quinta-feira, 31 de março de 2016

Sakura



Dizem-me que as flores das cerejeiras existem apenas 10 dias por ano. Digo-vos que Outro Ente está com sorte...

quinta-feira, 24 de março de 2016

Breve post dos "eu já..."

Fiz teatro amador. Desisti de uma conquista por um amigo. Acordei bem-disposto. Li o Livro dos Snobes. Vivi no estrangeiro. Assinei um contrato de trabalho. Tive paciência para gente tonta. Recusei mais entrevistas do que dei. Decorei poemas. Arrematei um cavalo em leilão. Amei. Comi mel até enjoar. Dediquei serenatas. Disse o que não devia. Vi o brinca-brincando. Tentei apaixonar-me pela mulher certa. Ofereci resistência a um assalto. Boiei no Mar Morto. Mergulhei no Vermelho. Ouvi os Cantos da Antiga Edna. Tenho menos sonhos por realizar. Atirei moedas para fontes. Lamentei o que não fiz. Tentei substituir uma pessoa por outra. Ensaiei Montaigne. Pedi desejos a pestanas. Tive crises de fé. Beijei por pena. Tive medo. Tive medo de mim. Sofri um acidente de viação grave. Reatei. Passei noites em claro para acabar de ler um livro. Fiz diretas. Vi o nascer do sol em quatro continentes. Fiz escolhas. Fantasiei com a Cármen. Ri com Aristófanes. Subi ao Monte Sinai. Desisti. Chorei amigos. Viajei sem destino. Perdi tempo. Fui menos bom. Escrevi coisas mais interessantes.   

Ela é chique

Yeah yeah yeah yeah yeah yeah
Oh chique oh chique
Got it got it got it

Ela é chique
Ela é doce
Ela passa pelas outras tipo pastel
Quando ela bloga
Ela sabe o que faz
Fica impossível não ler para trás
Ela parte o alicerce
Ela parte a balança

Ela sabe que é capaz
Ela parte-me os pinos
Ela parte-me as correntes
Impossível não louvar para trás
Ela parte o esquentador

Quando ela veste o casaco
Ela é so good
Just can't get it enough
Ela escreve, eu leio
Ela parte o galheteiro
Que ela tem aquele cabelo que eu digo
"What the Cutxy so what, so what, so what"

Eu não tenho culpa que ela tenha aquele hair
So what, so what, so what
Mas ela vai te dar o toque tipo ri-te mesmo assim
Eu vou tentar
Aborrecê-la

Eu vou tentar
Galhofar não só com ela
Eu vou tentar
uhmm
Pode ser que eu consiga, siga, siga
Se é para tentar então siga
Ainda por cima

Ela é chique
Ela é doce
Ela passa pelas outras tipo pastel
Quando ela bloga
Ela sabe o que faz
Fica impossível não ler para trás
Ela parte a  pintura
Ela parte o cartaz

Eu não consigo não querer
Rolar para trás para ler
Como ela sabe abastecer
Ai eu sou fã da maneira
Como ela esconde a cabeça

Ela sabe o que vestir
Ela sabe tirar selfies
Com aquela gabardine
Com aquela gracinha

Numa coisa podes crer
Eu vou tentar
Aborrecê-la...

Não rolar ai não dá, ai não dá yeah
Não gostar, ai não dá, ai não dá yeah
E ela sabe que não dá, que não dá
Ela, ela parte, parte a loiça toda
Ela, ela põe, põe tudo em pratos limpos

Yeah chique tu já sabes quem é a chica

(Mui livre adaptação de "ela parte-me o pescoço", Agir.)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Estória incompleta

