Para quem gostou de Ivan Ilitch e só lhe lamentou a morte tão breve, recomendaria Roger Vailland. Não sendo um calhamaço, impõe respeito. É suficientemente conhecido e simultaneamente obscuro, pelo que não compromete. E é tão bom, mas tão bom, que o podemos abrir ao calhas e ler apenas meia dúzia de linhas para ficarmos inspirados até ao folhear seguinte.
"A sua única moral, mas que tinha sido a regra intransgressível de toda a sua vida, tinha sido guardar-se para uma tarefa que nunca tivera de cumprir. Cada vez que se achara a ponto de ficar completamente empenhado naquilo que sentia não ser essa tarefa essencial (que, finalmente, nunca tivera de realizar) tinha-se brusca e facilmente desembaraçado, como se livra um esgrimista bem nascido e treinado nas armas."
"Ele estava como morto. Sentia-se desprender, exactamente como se desligavam aquelas frágeis nuvens, quando o vento muito leve que as tinha feito entrar no horizonte meridional da janela e acentuava lentamente a curvatura do arco que desenhava no céu tendia, à medida que se aproximava do horizonte setentrional, a dissipa-las numa bruma dourada. Assim, tinha ele pensado sem angústia nem felicidade, como se fosse uma coisa para si próprio, assim, tinha pensado, é a morte, a minha morte. Mas se tu sentes a morte, é porque vives, ó homem!"
(in A Lei)
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