sexta-feira, 15 de abril de 2016

Frémitos de utopia

Gosto de ver o mar mudar de cor. De poesia na ponta da língua, de arte nas paredes, de mulheres nuas, de móveis, de livros, de vidros, de mochos. Já vos disse que coleciono mochos? E elefantes. Gosto do que é provisório. Especialmente de castigos provisórios. Gostava mesmo de saber o tempo ideal dos castigos provisórios. Gosto de os fazer rir quase até à perdição. Mas de parar a tempo, antes que não aguentem mais e façam xi-xi. Eles só gostam de beijos secos. Eu gosto de todo o tipo de beijos. Gosto de passear. Há quem se defina como um cidadão do mundo. Eu reconheço-me como um mero buscador de mim. Um forasteiro. Quero acreditar em Sophia, quando morrer vou regressar para viver os instantes que não vivi junto do mar. Não sou homem de medos. Gosto de alguns sustos. A paixão, por exemplo, é assustadora. Talvez os únicos sustos de que gosto sejam os da paixão. Gosto de convicções de ética e de posições de estética. Desconfio de quem troca os conceitos. Tal como desconfio de quem escreve verdade com v maiúsculo para dizer coisas minúsculas. Gosto de trazer a infância pela mão. Talvez por isso lhes dê sempre a mão. Relevo a reputação. Se tiver de escolher, sobrelevo o ego. Gosto de estar onde me sinta tão perto do mar que me pareça poder tocá-lo. Mesmo que não baste esticar o braço. Gosto de ter tempo. Gosto de literatura. Gosto do tempo que passo a ler. Gosto que a leitura seja o tempo do tempo abolido.

24 comentários:

  1. Bom dia, Outro Ente

    Tem aqui uma prosa divina, o texto perfeito para abrilhantar a caixa de comentários do senhor Ministro. Isto sim, é uma coisa com pés e cabeça.

    Como forma de enterrar o machado de guerra que teima em erguer-se ente nós, posso pedir-lhe que o copie e deixe em comentário naquele Blog, assinando Daniela Elizabete ;)?
    Fiz um apelo no blog do Dr. Pipoco mas, confirmando as minhas suspeitas relativas ao baixo índice de produtividade daquele blogger, que deixa assim o blog ao abandono, não há naquele espaço ninguém, nem nem um acessor, uma secretária, nem o sobrinho sequer, ninguém para o publicar.

    Eternamente Grata,

    Maria Alice
    (Secretária do Senhor Ministro)

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    1. Bom dia Maria Alice.
      Seria incapaz de assinar como me pede.
      Respeitosos cumprimentos,
      Outro Ente.

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    2. Mas porquê? Não lhe agrada a sonoridade?
      E se for Margarida Mónica? Andreia Célia? Sugira um nome, estou por tudo!

      Pronto, assine Outro Ente, o Senhor Ministro é um homem de mente aberta e sem preconceitos.

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    3. Maria Alice! Em fez de me estar a claudiafilipar os posts anda aqui enfiada?! Vá, zut, zut, zut, ala para o meu blog!

      (faz muito bem Outro Ente! Onde já se viu assinar com nome de mulher! Este mundo está perdido, é o que é!)

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    4. A história d'O...
      Não sabe o que perde.

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    5. Vai encher a caixa de comentários do Senhor Ministro com citações de um romance erótico?!
      Que seja, o Senhor Ministro não se há-de importar, se for um citação com classe e bom gosto, e se o Outro Ente prefere assim... mas por favor, ajude-me, não me deixe falhar na execução da missão de que fui incumbida.

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    6. Muito querido Outro Ente,
      Prosa brilhante.
      Beijo do dia,
      AnjoLina Suspiro.

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    7. "Ao dizer a [Outro Ente] que gostaria de que lhe falasse dos grandes poetas, [Maria Alice] imaginara que ia logo conhecer coplas heróicas e romanescas no género das do visconde de Borelli, ou coisa mais emocionante ainda".

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    8. Luminoso é AnjoLina Suspiro.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    9. ahahahahahahahahahahahahahah

      (aleluia, tá tudo doido!)

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  2. ahahahahahahahahahahahahah

    suspeito que aquilo que teima em erguer-se entre vós não será um machado, mas enfim, ele há eufemismos.

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    1. :DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

      És tão provocadora, Kina!

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    2. Minhas meninas,
      Bem sabeis como a Senhora D. é dada a eufemismos.
      Bom dia,
      Outro Ente.

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  3. "Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos."

    Anaïs Nin

    Deixo-o com o Anjo, ciente de não poder e certa, também, de não querer dar-lhe o que nele procura.
    Oh, pudessem as palavras ditas desditas ser!
    Muito obrigada pela inacção. Perante as adversidades o carácter forma-se ou definha. Que o auxílio que aqui me foi recusado fortaleça o meu espírito e o corpo, porque a tarefa que tenho pela frente é hercúlea.

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    1. "Continuando a lançar olhares furtivos à [secretária] o ministro via com tristeza e compreensão que ela sentia a cólera de um Grande Inquisidor que não conseguisse extirpar a heresia; e para ver se induzia [Outro Ente] a uma retractação, visto que a coragem das próprias opiniões sempre parece um cálculo e uma covardia àqueles contra quem se exerce, resolveu interpelá-lo (...) por causa daquele único infiel não conseguiria efectivar a unidade moral do pequeno núcleo".

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    2. A unidade moral é de conhecimento oficioso, não carece de alegação.

      Maria Alice
      (Dispenso citações)

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    3. "Ache o que bem quiser, mas ao menos não nos diga".
      (Se lhe podia explicar a diferença entre juízos e factos, entre factos notórios e temas de prova, entre exceções dilatórias e exceções perentórias, entre conhecimento oficioso e princípio do dispositivo? Poder, podia, mas não me apetece.)

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    4. Que bonitos galões, esses por que puxa, Dr. Outro Ente (percebo agora o motivo de tanta animosidade, não o tratei antes pelo título devido).
      Há não muito tempo encontrei uns em tudo semelhantes à venda num antiquário ali ao Príncipe Real.

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    5. Outro Ente não é "Dr.", menina. (Não me diga que "A Secretária" também não é menina.) "Animosidade"? Pois se a tenho presenteado com tão belas e reutilizáveis citações...
      Hei-de passar pelo Andrade.

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    6. Ó Maria Alice, ainda aqui está? Estou farto de tocar a campainha e nada?! Não tarda estou a amarrá-la à perna da mesa! É que já faltou mais. Ai já, já!

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    7. (Menina, donzelíssima)
      Presenteado, pois sim. Cito-o, Outro Ente, avisando que os da minha estão bem definidos:
      "A ingenuidade deveria ter limites"

      Passando ao Princípe Real, espreite a Alexandria. Têm uma estupenda secção dedicada aos romances de cavalaria que tenho a certeza que gostará de conhecer (devia). Disse-mo o proprietário quando lá me desloquei a fim de adquirir um um exemplar raríssimo do Anel dos Nibelungos para oferecer ao Senhor Ministro.

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    8. Amarrar-me à mesa, Senhor Ministro? Ohhh, Senhor Ministro, ohhh, é para já.

      (saio em passo de corrida!)

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  4. E depois, mar rima tão bem com infância. E com paixão, também! Mar tem rimas inesperadas, por isso se ama, o mar.

    Beijo, caro Ente, e uma boa noite :)

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  5. A literatura é boa, de facto, quando se transforma no tempo do tempo abolido.

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