quarta-feira, 18 de março de 2015

Harmonia conjugal?*

A propósito dos textos de duas bloggers fantásticas, Mirone e Uva-Passa, tirei-me dos meus cuidados e fui desencantar esta lição, com o sugestivo título "A Família":


O Mário e a Fernanda vão para a janela esperar o pai, que vem do trabalho. Quando o avistam ao fundo da rua, gritam para a mãe, que está na cozinha:
- Mãezinha, já pode tirar a sopa. O Paizinho vem aí.
Quando o pai entra, os pequenos abraçam-no e beijam-no, cheios de alegria.
- Vem muito cansado, Paizinho? - perguntou a Fernanda.
- Sim, trabalhei muito e venho cansado. Mas pensava em vós e dizia comigo: - É para os meus filhos que eu trabalho. Deus me ajude a criá-los.
(O Livro da Primeira Classe)


*Dizem que o ponto de interrogação incentiva os comentários.

8 comentários:

  1. A minha avó paterna, que nunca trabalhou fora de casa, contava muitas vezes que por vezes estava em cuidados por se fazer tarde e não haver meio de o avô chegar a casa. Mas a verdade, dizia ela, eram preocupações tontas, o avô chegava sempre na hora em que punha a sopa na mesa. A verdade é que nunca os 5 filhos ficaram sem comer sopa, o pai veio sempre.

    Repito aqui o que disse no blog da Uva. Temos sempre a tentação de dar palpites e questionar as decisões dos outros, mas cabe a cada família estabelecer as suas próprias dinâmicas. A dos meus avós era aquela e fê-los muito felizes.


    (obrigada)

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    1. A família é uma vivência. Evolui. Adapta-se à aquisição de novos membros e à sua perda. Adquire rotinas e muda hábitos. As famílias, tal como os indivíduos que as constituem não são iguais. Bastaria que fossem acolhimento e pertença, realização e respeito.
      (se continuar muito mais vou ganhar fama de pregador, que é como começo a sentir-me.)
      Obrigado.

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  2. A realidade da Fernanda e do Mário, família estruturada em textos que tinham por objetivos criar modelos e exemplos que era necessário ter em conta, já lá vão ! Importante, agora, é aquilo que cada família consegue fazer dentro da rotina diária que consegue estabelecer e, já agora, sobreviver-lhe!

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    1. Não sei se concordo. Os textos que os meninos lêem nas escola dos nossos dias também apontam modelos, outros modelos, mas apontam. Os temas saõ outros, a defesa do ambiente, por exemplo, mas apontam modelos.
      Quanto à questão da harmonia familiar propriamente dita, parece-me que o "segredo" continua a assentar da definição de papéis. Há uns anos os papéis atribuídos a cada elemento do casal eram estanques,estavam muito definidos e ambos os elementos sabiam bem quais as tarefas e funções da sua competência e desempenhavam-nas com zelo e não se imiscuiam nas tarefas do outro.
      Hoje as funções e tarefas de cada elemento do casal não são estanques, mas continua a ser importante que, depois de definidas, sejam desempenhadas com zelo e que, a ser alteradas, o sejam por acordo.
      "Importante, agora, é aquilo que cada família consegue fazer dentro da rotina diária que consegue estabelecer e, já agora, sobreviver-lhe!". É-o agora como foi no passado. Há 50 anos também havia rotinas diárias e as famílias conseguiram sobreviver.

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    2. Querida Mia,
      É certo que o tempo daquela "propaganda de regime" já lá vai, como diz.
      Agora, falar em sobrevivência dentro de família soa a sacrifícios no casamento. E, neste ponto, não coincidimos.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    3. Querida Mirone,
      Naquele tempo (e lá está a coisa a soar-me a epístola) as tarefas eram impostas pela sociedade. Havia uma heteronomia que se imiscuía. Hoje dependem do acordo de vontade dos membros. Já ao nível das funções, penso que se esbateram os limites, caminhando no sentido da comunhão. Ambos se tornam simultaneamente "ganha pão" e cuidadores.
      Importa que funcione, sim. Porém, hoje terá de funcionar para ambos. (Sempre houve famílias felizes).
      Boa noite,
      Outro Ente.

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  3. É uma casa portuguesa, concerteza.
    Não há muitos anos fizeram um spot publicitário a tentar convencer as famílias a partilharem as tarefas domésticas. Mudam-se os tempos... O que não muda é o estado-educador.

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  4. Querida Cuca,
    São os excessos de intervencionismo que reforçam a bondade do Estado mínimo. Veremos.
    Beijos,
    Outro Ente.

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