Lembro-me da primeira vez em que andei de mãos dadas, de atravessar o portão do liceu, a passadeira, a rua íngreme até à Baskin Robbins, sempre sem largar a mão da minha apaixonada. Nunca confundi curtição com paixão, mas ainda fundo o amor com a paixão. Casei com a mãe dos meus filhos e foi a única mulher que viveu comigo. Ela foi o meu amor, a minha destemperança, o meu livro, o meu hino. Ela era livre e eu amei esse vento que ela tinha dentro. De rajada, a casa tornou-se-lhe uma prisão, as viagens um tédio, as obrigações um contratempo, as crianças um empecilho. Não sei quando a ouvi dizer "um dia vou-me". Sei que, no dia em que a ouvi repeti-lo, fomo-nos.

terça-feira, 22 de março de 2016

Passou-se

O tipo diz que atravessou o mundo por minha causa, assume-se praticante de bdsm, embora não se decida se prefere ser oprimido se obedecido, alardeia as habilidades da sua cartola e oferece-me uma coelha kitsch? Até tenho receio de dizer vade retro.

Aquele dia

Em que acordas a sentir-te doente, com a cabeça pesada e o corpo moído. Em que te reconheces atacado pelas malvadas ites. Em que te obrigas a levantar e, a muito custo, consultas o armário dos medicamentos, procuras os de adulto que estão lá em cima e quase não consegues esticar o braço, desesperado olhas para a medicação sos e, indeciso entre o zyrtec ou o xyzal, tomas os dois. Em que chegas aos escritórios e precisas de fazer um esforço sobre-humano para não entaramelar a língua. Em que constatas, mais uma vez, que és o super homem. Em que zzzz...

segunda-feira, 21 de março de 2016

3 dias têm 50 anos





I almost wish we were butterflies and liv'd but three summer days - three such days with you I could fill with more delight than fifty common years could ever contain.
Will you confess this in a letter? You must write immediately and o all you can to console me in it. Make it rich as draught of poppies to intoxicate me. Write the softest words and kiss them that I may at least touch my lips where yours have been
.


À conquista da alma.



Pode ser tímida à-vontade

Chegou pontual à reunião, impecável num fato preto de casaco curto e saia pelo joelho com as sabrinas da Minnie. Tinha-a promovido pelos seus trabalhos escritos, bem fundamentados e agradavelmente articulados, a despeito de reparos quanto ao acanhamento. Comecei por lhe apontar que não adianta pensar que só sabe o que dizer quando não estou lá para ouvir. Ela não perdeu a vergonha, mas revelou-se sólida nas suas opiniões. (Talvez com o tempo aprenda a falar com a convicção que sente.) E, no final, descobri que tinha covinhas. 

sábado, 19 de março de 2016

O que se seguirá?

Pipoco passou a usar avental, Senhor Ministro sente necessidade de vir alardear que é "muito macho" enquanto Loira se afirma um poço de romantismo, Palmier gaba-se de louvores periclitantes, Filipa ganha os seus concursos,  Uva Passa gaba-se de falar muito e não dizer nada, Mais Picante descobre-se misericordiosa, Xaxia anda intermitente, NM e Mirone competem com Be, Xilre ainda não falou dos moluscos... 

Adenda I - Luna desapareceu e Arrumadinha apareceu.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Mais logo

Mais logo, não chegarei atrasado, não tentarei adivinhar o tinto que respira no decantador nem o verde que trarás em garrafa de cristal, não perguntarei se foi cozinhado por ti. Mais logo, levar-te-ei lavanda e jacintos em tons violeta, apreciarei o vinho e provarei os crepes que ataste com alho francês. Mais logo, perguntarás se já li livros novos de que nem ouvi falar, dar-me-ás apontamentos do quadrilátero d'Oro sem precisares de fotografias, tentarás convencer-me das qualidades da quantidade, ouvir-me-ás contrapor que prefiro a centena de Beethovem às sete vezes mais de Schubert e finalizarás sem conceder que nem tudo se mede aos palmos. Mais logo, sorrirás de razões indizíveis em palavras, da cupidez que não amansa, da certeza de existires e dares por isso. Mais logo, conhecerás memórias de amanhãs, aprenderás a inventar o mar, criarás o teu lugar e saberás que é hora de mergulhar.

quinta-feira, 17 de março de 2016

O complexo de Nicholas Marshall e as Sátiras de Juvenal

A decisão de permitir o livre acesso às escutas daquele processo judicial em curso é verdadeiramente ponderada. Um hino ao reto exercício do poder e um valioso contributo para a realização da Justiça.

