Hoje, recordaremos episódios que não esquecemos e de que, talvez, nem nos lembrássemos se os não repetíssemos tal como no-los contaram. Tu foste a minha prenda mais-que-tudo. Costumava sentar-me ao lado do teu berço, naquela cadeirita de madeira vermelha com umas flores pintadas e o assento de verga que ainda hoje vive no sótão, a embalar-te. Na penumbra do quarto dos pais, abanava-te o berço cem vezes, enquanto as contava e me sentia crescido. Não só por saber contar até 100, mas porque tu dormias embalado por mim. Conta a mãe que uma vez, na pressa de ir ver o Lone Ranger, contei mais depressa do que o baloiço do berço e por pouco não te fiz voar. (Mas disso, eu não me lembro. Só de ouvir contar. De te adorar, porém, como o rei mago ao menino que dorme, disso lembro-me. Tal como lembro daquela vez em que brincava contigo: tu dentro de um parque e eu do lado de fora; tu bebé e eu criança com ânsia de te tocar; tu a ríres-te e eu a fazer caretas, a fingir-me um monstro comedor de rede de parque, a ficar com o dente preso, a arrancar o primeiro dente de leite.) Lembro-me de ainda teres todos os dentes de leite quando convenceste o pai a mandar construir uma gaiola onde tinhas dezenas de pássaros, incluindo um faisão real que passeavas ao ombro. Lembro-me de teres escondido o esquilo na casa de banho e de me teres pedido que desatarraxasse o bidé, quando ele se enfiou pela parte de trás; de não ter sido capaz de voltar a apertar os parafusos, de ter sido culpado por se ter partido o bidé. Lembro-me de teres levado os produtos da mãe para as tuas amigas se maquilharem e de ter sido um Carnaval lá em casa. Lembro-me de correr atrás de ti, segurando o selim, enquanto aprendias a andar de bicicleta; ainda sei que foi na "rua estreita" que andaste sozinho pela primeira vez. Lembro-me de teres medo do escuro e de não gostares de estar sozinho; por isso, respondia aos teus olá: subias as escadas e dizias olá, entravas no teu quarto e olá, atravessavas o hall olá, em cada divisão até regressares àquela onde eu estivesse olá, ecoava sempre olá. Lembro-me que apenas a disputa pelo beliche de cima nas férias nos fazia chegar a vias de facto. Lembro-me de seres o tomatinho maduro, de tão louro, tão sorridente, tão coradinho, tão querubim. Lembro-me de muitas outras coisas que não cabem nas conversas do almoço de aniversário. Lembro-me de sentir desde sempre, mesmo desde antes de o saber dizer, que "meu irmão" significa... entre nós, está tudo dito.
É bom ser irmão mais velho (e mais novo também. Eu sou uma privilegiada e acumulo funções).
ResponderEliminarBoa tarde!
Querida Mirone,
EliminarÉ mesmo muito bom ser irmão mais velho. É, aliás, causa de sucesso, saúde e sorte, de acordo com os últimos estudos postados no fb. Já irmã do meio... não lhe auguro nada de bom. E olhe que eu sei do que falo: tenho uma...
(É mesmo!)
Um beijo,
Outro Ente.
Pois, também já vi os últimos estudos facebookianos. Tenho a dizer que serei um caso especial. Dá-se o caso de ter irmãos indescritívei que fazem de mim a irmã mais nova e mais velha mais abençoada do mundo.
EliminarLá por não ser carne nem peixe, não quer dizer que não seja o especial da casa...
Eliminar(Amen sister.)
Uma folha de diário com cheiro a algodão doce. Tão bom!
ResponderEliminarParabéns, aos manos. e aos pais pelos filhos.
Querida Té,
EliminarEste seria o diário escrito com o propósito de ser lido pela mãe...
Beijos,
Outro Ente.
Muito mais original, este seu diário. :)
EliminarBeijos - para todos, por ser dia de festa.
Nunca escrevi um diário... foi preciso chegar a esta idade, em que até o mais novo está mais velho.
EliminarTchin Tchin.
Lá está "nunca digas nunca" :)
EliminarTchim Tchim
Saúde
A nossa existência, do princípio ao fim, está entrelaçada com a dos nossos irmãos. "É um irmão", e está tudo dito.
ResponderEliminarUma ternura esta sua prosa de afetos.
Beijinhos e parabéns aos dois :)
Querida Miss Smile,
EliminarOs irmãos viveram connosco e como nós, pelo que compreendem o que não se explica.
Boa tarde,
Outro Ente.
Uma narrativa com campos descritivos plenos de ternura. Irmãos e afetos para sempre e a combinar. Que bom!
ResponderEliminarBoa noite, Outro Ente,
Mia
Querida Mia,
EliminarPor cá, nem Freud nem Pitigrilli.
Um bom dia,
Outro Ente.
Que presente, estar presente. Parabéns.
ResponderEliminarQuerida Be,
EliminarEssa será a dádiva.
Um beijo,
Outro Ente.
Se eu soubesse, se eu sequer sonhasse que, um dia, havia de ter um irmão a quem serviria de inspiração para escrever uma coisa destas, aí sim, nesse caso não havia de me conformar por não ter irmãos. Ainda bem que tenho vivido na ignorância, até agora :).
ResponderEliminarBonito, Outro Ente, muito bonito este post.
Boa noite.
Querida Cláudia Filipa,
EliminarNão termos irmãos porque queremos ou porque os merecemos. Não somos melhores ou piores por os termos. Como não concebo a minha vida sem eles, não posso sequer dizer-lhe que é melhor assim. Tenho algum receio em soar condescendente quanto a esta matéria. Os meus irmão estão, estiveram sempre, fazem parte. Eles viveram o mesmo que eu, em iguais circunstâncias, têm os mesmos princípios e partilhamos ligações afetivas. Vejo-nos, sei lá, como troncos autónomos de árvores com as mesmas raízes.
A Cláudia é, também, tronco de árvore autónomo. Interessa a bondade dos seus frutos, não as suas raízes.
Continue a inspirar posts bonitos.
Um beijo,
Outro Ente.
Olhe que já sou um bocado convencida, assim, vou ficar insuportável.
EliminarObrigada, Outro Ente, tenha uma boa noite.
Só sei o que é ser a irmã mais nova, mas conheço bem essa protecção de fala. Ela só tem mais 12 meses que eu, mas batia em todas as grandes, quando elas me faziam mal.
ResponderEliminarEspero que tenha tido um dia feliz, Outro Ente. E que o de hoje o iguale.
Um beijo,
Linda Blue.
Bom dia querida Linda Blue.
EliminarOxalá cá estejamos todos para ver.
Beijos,
Outro Ente.
Hummmm acho que troquei isto... deve ser da idade...
EliminarPassa-se algum fenómeno hoje, a blogosfera masculina, que todos se sentem velhos?
EliminarEu ainda me sinto bem. E sem barba, nem sequer de molho.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEu estive no berço, a ser embalada, e voei uma vez. Também é bom ser a mais nova e sentir o carinho todo que nos chega, prontinho a mimar-nos.
ResponderEliminarBeijo, caro Ente :)