sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Das agências de blogs e pouco mais

Os bloggers nascem iguais. Iguais a si próprios! Deixem-nos ser astutos empresários ou jovens agricultores que "consideram de que" e estão sempre "há espera". Deixem-nos continuar a repetir ternas frases nascidas de maligna obsessão com a consistência de uma publicidade sem objeto. Deixem-nos preferir o êxtase inchado à lucidez vazia. Ó dentaduras. Ó próteses. Ó vícios espetaculares. Ó ganha-pão. Ó manhas saloias. Ó labregos. Ó lagartixas. Ó agências de pechisbeque. Quereis colar marionetas com cuspo e transformá-las no coelho de peluche? Exilo-me em ilhas de tabaco na região de Cognac e bebo, mas não esqueço. No charco da galinha dos ovos de ouro chafurdam Cornélias e osgas que se creem crocodilos do Nilo. Pelo batom vermelho. Pelo cheiro a verniz. Pela catapulta do pudor. Pelo colchão deformado. Pelas mamas de Nut. Pelo nada impulsor. Pelos cães amestrados do universo. Pelos peixes malcheirosos dos mercados. Pelos martelos de orelhas. A energia erótica das autoestradas dos looks parece interminável. Já ninguém corta a barba no barbeiro. Nem eu. Nem os ascetas. Temos isso comum. Deixem-nos ser como são. Talvez a proeza resida num paradoxo em que 5 = 0. Talvez não. Talvez a estratégia da inimputabilidade extermine a imputabilidade. Talvez a potencie. As profecias são imbecis. As moralidades ocupam as horas vagas. As interpretações são absurdas. Embora, não mais do que o cenário de cadeiras podres dispostas e trajes de nobres esfarrapados empilhados a um canto. Ou somos todos imputáveis e vamos ao Ritz ver Fellini. Ou somos todos inimputáveis e medimos a genialidade pelo tamanho das olheiras. Abaixo as agências de blogs que perpetuam um simulacro de evolução, que prometem conduzir aos Shrines e desembocam em templos de gargalhadas despudoradas. Viva a identidade de quem nem ao espelho se reconhece. Viva a tagarelice de Fernão Mendes. Viva o Amor com H. (e U.)


8 comentários:

  1. "Leva coisa sem valor e traz pimenta, canela, ouro..." in Fernão Mentes (Helder Costa)

    Brilhante Outro Ente, como sempre. Amei.

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    1. Querida Be,
      Arroz doce com canela. Isso sim, é coisa de valor.
      Bom dia,
      Outro Ente.

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    2. Desculpe, caro Outro Ente, o texto está excelente mas vim ao cheiro do arroz doce com canela. Não lhe resisto. É aqui que se encomenda?

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    3. Querida Ava Pain,
      Só é bom se for acabado de fazer. E se deixarem uma concha dele no tacho. Para eu poder rapar com a colher de pau aqueles grãos teimosos que (felizmente) teimaram em agarrar ao fundo. Na verdade, há coisas boas que não são de vender, nem de encomendar. Faça como eu: peça-o a quem lhe quer bem.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  2. Fechei os olhos (depois de ler, evidentemente, que de entre os meus infinitos predicados, a visão raio -X não é o mais desenvolvido-diria mesmo que é inexistente) e imaginei o Mário Viegas a ler este texto. Teria sido um enorme momento.

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    1. Querida Mirone,
      Mário Viegas tinha o condão de transformar em bom tudo o que lia e de só ler textos bons.
      Bom dia,
      Outro Ente.

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    2. Excelente dia, Outro Ente.
      Um beijo.

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  3. Boa noite, Outro Ente,
    Dei conta de ter acabado de ler um texto recheado de cheiros e paladares impossíveis de igualar.
    Bom fim de semana.
    Um beijo,
    Mia

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