Escatologias

Ele: - O diabo vermelho está no inferno?
OE: - O diabo vermelho é como o unicórnio cor-de-rosa...
Ele: - Os unicórnios são éguas com um corno.
Ela: - O Senhor Diretor diz que o inferno é a solidão.


Ele: - ... Não tem sequer o diabo vermelho?!

quarta-feira, 16 de março de 2016

Outro Ente cozinha

D. H. está de férias, retemperando forças antes da Páscoa. Apesar de estarmos na última semana de aulas, filhos ainda têm testes marcados para amanhã - o que deveria ser proibido, se querem saber a minha opinião -, pelo que sair para jantar está fora de questão. Assim, hoje, quem cozinha o jantar é o pai.
Este pai, homem prevenido, decidiu grelhar bifes de vaca e fritar batatas, assegurando unânime aprovação com um grau de dificuldade (quase) nulo. E, vai daí, ontem à noite, abriu o congelador em busca das embalagens de bifes que D. H. certamente ali teria deixado. Apesar de parcos conhecimentos culinários, Outro Ente sabe muito bem que a carne de vaca é a mais escura, pelo que não havia como errar. Retirando a embalagem, estranhou-lhe o volume e o peso. (Porque teria a D. H. feito uma embalagem de bifes tão grande? Que coisa monstruosa. Devem estar aqui bifes para um batalhão. Epá, se calhar os miúdos comem mais do que penso.) Diligente, Outro Ente colocou os bifes na parte de baixo do frigorífico, para que descongelassem durante a noite. Mas, a verdade é que Outro Ente andava intrigado com tanto bife. E, após o almoço, aproveitou para ir ver como estava a carne. Agora, descongelada, mais maleável, já dava para ver que não havia ali nenhum exagero de bifes. Apenas uma lebre...

terça-feira, 15 de março de 2016

Rascunho de um post sobre política

Os outros são os que pensam que sabem. A supremacia do super homem esbarra na prevalência dos superavits. Façamos de conta que é a realidade. Em forno de lenha fica melhor. Aos poucos, já não é ali. Iniciativa plural, salvação nacional, democracia representativa. Jardins suspensos. Agenda pessoal, amigo pessoal, altas individualidades em bom estado. Discurso decadente, estrela cadente, espetáculo burlesco. Facilidade extrema, inteligência manifesta, ilusão de convicção, confiança na fé. Amor próprio, estilo muito próprio, lindo serviço. Ambiguidade institucional, especialistas autorizados, relatórios públicos e notórios. Empobrecimento estagnado, desemprego induzido a rimar com reduzido. Relação de projetada união, cegueira tacanha. Plataforma logística, federação burocrática. Apanha tudo no ar ou talvez do ar.
Não percebi nada, mas fala tão bem...

Publicidade

Por vezes, enquanto passeio o cachorro benjamim, sou abordado por sorridentes senhoras que perguntam a marca do meu cão...

quinta-feira, 10 de março de 2016

aPostilhas

A ser verdade que as coisas têm a importância que lhes damos,
talvez não fosse mau começar a dar mais importância a algumas delas.

terça-feira, 8 de março de 2016

Todos os dias

O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma
 
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Quotas de 100%

Pina Navarro diz ter na sua mulher uma rainha de Inglaterra:
Pina Navarro tinha os meios e os amigos que cedo lhe proporcionaram o sucesso empresarial. O património de Pina Navarro, tal como a prole, foi crescendo com o tempo. Hoje, Pina Navarro é soberano de um império considerável, apesar de nada constar em seu nome. Os seus descendentes são fiéis ao grupo. A sua mulher é-lhe fiel a ele. E ele, também. Hoje, Pina Navarro gaba-se de ser um grande responsável pela emancipação das mulheres nos negócios. Afinal, também a dele está registada como administradora de tudo e nada se faz sem a assinatura dela. Ele decide, ela assina. "Mas tem alguma coisa que perguntar? Essa é boa!"

