segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sinais ambíguos

Os perritos e seus cocós dizem muito sobre o civismo do barrio.
A exploração de cavalos, atrelados dias inteiros, à torreira, de freio na boca, puxando coches em pisos que lhes são tão penosos, diz o quê sobre quem?

19 comentários:

  1. Boa tarde Ente,
    Já dizia o Gandhi, a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados...
    Abraço

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    1. Caro Urso Misha,
      Não sou conhecedor da filosofia de Gandhi, para além de alguns lugares comuns de apelo à não violência. Agradeço-lhe, pois, a citação.
      Um abraço,
      Outro Ente.

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    2. De nada, mas além do "normal" e das histórias que o meu tio me contava sobre ele também não sou grande conhecedor.
      Mas essa dos cavalos e quando passa a charanga da GNR com os seus animais que deixa um trajecto de despojos...
      Mas acho essencial a salubridade das cidades e que os donos apanhem os dejectos dos seus animais.

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  2. E o que dizem os que utilizam riquechós puxados por outros humanos? Foi um serviço que nunca consegui usar.

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    1. Querida Mirone,
      Compreendo as suas reticências. Embora, nesse caso, estejamos noutro patamar: a exploração do homem pelo homem. Aí, poderíamos falar dos barcos remados por outrem e de muitos outros exemplos em que a força braçal de uns é utilizada por outros... e acabaríamos, porventura, a idealizar um novo paradigma de sociedade.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    2. Em última análise os animais foram domesticados por uma questão de utilidade (para alimentar o homem e para lhe facilitar algumas tarefas). Acontece que quando falamos do seres humanos o utilitarismo pode ser extremamente pernicioso. Sei que a corrida que recusei provavelmente poria o arroz no prato naquele dia, mas na altura não concebia, como ainda não concebo hoje, que um prato de comida dependa de um esforço tão desigual. Éramos três adultos 'robustos' e o próprio riquechó de um lado e um senhor que aparentava ter idade para ser meu pai e corpo para ser meu filho (quase) do outro. Para ver as vistas e tirar fotos que nunca chegaram a ser descarregadas do cartão da máquina? Não muito obrigada.
      O homem domesticou animais mas também inventou máquinas. Vi as vistas e tirei as tais fotos, mas num tuc-tuc...

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    3. Como disse, compreendo a sua opção. Colocado na situação concreta (e depois desta sua descrição tão familiar a apelar ao sentimento) não sei o que faria.
      Quanto ao domesticar animais e a ocupar o cume da pirâmide, nada a apontar. Por outro lado, o antropocentrismo já foi chão que deu uvas, o Hobbes já morreu, o dever de respeito e preservação ganhou voz e as gerações futuras ganharam direitos.
      (Se o tema dos animais não cabe em caixas de comentários, que dizer do que suscitou? Sendo propositadamente vago, assumo que adiro ao veiculado na Carta Encíclica Laborem Exercens.)

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    4. (pois, não cabe... e ainda que coubesse, não sei se me saberia exprimir de forma suficientemente assertiva. Perritos, caballos e hombres já dão pano para mangas, imagine se trouxesse à liça os toros).

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    5. Por Zeus, do que ela se foi lembrar...

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  3. E dos perritos que ladram incessantemente à los caballos, o que se diz?

    (Também os vi a patinar no alcatrão...)

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    1. Doce Palmier,
      Aos perritos diz-se: "mau-mau cutxy-cutxy". Dos perritos diz-se: "pobrecito, és que no está acostumbrado."
      A solução passaria por uns dias numa quinta e umas voltas no picadeiro com uma égua mansa e uma Daisy. Logo aprenderia a estar calado e a não andar atrás dos "dadores de coices".
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  4. Uma e outra situações ocorrem porque existe uma mesma autoridade reguladora comum, que obtém receitas com ambas, por muito antagónicas que elas sejam entre si...
    Um beijo, Outro Ente.
    Continuação de boas férias.
    Linda Blue.

