o miúdo mexido ou viola para a pré-adolescente? Que coisa mais roscofe. O sangue na guelra, mesmo não sendo azul, reclama "instrumentos nobres".
Regressarão em setembro com alacridade para assistir às primeiras aulas individuais de instrumento. Em outubro, já muito ocupadas - todos sabemos como as mamãs são seres comprometidos com muitos compromissos -, deixarão a criança entregue e atravessarão a rua até ao café, levando consigo o entusiasmo do músico a quem bastariam 15 minutos diários do ouvido da mamã...
O instrumento há-de ficar em exposição num qualquer canto da casa. Pelo menos, enquanto alguém lhe limpar o pó.



(Pablo Genovés)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Hoje é dia de

Queres jogar? Olha o meu abafador. É novo! E esta esfera?! É gigante. Vou ficar com os teus berlindes todos. Até com a leiteira que me tiraste ontem. Eu subo. Quem quer nêsperas? Estão quentes, estão. Olha que já tens nódoas das que não saem. Vamos à pista de BTT? Andei lá ontem com o Alves a fazer uns saltos bué fixes. O Rogério disse que arranjava umas tábuas para fazermos uma ponte. O spectrum é meu e quem vai jogar pac-man sou eu. Tu não sabes jogar blues e o prince of persia não é para meninas. Se mexeres no meu walkman arranco a cabeça da tua tucha. Tive de estar a enrolar a cassete com a caneta. Queixinhas. Eu não vou ver televisão, só vou ver os desenhos animados do agora escolha. Isto não é sopa de chocolate e eu não como feijão. Quero batatas fritas com ovo estrelado e carne com molho. As caricas são minhas e do avô, para jogarmos futebol na mesa do alpendre. Não vês as caras dos jogadores coladas? Eu já dou sotecos muita fortes. Sete cavalos a correr. Eu não quero esconder os dedos. Quero coma-com-pão sem pão. Aqui vai o bicho mau. Olha que faço cócegas. O rei D. Dinis está preso pelo nariz. Dá aí a bola. Ficas tu à baliza. Pronto, jogamos ao mata. És mesmo bebé. Ficas tu no meio. Altamente!

Les uns et les autres - sorrir e acenar

Por vezes, uns choram de incredulidade enquanto outros fazem festa rija.
Por vezes, uns são aplaudidos enquanto outros são vaiados.
Por vezes, uns são outros e os outros somos nós.

(Elliot Erwitt)