A rotação começou. Leva-nos a todos. Aos que querem ir e aos que fazem de tudo para não ir. Aos de ribaTejo e aos de alémTejo e aos que não têm Tejo. Há quem tenha pressa em chegar e quem ande para trás. Há quem preferisse não ter partido e quem nem dê pela rotação. Há quem tente contrariar o movimento e quem se embebede dele. A rotação começou e é inexorável. E absoluta. E universal. Ninguém escolhe entrar a bordo e ninguém paga bilhete. Ninguém viaja sozinho e ninguém fica de fora. Mesmo os que vão sós e os que não chegam ao fim, não lhe conseguem escapar. Vamos todos. Alguns aproveitam para conviver, outros para se isolar, alguns sorriem a desconhecidos, outros abrigam-se em herméticas construções nem sempre hermenêuticas. Há quem se inquiete com sobressaltos e quem se aquiete com o movimento. Há quem aproveite a rotação e quem se revolte contra a sua indiferença. Há quem sofra com a rotação e quem se fixe nela. Há quem coma pão com manteiga e quem pronuncie nomes cagões sem saber o que come. Há quem adormeça a ver televisão e quem se deite na cama. Há selvagens e anjos e profetas loucos. Há amigas e solitários. Há quem aprecie as vistas e quem não queira ver nada. Há quem colecione porcelanas e quem aposte em cavalos. Há quem fale dos velhos tempos e quem anseie os luxos do futuro. Alguns pintam, outros cruzam as pernas, alguns tomam banho, outros discutem, alguns voltam à vaca fria e outros dão banho ao cão. Há quem toque Chopin, quem valse o Danúbio Azul e quem abra uma lata de atum. Alguns têm vontade de rir e outros de se tornar outra coisa qualquer. Desligam-se luzes, cerram-se cortinas, sobem-se elevadores, percorrem-se corredores, enchem-se sacos de compras, beijam-se tornozelos, despem-se vestidos vermelhos, quebram-se copos novos e confianças velhas. A rotação prossegue, inexorável, absoluta e universal...
Igual a uns e a outros, desejo observar tudo, mesmo o que está fora da rotação, mesmo que fora dela não esteja mais nada. Observo-me. Proponho-me viajar como gostaria de viajar. Mesmo que ninguém veja.
Depois deste magnífico momento reflectivo, acho que vai viajar como gostaria de viajar :)
ResponderEliminarBom ano, Outro Ente.
Fica um beijo.
Querida Sandra Louçano,
EliminarFarei por isso.
Desejo-lhe um feliz ano novo!
Beijos,
Outro Ente.
Tenho pensado que talvez nos faça falta ninguém nos ver...
ResponderEliminarQuerida Lady Kina,
EliminarEu, às vezes, só queria não ver.
Um beijo,
Outro Ente.