terça-feira, 2 de junho de 2015

As boas intenções das mamãs

Por esta altura, começam a aparecer, no Conservatório, as extremosas mamãs decididas a inscrever os seus rebentos-prodígio na "música". Sabem muito bem da queda do petiz, que será violinista ou pianista "mas só por hobby". A ansiedade reside na marca de instrumento a adquirir. (Algumas dessas mamãs são mesmo muito boas. A essas, tivesse eu tempo e recomendar-lhes-ia um Kuhn-Bösendorfer, um Stradivarius ou juízo e umas aulas de colocação de voz.)
Instrumentos de percussão para o miúdo mexido ou viola para a pré-adolescente? Que coisa mais roscofe. O sangue na guelra, mesmo não sendo azul, reclama "instrumentos nobres".
Regressarão em setembro com alacridade para assistir às primeiras aulas individuais de instrumento. Em outubro, já muito ocupadas - todos sabemos como as mamãs são seres comprometidos com muitos compromissos -, deixarão a criança entregue e atravessarão a rua até ao café, levando consigo o entusiasmo do músico a quem bastariam 15 minutos diários do ouvido da mamã...
O instrumento há-de ficar em exposição num qualquer canto da casa. Pelo menos, enquanto alguém lhe limpar o pó.



(Pablo Genovés)

20 comentários:

  1. Por reprocidade com alguns músicos, todos eles clássicos, que nos recomendaram aulas de música para macaquita, tentámos entrar em acordo com ela sobre o instrumento que gostaria de aprender.
    A resposta foi pronta e definitiva: CORNETA

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    1. Querida Be,
      Boa sorte. Espero que a sua menina goste. O truque estará, também, em criar uma rotina de 15 m diários, para ela tocar com a mãe a ouvir.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    2. Querido ente
      15 minutos diários de corneta? Partilho todas as actividades dos meus filhos a tempo inteiro, desta vez acho que vou deixá-la ir para o ballet, será com certeza menos penoso para os meus ouvidos.
      Outro beijo

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    3. Normalmente as crianças das turmas de iniciação têm uma aula de instrumento por semana, com cerca de 45 minutos. Em casa deverão tocar 10 a 15 minutos diários, consoante a idade. Falei em 15 por estimar a idade da menina em 7 anitos. E esse tempo irá aumentando cerca de 5 minutos diários por cada ano. Assim, aos 9 anos, no último ano de iniciação e antes de entrarem para o 1º grau, tocarão 25 a 30 minutos diários. Não é a mesma coisa tocar 5 dias 10 minutos ou 50 minutos num dia. Melhor lhe dirá o professor. (Apetece-me escrever-lhe sobre as vantagens da corneta, mas acho que já as conhece, pelo que me dispenso de tal.)

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    4. Tem quatro anitos apenas. Terá tempo de aprender a tocar corneta quando cumprir serviço militar ;)

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    5. 4 anos? Com 4 anos fazem-se birras de meia noite e sestas de meio dia. E brinca-se. Com cornetas e cavalos de pau.

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    6. Acredito, talvez por influência desses amigos, que quanto mais cedo iniciam, mais capacidade têm para absorver a aprendizagem. No entanto, deixo sempre que façam as escolhas que querem, não obrigo qualquer um deles a actividades extraescolares que não façam por prazer. No caso dela, por exemplo, faz teatro amador connosco desde os 3 anos mas só vai aos ensaios quando quer.

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  2. Pois o meu queria tocar bateria. Que tinha mesmo de ser bateria, que a bateria é que era cool. Lamentavelmente não havia espaço no quarto para uma bateria e vau que optou por violino. Vi a minha vidinha toda a andar para trás até que a criança se fixou no piano. Três anos de piano, um piano em casa a encher-se de pó que "as escalas são uma completamente secantes, mãe, eu quero é tocar músicas!". Um estaladão na cara, era o que eu merecia por ter ido na conversa do preciso mesmo de praticar.

