Da terceira margem da barragem onde me encontro concebo perder-me sem partir. A deformação efabulada do promontório final confunde os mais orientados. A fachada do templo nunca foi familiar e jamais será intacta. Talvez se escore em fendas abertas pelos anos mais negros e sustente alicerces distorcidos por inamovíveis raízes.
Repouso em troncos vivos, enquanto a alucinação não se esfuma e me faz acreditar que nada nos é inaceitável. Vagueio por entre regras e evito fronteiras. Entretanto, entre nós, todas as separações são falseadas. Absurda é a imagem grotesca da desconfiança trazida pela ausência em forma de espólio indulgente.
O equívoco derroga-nos.
(Bruce Davidson)
Caro Outro Ente,
ResponderEliminarNem nos derrogue, e menos ainda nos derrote, o equívoco. Não existe maior ironia do que a dos desencontros provocados por mal-entendidos.
Um beijo de boa noite,
LP.
Isto é tudo gente muito erudita, e eu assim vou-me já embora.
Eliminar;)
Bom dia meninos dois!
Cala-te, sabes lá o que eu tive que espremer aquele neurónio para tecer um comentário que não parecesse o que é: de analfabeta. E que, como sempre, acertou ao lado.
Eliminar:) Bom dia aos dois também.
Memória
ResponderEliminarI
Na cristalina, líquida presença,
crescente lua no abismo enquanto
o mar se cala, desconheço a margem
onde me espera no desejo
esguio do poente a deusa branca...
À ínfima visão dum lírio encosto
o meu soluço! O espaço é grande...
Não invoco o lugar mas a verdade
surge aquém da espera...
Gaivotas sussurrantes, deixo a música
morrer, pegadas frescas, desperdícios
quentes na relva da minha alma...
II
Quando se oculta julgando a noite
indefesa enorme, a fugidia
estrela me ilumina e desce!
Vem até mim, quebrada a natural
cadência do seu mundo, e cresce... cresce...
Tentáculos de luz me envolvem. Comovido,
aperto em minhas mãos o elanguescente
ardor do seu chegar...
III
Reconquisto agora o teu rosto, um horizonte,
silêncio de grito suspenso, labirinto,
mais desfeito
no hálito das nuvens...
Me surges tão sem ti
que envolve o dia a espessura deste longe...
E afogo assim na íntima, na única
beleza do teu rasto,
o meu soluço de água...
António Salvado, in "Recôndito"
Boa noite, caro Ente. :)
Maria do lápis preto, a poesia deve-te muito.
EliminarA mim? Ora! Eu é que lhe devo muito!
EliminarEntre o bom humor de Cara Linda, a acutilância de Uva Passa e a dádiva de Maria Eu, resta-me agradecer.
ResponderEliminarBoa noite,
Outro Ente.