quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Se o blog fosse poema

Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao seu silêncio outro silêncio,...
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.



Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.


Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.


Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.


(António Ramos Rosa)

7 comentários:

  1. Permita-me que lhe diga que o seu blog tem sempre algo de poesia e de sonho.

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    1. Ena Ana, apanhou-me desprevenido com a simpatia do seu comentário.
      Obrigado,
      Outro Ente.

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  2. Excelente poema deste meu colega ex-colega de editora!

    (o ultimo livro dele em vida foi "Numa folha leve e livre" da Lua de Marfim Editora - passe a publicidade)

    :)

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    1. Caro C. N. Gil,
      Há quem trate as palavras por tu e não precise de arabescos para fazer flores.
      (Esse é o tipo de publicidade que, por aqui, interessa.)
      Bom dia,
      Outro Ente.

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    2. Eu, pessoalmente, também prefiro a linguagem simples mas assertiva e segura aos artifícios estilísticos que, por mais belos que possam ser, fazem muitas vezes perder o fio à meada!

      (se bem que, culpado me confesso, por vezes uso os artifícios estilísticos para tentar dar as sensações que as palavras não dão pela sua própria natureza, sobretudo o tentar dar ritmo e musicalidade a certos trechos de escrita, mas tento sempre que a linguagem não seja complicada)

      Um excelente dia também

      :)

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  3. Um poema é sempre a busca do outro e só está completo quando encontra o leitor. É nesse momento, nessa forma justa, que nasce o poeta – quando encontra o leitor. No espaço, que é a página do poema, juntos, constroem um mundo. E eu acredito que cada poeta nascido faz nascer uma infinidade de leitores que continuarão a ouvir a sua voz, conferindo mais significado aos seus dias.

    (...)
    "Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
    E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo ."

    Sophia de Mello Breyner Andresen / A Forma Justa

    Gostei de ficar aqui um bocadinho, sentada nesta sua ampla esplanada, neste espaço que, sendo seu, é já um bocadinho meu. Afinal, na qualidade de visita assídua, sou também um bocadinho "operária da construção" do seu blog, não é verdade? :)

    Um beijinho, querido Outro Entre :)

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  4. Querida Miss Smile,
    Tem sempre palavras tão gentis.
    É verdade, sim. Tal como é verdade que as suas visitas me regozijam.
    Um beijo,
    Outro Ente.

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