sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Repto às sabinas

Vem comigo. Vamos filmar o grande filme do silêncio. Vem ver Toledo e descobre o grego. Anda, deixa de devorar livros. Deixa-te devorar pelos livros. Lê Pamuk. Rebela-te com Ravel. Solta o cabelo. Não faças caras. Não ligues às caras dos outros. Corre. Faz de conta que é Innsbruck. Não faças contas. Se trautear je suis desolé, ri-te. Não diminuas os prefácios. Nem os prelúdios. Pede-me canções sem palavras. Só se as souberes ouvir. Desenha-me linhas herméticas, impossíveis, metafísicas. Sê paciente, todas as minhas linhas são abertas. Dá colo ao gato Barbieri. Não desdenhes da minha dificuldade em decidir entre Rémy Martin e Henessy. Se disseres que é tudo a mesma coisa, vou saber que nunca escutaste a 9ª Sinfonia dirigida por Furtwängler. Troca Ginseng por Ginsberg. Sorri com as minhas noites chez Maud. Não me asfixies com as análises de Derrida. Ensina-me o arco-íris de Mark Rothko. Não peças desculpa por seres bela. Aprecia o ninguém de Ulisses e não desprezes o do romeiro. Excita-me com os teus diários do desassossego. Arrisca uma estória sem dia seguinte. Vem comigo!


8 comentários:

  1. Caro Outro Ente
    A escrever assim nem precisa de se armar em romano e ir raptá-las, basta "repta-las".
    Abraço

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    1. Ah! Ah! Ah! Muito espirituoso, meu caro.
      Um abraço,
      Outro Ente.

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    1. Caríssima No Meu Quarto Andar Sem Cave,
      não me atrevo a escrever-lhe "minha querida no meu quarto" com receio das más interpretações, compreenda.
      Assim, caríssima, digo-lhe que já perdi todas as certezas. Agradeço-lhe, porém, a amabilidade. Continuarei expectante.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  3. Enquanto trinco uma torrada e leio o seu texto, penso que é bom começa assim o dia.

    Um beijinho e bom fim de semana :)

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    1. Precisamente o que penso quando leio os seus contos de bom-dia enquanto bebo um kazaar.
      Bom dia querida Miss Smile.
      Beijos,
      Outro Ente.

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  4. "Ensina-me o arco-íris de Mark Rothko"...
    Venho aqui dizer que é muito difícil ser mulher no século XXI e não pelas razões do costume...

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    1. E, no entanto, não duvido da sua capacidade para as ensinar, mesmo aos que andam vendados. Há quem sinta as palavras.
      Bom dia,
      Outro Ente.

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