As gordas do dia aparecem-me como apanhados já vistos. Alguns posts lembram-me os jornais que guardo para o pintor. Leio entrevistas onde só vejo entrelinhas. Fidel virou Merlin. As famílias parecem coligações eco, mais ou menos friendly. Fotos de R-sorte, para o ano há mais, quer D. Sebastião venha ou não. Publicam-se as das teias de aranha lá fora, apesar de cá dentro, das telhas partidas num canto perto de si, das árvores raquíticas ao pé da porta. Sabendo que não gosto de Kutjevo, não resisto a encetar a garrafa, que nunca acabo. As mulheres feias também têm direito a selfies. O egoísmo, quando nasce, é para todos. Antes do GPS também se viajava. O pior era quando os mapas estavam desatualizados e um homem entrava ali e nas indicações só percebia a direção de Ring e as voltinhas à rotunda à custa da bússola, até descobrir Den Haag e ser o Senhor dos Anéis King of the Road antes do Titanic que já afundara. Ainda há quem lá ande, sem saber se segue à esquerda, se cruza à direita. Os barcos não afundam de repente. Ainda assim, por vezes é tarde. O melhor que fiz por mim, não digo. Isso de um gajo dizer que se despe e ficar de meias. A coisa mais idiota que me fiz? Chuva de pedras. Remendavam pedaços de calçada na passagem de carros da herdade. Paralelepípedos amontoavam-se e convidavam à brincadeira. Gritei chuva de pedras e atirei-as ao ar... Abri a cabeça pela primeira vez. Um mover de olhos, brando e piedoso, sem ver de quê. Gosto muito de poesia portuguesa. Falar "poesia portuguesa" soa-me Brasil. Resisto à piada fácil sem morder a língua. Opto por não resistir. Escolho ir a jogo.
Morde-me com o querer-me que tens nos olhos
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te…
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te…
Desfolha sonhos teus de dando-te variamente,
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me… E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção…
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me… E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção…
Possue-me-te, seja eu em ti meu spasmo e um rocio
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha…
Meu amor será o sair de mim do teu ócio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha…
Meu amor será o sair de mim do teu ócio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?
(Fernando Pessoa)
São questões bem apontadas e bem observadas.
ResponderEliminarO poema de Pessoa culmina aqui na perfeição.
Beijo.
Querida Sandra Louçano,
EliminarCom Pessoa, difícil é errar.
Um beijo,
Outro Ente.
agradeço o poema... que bem me soube reencontrá-lo.
ResponderEliminarfechou a minha noite em beleza.
Caro Anónimo,
EliminarObrigado pelo amável comentário.
Bom dia,
Outro Ente.