terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ComicsTrips

Amar para sempre é o absoluto de quem se vê no futuro. Eu tenho uma noção inexata dos serões projetados e não consigo imaginar algo que, por gosto, frequentasse a vida inteira. Há quem escreva gestos quotidianos concretos e ignore que a vida é um espetáculo abstrato. Podendo, escolho escrever-me livre, ainda que seja apenas para satisfazer vontades intelectuais em conversações de trocadilhos idiotas, assim vencendo o vício de frequentar o salão de cerimónias dos verdadeiros intelectuais. Não sei como aqui vim parar. Garanto que articular um manual de maneiras não está nos meus horizontes. A despropósito, as coisas mais vulgares podem tornar-se moda e, logo, passar por distintas. O que não lhes altera a natureza e depende apenas do gosto coletivo da ocasião fortalecido pelo ensejo individual de se sentir participante... ou não depende de nada e circunscreve-se à imitação de hábitos. Na revolta contra os dogmas a energia vital há-de ser intrínseca. Os salamaleques desvirtuam o pregador num padreco. Uma chanfrada é uma chanfrada. Há silêncios que não são erudição nem consentimento, apenas ignorância. Quem vai ao baile nos Saint-Cloud mas não passa pela porta direita da escadaria D nunca saberá o que é gozar em Combray. Ainda assim, há quem se ache preso no quarto a ver as vistas, resignado com a auto-imposta imagem de prestígio social, amarrado a maçadas suportáveis. Há quem vá por toda a parte. 

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