terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ironias perfeitas

Chegaram à praia fazendo jus à "gente gira" que se produz para desfilar as toilettes das revistas de cruzeiros >50. Ela teria idade para ser tia. Ele seguia atrás dela, com o jeito gaiato de quem nunca foi mais do que afilhado. Refastelados nas espreguiçadeiras, pegaram nos seus livros. As letras garrafais evidenciavam a sintonia: liam o mesmo autor.
(Poucos são os temas que me fascinam tanto quanto o dos casais perfeitos. Uma espécie de "querer crer" de quem reencontrou a fé mais vezes do que aquelas em que a perdeu.)
Escorreu o dia sem que me apercebesse de que tivessem trocado uma palavra entre si, apesar de ele ter trotado sempre que ela deslizava ao lava-pés.
Vinha-me embora quando reparei que ela lia O Manipulador e ele O Testamento.

7 comentários:

  1. Todo o texto pede um comentário regado de acutilância e barrado de protetor solar. No entanto, pelo facto de ter o cérebro em pousio, não é possível cumprir, e merecia .
    Continuação de boas férias, Outro Ente.
    Um beijo,
    Mia

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    1. Querida Mia,
      A pérola de ter "o cérebro em pousio" é impagável.
      Muito obrigado,
      Outro Ente.

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  2. E não poderá o silêncio, umas vezes empregue para mascarar relações imperfeitas, servir também para aperfeiçoá-las?
    Fujo a sete pés daqueles que se me apresentam em existentiva palavrosidade, como se estar calado fosse sinónimo de estar morto, como se não conversar com fosse ignorar.

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    1. Querida Lady Kina,
      "Como se estar calado fosse sinónimo de estar morto"? PIM. Morri.
      Infelizmente, não sei como se aperfeiçoam relações imperfeitas. Acredito que não vale usar o silêncio para "deixar andar" nem a palavra para magoar. Nada mais.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  3. Depois de ler o que escreveu, fiquei com vontade de deixar aqui, uns pedaços de um texto que guardei (texto, todo ele, fantástico), de um blogger, que agora, infelizmente, anda a escrever muito pouco. Do, Enorme, Menino De Sua Mãe:
    "Se o amor fosse cantado, era um dueto. E há uma diferença grande entre um dueto e duas pessoas simplesmente a cantar juntas, dois solos cantados ao mesmo tempo. E é isto que são muitas relações. Solos a dois.(...)
    No lugar do amor fica muitas vezes outra coisa, esse placebo, a conformidade, o hábito, o estatuto, o domínio sobre o outro. O ter alguém a quem chamar seu, sem perceber que o “meu” que era entrega agora é posse. O “meu” do amor é sempre entrega.(...)Intimidade, cumplicidade, comprometimento, projectos, carinho, desejo. O amor é a soma disto, uma estrela de seis pontas. Se os tiveres, há amor mesmo que o não digas. Sem eles, “amor” é só uma palavra vazia."
    Desculpe ter fugido um pouco ao tema, Outro Ente, afinal, o tema do post não é o amor, mas sim, casais perfeitos.

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    1. Querida Cláudia Filipa,
      Teimo em confundir os temas. Sou um crente na fusão. Contanto que não seja gastronómica.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  4. A gravata só está no que se usa por fora.

    Beijos, caro Ente, e uma boa noite. :)

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