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    1. mesma autoridade reguladora comum = redundância inadvertida :)

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    2. Querida Linda Blue,
      Precisamente. Ou seja, a conveniência dos mesmos. Queremos as ruas limpas e os animais à disposição, num antropocentrismo excessivo e redutor.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  5. Então, Outro Ente, é um termo com uma definição tão bonita, o civismo. Depois para pôr em prática, é que são outros quinhentos.
    "Falou" de cavalos, lembrei-me de burros. Faz-se ao civismo, o que se faz ao burro, "albarda-se à vontade do dono".

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    1. Querida Cláudia Filipa,
      A questão dos cães cabe no conceito de civismo, de Civis, Civitas, enquanto noção relativa a regras de vida em sociedade. Já a exploração e, inclusive, o mau-trato de animais extravasa-o. Ainda que se não aceite a existência de "direitos dos animais" em sentido estrito, não poderá continuar a fazer-se tábua rasa dos direitos das gerações vindouras, designadamente ao meio ambiente.
      Há muitos anos, ainda antes desta consagração constitucional, abordei o tema defendendo a existência de deveres fundamentais quanto ao tratamento dos animais, ainda que não pudesse falar, com propriedade, em direitos correspetivos. Entendia, como entendo, que a garantia de um saudável desenvolvimento (humano) pressupõe o respeito por e a preservação de animais.
      O dito popular que usa aplica-se, salvo erro, relativamente àqueles que convicta e deliberadamente persistem no erro, sendo que burro e dono se confundem na mesma pessoa. Não é o caso. E, uma vez mais na minha opinião e com respeito por entendimentos diversos, não tem o dono o direito de propriedade inteiro, entendido nas vertentes de "utendi et abutendi", por estar já ultrapassada a mundividência que coisificava os animais.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    2. Estivesse hoje para amar, dir-lhe-ia que gosto de ler alguns dos seus textos como quem escuta, encantado, uma melodia. Foi o caso deste comentário-resposta à Cláudia. E depois o emprego de certas palavras e expressões revitaliza em mim algumas energias moribundas: "em sentido estrito"; "tábua rasa"; "convicta e deliberadamente"; "a mundividência que coisificava os animais".
      Digo na mesma, se não para amar, serve, ainda assim, para me armar.

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    3. Sim, Outro Ente, a Lady Kina tem razão. O que eu gosto, destas suas respostas.
      Pela saudável troca de ideias, primeiro, começo por dizer-lhe que concordo inteiramente consigo. Segundo, vou explicar-lhe, a minha ideia quando fiz esse comentário.
      "Albarda-se o burro à vontade do dono", significa, fazerem-se as coisas de acordo com a vontade de quem detém o poder, quem manda. No caso que deu origem ao post, é da vontade de quem manda, que as ruas estejam limpas e ninguém ande a pisar cócó. Muito bem. Ninguém gosta de ruas sujas e muito menos gosta de andar a pisar cócó. No entanto, parece já não incomodar, a exploração de animais de uma forma que simultaneamente os faz sofrer. O zelo em contribuir para o interesse público (que faz parte da definição, de civismo, como sabe) abrange, neste caso, a sola limpa do turista, que pode não regressar se andar a patinar em cócó. Mas depois, levar-se o turista a passear de coche, é, pelo que parece, interesse público superior, ao do respeito pelos "direitos dos animais".
      Como sabe, faz também parte da definição de civismo, o comportamento demonstrativo de respeito pelos valores da sociedade e pelas suas instituições, esse é um exemplo, de como podem ser, as próprias instituições, a desrespeitar, valores da sociedade, que são, neste caso concreto, tudo o que disse na resposta que me deu, muito bem resumido, nesta frase: "...estar já ultrapassada a mundividência que coisificava os animais". Então, por isso digo, que estamos perante uma clara falta de civismo institucional. (sim, "extravasa", o civismo. Mas a legislação nestas matérias, em que moldes existe?. E a que existe, não permitirá interpretações para todos os gostos, para, lá está, possibilitar o tal "albardar à vontade do dono"?. É que os coches, as charretes, andam aí, à vista de toda a gente, por todo o lado, encaradas com toda a naturalidade.)
      Hoje, deixo-lhe beijos, pela resposta e pela paciência de ler isto tudo.

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