quinta-feira, 3 de março de 2016

Que soubesse

devanear por vários livros, sem se fechar em nenhum; consultar a inteligência, sem esquecer o bom senso; amainar as aclamações imaginadas, sem deprimir; comover-se com os atributos dos outros, sem hipocrisia; viver no luxo, sem cheirar a dinheiro; brilhar em clarões de simpatia, sem inanidade nos olhos; discernir o valor pessoal, sem pretensiosismos; bocejar com as fórmulas estéticas, sem desdenhar de Wagner; agir com naturalidade, sem rigidez aperaltada; vencer as primeiras miragens para conhecer o romance concreto das vidas reais; deixar-se apoderar pela  inocência; renegar o prazer das velhacarias; excluir a duplicidade moral; apostatar o moralismo; empenhar-se pela graciosidade na aparência e pela naturalidade na aparição; encantar-se com a imaginação; saborear a companhia e a sua ausência; inquietar-se com Corneille; não julgar caracteres e educações;  abandonar-se sem reserva.
Que, ao menos, soubesse não saber.

2 comentários:

  1. Boa tarde, Outro Ente.
    Gostei tanto deste post. Mesmo. Não menosprezando a importância das suas "Assimilações", já estava a sentir por aqui a falta da sua quota-parte "de poeta e de louco". Ainda bem que está de volta.

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    1. Querida Cláudia Filipa,
      Será caso para dizer "nem sempre nem nunca".
      Bom dia,
      Outro Ente.

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