domingo, 3 de janeiro de 2016

Resoluções de ano novo

A rotação começou. Leva-nos a todos. Aos que querem ir e aos que fazem de tudo para não ir. Aos de ribaTejo e aos de alémTejo e aos que não têm Tejo. Há quem tenha pressa em chegar e quem ande para trás. Há quem preferisse não ter partido e quem nem dê pela rotação. Há quem tente contrariar o movimento e quem se embebede dele. A rotação começou e é inexorável. E absoluta. E universal. Ninguém escolhe entrar a bordo e ninguém paga bilhete. Ninguém viaja sozinho e ninguém fica de fora. Mesmo os que vão sós e os que não chegam ao fim, não lhe conseguem escapar. Vamos todos. Alguns aproveitam para conviver, outros para se isolar, alguns sorriem a desconhecidos, outros abrigam-se em herméticas construções nem sempre hermenêuticas. Há quem se inquiete com sobressaltos e quem se aquiete com o movimento. Há quem aproveite a rotação e quem se revolte contra a sua indiferença. Há quem sofra com a rotação e quem se fixe nela. Há quem coma pão com manteiga e quem pronuncie nomes cagões sem saber o que come. Há quem adormeça a ver televisão e quem se deite na cama. Há selvagens e anjos e profetas loucos. Há amigas e solitários. Há quem aprecie as vistas e quem não queira ver nada. Há quem colecione porcelanas e quem aposte em cavalos. Há quem fale dos velhos tempos e quem anseie os luxos do futuro. Alguns pintam, outros cruzam as pernas, alguns tomam banho, outros discutem, alguns voltam à vaca fria e outros dão banho ao cão. Há quem toque Chopin, quem valse o Danúbio Azul e quem abra uma lata de atum. Alguns têm vontade de rir e outros de se tornar outra coisa qualquer. Desligam-se luzes, cerram-se cortinas, sobem-se elevadores, percorrem-se corredores, enchem-se sacos de compras, beijam-se tornozelos, despem-se vestidos vermelhos, quebram-se copos novos e confianças velhas. A rotação prossegue, inexorável, absoluta e universal...
Igual a uns e a outros, desejo observar tudo, mesmo o que está fora da rotação, mesmo que fora dela não esteja mais nada. Observo-me. Proponho-me viajar como gostaria de viajar. Mesmo que ninguém veja.

4 comentários:

  1. Depois deste magnífico momento reflectivo, acho que vai viajar como gostaria de viajar :)
    Bom ano, Outro Ente.
    Fica um beijo.

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    1. Querida Sandra Louçano,
      Farei por isso.
      Desejo-lhe um feliz ano novo!
      Beijos,
      Outro Ente.

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  2. Tenho pensado que talvez nos faça falta ninguém nos ver...

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    1. Querida Lady Kina,
      Eu, às vezes, só queria não ver.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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