sexta-feira, 3 de junho de 2016

Chegou a hora de te falar dos pequenos nibelungos

Barbeio-me todos os dias. Não uso after shave. Vou cortar o cabelo todos os meses. Não se nota. Velejo todos os anos. Não quero companhia. Invariavelmente, ao pequeno almoço bebo um café e fumo um cigarro. Prefiro calçado de atacadores. Não uso chinelos. Gosto de conversar. Não procuro discussões. Interessas-me. Há coisas a que não ligo. Se mudares objetos de sítio, não vou notar. Se mexeres as minhas coisas, vou perguntar-te onde estão até me habituar. Quero as coisas como as quero. Se precisares das passwords, estão na 1ª gaveta do lado esquerdo da secretária. Sou apologista da partilha, não da intromissão.  Se tirares livros das estantes, devolve-os à sua fresta. O mesmo com cd's. Notarei, quando apetecerem. Sou imediatista e intransigente. Vais onde queres, mas não saias sem me dar um beijo. Acompanho-te "às compras", desde que saibas o que procuras. Sou omnívoro. Gosto de comer bom, não muito. Aprecio vinho tinto, dispenso cerveja. Não tenho horários. Faço o que me apetece. Com dedicação. Falho, mesmo quando queria não falhar. Se vieres comigo, vamos ao teu ritmo. Gosto de te ver em bikini. Se me perguntares, vou dizer-te que os fatos de banho te ficam mal. Rude e condescendente. Bazárov diverte-me, mas nunca seria seu amigo. Não vou para a cama sem ler. Gosto de te ler. Soas-me "como um sino de ar puro".

13 comentários:

  1. O meu elemento é o mar. Sou feita dele. Posso prescindir de quase tudo o resto. Ganho sempre. A vitória é um estado de alma. Só compito contra mim própria. Gosto que me lavem os cabelos. E que cozinhem para mim. E que me descalcem os sapatos. Se pudesse, viveria descalça. Preciso de poesia quando chego a casa. Onde o trabalho não pode entrar. Às vezes chego triste. Mas cinco minutos depois esqueço-me. Os livros estão empilhados por todos os lados. Tenho dificuldade em abandoná-los nas estantes. Tenho dificuldade em qualquer forma de abandono. Compro coisas inúteis mas bonitas. Acredito nas vantagens de nos rodearmos de objetos bonitos e inúteis. Gosto de passar horas sentada à mesa. Não gosto de comida vegetariana e prefirirei vinho tinto a qualquer outra bebida. Já gostei de cinema de autor. Não sei se ainda teria a mesma paciência para Cassavetes. Agora o mundo parece-me muito mais simples. Há quase sempre música. A maioria das vezes é jazz mas muitas vezes é qualquer coisa. Se fosse um adjetivo confessável seria eclética. Se fosse um adjetivo inconfessável seria teimosa. Não me lembro de ainda acordar zangada. Há em todas as manhãs uma promessa de eternidade. Estou sempre a tentar aprender qualquer coisa nova. Agora é piano. Gosto mais de aprender do que de ensinar. Às vezes as pessoas não compreendem isso. Nunca me atraso. Não saberei onde estão as coisas. Sou indulgente comigo própria e espero que para com os outros. Mas abomino a cobardia. Detetarei as mentiras com demasiada facilidade. Não posso evitá-lo. Também falho. Mas cada vez menos e melhor. Às vezes estou ausente. Há em mim uma pequena Alice in wonderland. Não significa nada e regresso sempre quando é importante regressar. Não gosto do amor. Respeito-o demasiado para não o temer. Interesso-me por tudo o que interessa as pessoas por quem me interesso. Acredito no cinzento mas prefiro o preto ou o branco. E ainda gosto mais do azul. Não tenho segredos. Ocupam demasiado espaço. Não acredito em fatos de banho. Cozinho mal mas faço uns gin tónicos muito razoáveis. Sou Pirata. As regras são as minhas únicas inimigas.

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    1. Minha doce menina,
      Não prescindas de nada. Festejaremos todas as tuas vitórias e todos os dias brindaremos. Saberei dar-te mimos. Talvez um de nós aprenda a cozinhar. Não terás de abandonar nada. Nem sequer velhos hábitos. Se a pilha dos teus livros acabar estatelada no chão com uma bolada, ajudar-te-ei a reerguê-la, qual torre de conhecimento ou monumento ao apego. Acho que se tornam mais belas as pessoas que vivem rodeadas de beleza. Persistente é um adjetivo bastante confessionável. Quanto mais velho fico, mais cedo e mais bem-disposto acordo. Desconheço o meu valor como detector de mentiras dos meus, espero continuar a ignorá-lo. O Amor apaixona-me. Respeito aqueles que amo. Os invizimals não me interessam, nem os tazos, nem as sissis, nem quem começou. Acredito nas pessoas. Não fiz nem faço tudo como se alguém me contemplasse. Há coisas que são só minhas. Afeiçoei-me às regras de Ulpiano. Estou convicto de que só é possível partir o que está inteiro. Posso estar enganado.
      És Pirata!, e soas-me como um sino de ar puro...
      Noite feliz.

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  2. Gostei tanto da palavra nibelungos e gostei tanto do post! Acho sempre bonito quando as pessoas conseguem desenhar-se num esboço assim, tão nítido. Eu nunca fui capaz de o fazer.

    E para a Cuca (se o caro Outro Ente permite): mesmo não gostando do amor, "Interesso-me por tudo o que interessa as pessoas por quem me interesso." é amor.

    Abraço aos dois.

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    1. Querida Susana Rodrigues,
      Era para ser "nibelungos ou pequenos vagabundos?"... mas o atrevimento não chegou a tanto.
      Há uma música de Adriana Calcanhoto que diz "você não tem medo de mim, você tem medo é do amor que você guarda para mim"...
      Noite feliz,
      Outro Ente.

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  3. Agora é que a fizeram bonita. Não duvidando, Outro Ente, dos seus intentos e menos ainda das suas capacidades, temo, porém, que depois desta lhe venha a ser difícil partir à (apetece dizer "sua") Pirata o coração. Aguardo expectante os desenvolvimentos.

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    1. Querida Lady Kina,
      Perseverarei em prol da linha editorial.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  4. Mas afinal quem é que vai passar as camisas a ferro?

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    1. Apraz-me dizer que D. H. está comigo desde o início e não procuro substituta.

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  5. Basta saber ler, constato. E isso é muito!

    Beijos, caro Ente, e uma noite doce :)

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    1. Bom dia, querida Maria Eu.
      É mais um caso de "saber ler, saber escrever".
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  6. tão, mas tão bonito que tomara que seja verdade :)

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