terça-feira, 3 de outubro de 2017

Se o Outono fosse meu*

Se o Outono fosse meu haveria chuva e vento e névoa e monge, temperos da vida e tempos de recolhimento. Haveria vida fresca e renovada, lavouras e lareiras. Haveria dias de Golegã, excessos de maresia e de terra e de nós. Nasceriam os frutos do porvir. Haveria manhãs de luz breve, paisagens profundas, pão-de-ló e ginja, fermento e aconchego. Haveria fins de tarde na praça, regados a café e castanhas, recheados de palavras evocativas do império dentro de nós e de impropérios, embalados pelo badalar de cada minuto que passa, espreitados pelo sino da igreja matriz mais alta que as árvores altas. Haveria sombras cúmplices e serões de tréguas e regressos possíveis. Haveria noites crescentes de breu absoluto passadas em intimidades secretas. Haveria ressurgimentos breves de um Ájax menos cansado pelas coisas sérias da vida.
Se o Outono fosse meu seria como dantes. Como hoje.

*Mia deu o mote, Impontual também aderiu.

6 comentários:

  1. Com tanta beleza, tanta luz e frescura, aconchego, aromas campestres, licores, castanhas e maresia...se o Outono fosse seu, Outro Ente, eu queria fazer parte dele, como se fora uma gota de orvalho...podia?

    Boa tarde, Outro Ente! :)

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  2. seria assim, um outono abençoado por tanta dádiva.
    Boa noite, Outro Ente,
    Mia

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  3. "Haveria ressurgimentos breves..."

    É exactamente isto, meu caro Outro Ente. Cada folha uma flor.

    Abraço.

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    1. Meu caro,
      "cada folha uma flor"? nem eu sou tão ambicioso.
      Mas lá que o outono sussurra aconchego...
      Abraço,
      Outro Ente

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