domingo, 15 de novembro de 2015

A indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
(Bertolt Brecht?)

12 comentários:

  1. Não à indiferença!

    Boa noite, caro Ente, e um beijo.

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    1. Querida Maria Eu,
      Ora aí está uma hashtag sempre na atual.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  2. Ao ler o poema lembrei-me duma entrevista ao Rentes de Carvalho que vi já há algum tempo e onde dizia uma coisa que me fez pensar, e que era mais ou menos isto: a tolerância é uma espécie de indiferença, que no fundo deixamos de ser tolerantes quando nos toca, quando nos atingem um nervo, e aí, reagimos, deixamos a sombra da tolerância. Na altura fiquei a pensar nisto, acho que tem alguma razão. Agora, com os últimos dias e com este poema, a mim pelo menos, faz-me pensar. Outra vez.
    Boa noite, Outro Ente

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    1. Querida Eva,
      Desconheço o contexto da afirmação que refere. Ainda assim, pela minha parte, tenho a tolerância como valor positivo e indispensável numa sociedade plural. Se tolero, é porque "dou" pela diferença, noto-a, mas respeito. Já a indiferença remete para o campo da demissão, do "passar e andar", do "nem ligar". Serão, na minha opinião, conceitos diferentes, tanto no conteúdo quanto na consequência.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  3. Há quem diga que o mundo é a nossa casa...urge cuidar melhor!
    Bom dia, Outro Ente.
    Um beijo,
    Mia

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    1. Querida Mia,
      Disso, não haja dúvida. A questão prende-se (também) com a vida numa aldeia global, onde a poluição do Tejo pelos esgotos de Madrid impede que a água chegue límpida a Lisboa.
      Bom dia,
      Outro Ente.

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  4. Suponho que o texto é de Martin Niemöller embora seja habitualmente atribuído a Brest. Isso também interessa pouco, o texto é universal e deve ser assim compreendido. Estamos mais uma vez a viver tempos extraordinários, extraordinariamente maus, e difíceis de compreender depois de um período anormalmente longo ( não sou eu que o digo são livros de história) de paz . Devíamos prestar mais atenção ao paradoxo da tolerância de Popper, está na altura de deixar de ser tolerante com a intolerância sob pena de cairmos, mais uma vez, em tempos muito escuros. O pior de tudo isto é que não estamos a lê-lo num livro, ou a vê-lo no filme, acontece no nosso turno e dos nosso filhos.

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    1. Querida mgp,
      Sempre atribuí o texto a Brecht. Porém, apercebi-me de que a sua autoria é discutida, daí o ponto de interrogação. É bem possível que seja de Niemöller.
      Quanto à necessidade de tratar a intolerância com intolerância, bem, também é possível que tenha razão. Pela minha parte, preferiria manter a tolerância, travar a violência e combater as ideologias fanáticas e apocalípticas com uma ideologia de respeito e esperança.
      As noções de que a vida humana é inviolável e o respeito ao próximo é fundamental, a par do sempiterno (immer alle)sentimento de esperança, são os princípios basilares que me esforço por transmitir aos meus filhos.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    2. Vi agora que Brecht passou a Brest o corrector automático conhece mais de geografia do que de poesia.
      Tratar a intolerância com intolerância, assim a seco, não me soa bem. Não é exactamente isso que defendo.Não desta forma tão absoluta. Popper explicou-o melhor do que alguma vez eu o faria : " o pluralismo crítico pode ser visto como uma alternativa entre o fundamentalismo religioso e o relativismo. Devemos exigir, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes. Uma tolerância ilimitada é intolerável. Daí o paradoxo da tolerância. Se concedermos à intolerância o direito de ser tolerada, destruímos a tolerância e o Estado de direito."
      É por defender tanto o valor da tolerância, fundamental para podermos viver em liberdade que entendo que devemos exigir que todos que pretendem partilhar deste modo de vida também defendam este valor. Isto aplica-se a todos, àqueles que defendem que não devemos receber refugiados, que também são intolerantes, aos que defendem que as mulheres devem andar tapadas em nome de uma regra de submissão religiosa, outra forma de intolerância. bem sei que, a nossa sociedade defende a tolerância mas nem sempre a pratica. Mas é um facto que temos o inimigo dentro de portas, entendo que devemos combate-lo. Como? não sei.mas suponho que dizer que a culpa é nossa também não será grande ajuda, a não ser que achemos que isto é um castigo justo para os pecados ocidentais.
      O que não me deixa de espantar é que muitos dos lideres destes movimentos radicais sejam oriundos de famílias integradas e com poder . O que me espanta é que muitas mulheres muçulmanas, nascidas e criadas em sociedades ocidentais, instruídas, optem por andar cobertas , admito que o façam como afirmação , como um sinal de diferenciação . Sei que esta pode ser entendida como uma posição arrogante, mas não me deixa de espantar que ao invés de assimilarem os nossos valores radicalizem os deles, deturpem os seus próprios princípios religiosos e declarem guerra ao nosso modo de vida. Desculpe o testamento, calo-me já:D
      um beijo

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    3. Não se pode querer a parte sem o todo. Quem vive em sociedades tolerantes e abertas tem o dever de retribuir com tolerância e abertura. Quem colhe os proveitos também arca com os custos. Tal como não se penduram crucifixos nas salas de aula, assim não se cobre o rosto. Como diziam os latinos, ubi commoda ibi incomoda.
      Quanto ao "limite" à tolerância, entendo que está contido no próprio conceito. A tolerância "excessiva" é intolerável, negando-se a si própria. Haverá sempre que atender aos princípios consagrados nas Constituições, como os da proporcionalidade, necessidade e adequação. Mas, apesar de tudo, e respeitando o laicismo dos Estados, talvez importasse não esquecer que o Homem é a medida de todas as coisas.

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  5. A tolerância não pode ser confundida com indiferença. A indiferença é egoísta, é apática, é desumana. A tolerância é altruísta, empática e humana para com o que é diferente. Ao contrário do que sucede com a indiferença, a tolerância estabelece limites e fronteiras para o que é intolerável.

    Um beijinho

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    1. Eu voto em si, querida Miss Smile.
      (Será a indiferença intolerável?)
      Um beijo,
      Outro Ente.

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