terça-feira, 28 de abril de 2015

Exorcizar demónios próprios com o inferno dos outros

Come and see - Requiem para um massacre, Elem Klimov.
 
 
 
Este é o paradigma do filme a ver quando não se consegue deixar de esperar. Depois de lavarmos a espera do corpo e de a despejarmos na tulha, por vezes, ela continua peganhenta. É preciso arrancar a espera que se refugiou atrás dos olhos, por baixo das unhas, na epiglote, em todo o pensamento. É preciso deixar de esperar até ao próximo momento de espera. Duas semanas  de espera acabarão por asfixiar, sufocar, engolir, afogar. Duas semanas antes do "foi só um susto". (Eu sei, eu sei o que disse. Mas, na verdade, não há espera sem esperança.)    

4 comentários:

  1. Ninguém espera por nada, essa é que é essa. Até as aranhas esperam, pacientes.
    (em tempos disse a alguém que admirava as aranhas, e é verdade)

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    1. Querida Mais Picante,
      Talvez tenha razão. Talvez a vida não seja mais do que a espera. A antecâmara da perdição. O vazio que enchemos com nadas. Pequenos nadas. (As aranhas pequenas são sinal de fortuna. )
      Bom dia,
      Outro Ente.

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  2. Dizem que é a esperança a última a morrer, então é a espera que morre primeiro, isto, se o tempo de espera não matar a esperança de alcançar, se assim for, vai-se a espera esperançosa e fica só o tempo de já nada esperar e então vem o vazio e do vazio nasce a desolação. Também queria que todos os tempos fossem de espera.
    Boa noite, Outro Ente.

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    1. A espera era. Não há espera. Rasgam-se os trapos ensopados das lágrimas desesperadas. Sem esperança e sem espera. É no acto que realizamos. Repudio todas as esperas! Hoje. Amanhã?...
      Bom dia querida Cláudia.
      Beijos,
      Outro Ente.

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