sexta-feira, 10 de abril de 2015

Direito, dever ou querer

Muito se tem dito e escrito (ouvido e lido, já não sei) acerca do direito a ser político. Ao longo desta semana, e na sequência da apresentação de uma candidatura à presidência da república, chorrilharam os do costume, todos no mesmo sentido, ou não fossem democratas até ao tutano.
Unanimemente resolvido, portanto.
Confesso que foi a questão reflexa que me suscitou dúvidas. Isto é, tendo o direito, teremos também o dever?
Peroro:
Tenho amigos de várias cores políticas, sendo que alguns vestem a camisola com uma convicção devota. Numa tertúlia, criada nos idos tempos de faculdade, vários são os cidadãos-públicos (a expressão faz lembrar wc-públicos e é uma provocação) do pp ao ps (não sei porque não há comunistas ou be, mas é assim). Recordo que em 2004, sendo alguns deles candidatos nas europeias, voltámos a encontrar-nos com maior assiduidade, precisamente para discutir. Na altura, e para reunir Lisboa, Porto e Coimbra, escolhemos um poiso panorâmico sobre o Mondego. Eram serões quentes que jamais careciam de moderação. Tudo isto, para dizer que gosto de política, gosto muito de discussões sobre política e não tenho qualquer pré-juízo contra políticos. Adiante:
Amiúde, e com maior intensidade em alturas como esta, alguns conhecidos abordam-me para que me filie no partido a ou b ou c, o que tem a sua piada, reconheço. Chegaram, inclusive, a procurar-me em casa munidos de uma "folhinha para os dados". Não sou filiado (isto é expor-me demais? façamos um exercício de democracia direta: quem acha que sim põe a mão no ar).
Deveria sê-lo? Há algum dever em participar publicamente na política? (Sim, votar é dever cívico e estar informado dever de consciência, não vamos por aí.)
Eu voto não.
A minha formação é para fazer o que faço. Foi por vocação que escolhi. O facto de ser "de família" em nada beliscou a minha liberdade de escolha, até porque tenho irmãos. E, o que faço, faço bem.
Em suma, convergirá o direito e o querer, sem que o dever entre na equação.
Mantenho-me homem-privado.

8 comentários:

  1. Um ser político e ser político não são sinónimos.
    Bom dia!, Outro Ente.

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  2. Querida Mirone,
    Nesse caso, sendo um o substantivo e outro o verbo, São João não tinha razão. Um ser político deverá anteceder ser político. Logo, no início não era o verbo mas o ser.
    Brilhante observação que pode levar a um novo mundo.
    Parabéns Mirone,
    Outro Ente.

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    1. "Um ser político deverá anteceder ser político", Entramos no plano do dever e do devir?

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    2. Estamos mas é a resvalar para o plano da galinha e do ovo, qual deles o primeiro.
      Mas penso que estaríamos a focar-nos no dever em devir.
      Beijo,
      Outro Ente.

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  3. Ainda me lembro do Paulo Portas no extinto semanário Independente (de que foi co-fundador)...não basta querer ser político, existe ali um bichinho, uma predisposição.E quem tem, para além de querer sente o dever.

    Também não sou nem nunca fui filiada em nenhum partido, tenho amigos de várias cores politicas e as melhores discussões são sempre com os meus amigos bloquistas, lá está que vestem mesmo a camisola...que têm dentro deles o tal bichinho...que antes de "ser" já "eram"...que quase sem perceber respiravamm politica. E hoje são candidatos.

    Políticas à parte, tudo bons amigos. :)

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    1. Querida Té,
      O Independente de Paulo Portas marcou uma época.
      Mesmo com políticas misturadas, bons amigos... eu só perco o interesse quando começam a imitar as testemunhas de jeová.
      Beijos,
      Outro Ente.

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  4. Correcção: o "hoje" é num sentido mais alargado. Não é aqui e agora. ;D

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    1. Foi com esse sentido que interpretei. Calculo que não tenha idade para dinossauro.
      Beijos,
      Outro Ente.

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