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    1. Querida Mais Picante,
      Obrigado por me fazer rir com a sua descrição. Permita-me que lhe diga que o seu filho é muito esperto. As escalas são mesmo uma seca. Introduzem-se, normalmente, pelos 8/9 anos, mas sempre acompanhadas de partituras de músicas que lhes agradem. Assim, fazem aquecimento com as escalas e seguem para o que lhes dá prazer. Infelizmente, ainda temos muito a ideia de que para ser "cultura" tem de ser penoso. Por exemplo, um livro é "bom" se for "difícil". De qualquer forma, ele tinha razão: precisava mesmo de praticar... mas bastaria um teclado assente num suporte que permita regular a altura... são acessíveis, cumprem a função nos tempos iniciais e, arrumados, não ocupam espaço. Além disso não perdem utilidade. Mais tarde, se comprar um piano, eles continuarão a levar o teclado quando forem de férias. Normalmente esses erros acontecem porque os pais ou não se aconselharam ou aconselharam-se com alguém que tem interesse na venda de instrumentos. Lamento. Experimente levá-lo a uma escola com uma filosofia diferente... ou olx.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    2. Ora... eu não sou assim tão burra. Escrevi piano, na verdade comprei-lhe um teclado com suporte. Veio da Alemanha, ainda assim era um sapato. Casa vez que olho para o teclado penso que aquilo poderia muito bem ser um sapato.
      Nada a fazer, com muita pena minha não quer nem ouvir falar de música, é uma pena porque tem ouvido e até levava algum jeito. Ainda tentei uma última cartada, cheguei a dizer-lhe que as miúdas adoravam rapazes que soubessem tocar piano, que elas iam fazer fila. Nem assim.

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    3. O seu filho é esperto. Não deveria ter mentido. Diga-lhe a verdade: elas não farão fila, mas ele conseguirá sempre as melhores. E terá sempre sorte, contanto que lhes toque o concerto para piano nº 2 de Chopin antes de tentar a sorte.

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    4. Ele consegue tocar, com um mínimo de incorrecções, a marcha turca. Acho que terá de servir...
      E, com música ou sem música, tenho fé de que conseguirá a melhor para ele. Um dia. Se isso acontecer já me darei por muito feliz.

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    5. A marcha turca antecedendo a procissão de pé descalço... Que romântica!

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  3. As mães conseguem ver talentos que mais ninguém vê nos filhos.

    Mal comparando, este post lembra-me uma senhora muito humilde que vivia ao pé da minha avó e que não sabia ler. Essa senhora teve uma única filha, com um ligeiro atraso cognitivo mas conseguiu aprender o que os pais nunca aprenderam, ler e escrever. Não dava grande entoação, às vezes tropeçava nas palavras menos comuns, mas lia suficientemente bem para o senhor prior a chamar a ler a oração dos fiéis na missa vespertina do sábado. Um dia coube-lhe uma leitura maior e a 'Aninhas', chamemos-lhe assim, treinou a semana toda. No sábado, com a sua melhor roupa e o cabelo muito alinhado, endireitou-se atrás do púlpito, respirou fundo e começou a ler: "Epístola de S. Paulo aos romanos...", mas pronunciou epistóla em vez de epístola. O prior esboçou um sorriso condescendente. A mãe, que percebeu o sorriso, vira-se para trás e diz orgulhosa às vizinhas "lê tão bem, a minha menina, que até o senhor prior sorri".

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    1. A Aninhas (que deve rondar os 50 anos) continua a ler na missa, mesmo sem a mãe a assistir.

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  4. Outro Ente, estava a ler este seu post e sabe o que me veio à ideia? aquelas pessoas que compram pintura tendo como principal requisito que as cores combinem com a decoração da sala.
    (Gostei do post e dos comentários, principalmente da "Aninhas" que a Mirone nos deu a conhecer e também da mãe da "Aninhas)
    Um resto de bom dia.

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    1. Querida Cláudia,
      Também eu gosto das estórias de Mirone.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  5. E os papás? Que coisa, sempre as mamãs. Somos mesmo beras, nós, mamãs.

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    1. Querida Modern Ana,
      Mui pertinente a sua observação. Benditas as mamãs, sem elas não haveria música.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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