Doutros tempos e deste dia

A história que vos vou contar foi-me contada vezes sem conta. E passou-se assim, exatamente assim, como sempre me contaram:
Há muitos, muitos anos, o meu bisavô era um homem possante e Eliza a sua amada mulher franzina. Naquele dia, ele saiu bem cedo para a cidade, tratar de negócios e levantar dinheiros para pagar aos trabalhadores. Era Verão e o sol estava quase no pico quando disseram a Eliza que uns malfeitores esperavam o marido. Iam fazer-lhe uma emboscada para o aliviarem da bolsa. Então, Eliza pegou numa caçadeira, montou "à homem" numa das éguas  e galopou em direção às terras d'além. Ao avistar três homens barbudos, vociferou que se não debandassem lhes enchia o bandulho de chumbo "tão certo como estilhaçar aquela telha que está de lado". E, empunhando a arma, disparou à telha que descaía da empena do casebre, desfazendo-a. Receosos, os malfeitores fugiram e o bisavô chegou à herdade são e salvo. 
Eliza sempre foi comentada como excêntrica pelas mulheres...

Talvez o dia da mulher não te diga nada. Talvez penses que não precisas dele. Talvez até te sintas diminuída por haver um dia da mulher. Eliza não desdenharia deste dia. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

O engenho das estações

Caíram folhas na estação errada.
O sol ficou mais longe no horizonte
E deixou de passar sobre as nossas cabeças
A meio de um dia que não deixou de ter meio-dia.


O solstício chegou atrasado,
Trocou as voltas aos ponteiros astronómicos
E fixou-se em Vénus
Numa constelação de virgens.


O Equador deixou-se cair
(Refastelou-se no colo de Capricórnio!)
E o eixo que atravessava a Terra
Criou espaço para o instante seguinte.


Os segundos sucederam-se ao Infinito...
As sazões projetaram-se em Stonehenge...
Então, num prelúdio virtual acrobático
Triunfou uma lua de espectro cromático.


(Participação de Outro Ente no surpreendente concurso lançado por Filipa Brás.)

sábado, 5 de março de 2016

sexta-feira, 4 de março de 2016

Contos anacrónicos

O quotidiano tem sido indecente na interrupção da leitura, impedindo-me de avançar Em Busca do Tempo Perdido e forçando-me a adotar uma abordagem "episódica": leio o episódio da mosca a pousar; leio o episódio do candelabro a servir de pouso; leio o episódio da mosca pousada...Assim, numa "política de pequenos passos" vou desfolhando entre pausas. E, embora um parágrafo contenha, por vezes, vários contos, encontro simplicidade numa escrita sagaz onde, apesar de tudo, nada parece estar a mais.

"Como o risco de desagradar vem sobretudo da dificuldade de apreciar o que passa ou não despercebido, deveríamos ao menos, por uma questão de prudência, nunca falar de nós, porque é assunto onde podemos estar certos de que a visão dos outros e a nossa própria visão nunca concordam. (...) Para cada um de nós existe um deus especial que lhe oculta ou lhe promete a invisibilidade do seu defeito, do mesmo modo que fecha os olhos e as narinas às pessoas que não se lavam acerca da risca de sujidade que têm nas orelhas e ao cheiro a transpiração que conservam debaixo dos braços, e os convence de que podem impunemente passear uma e outro pelo mundo, porque ninguém dará por nada." (Vol. II, § em que um míope diz do outro "Ele mal pode abrir os olhos".)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Que soubesse

devanear por vários livros, sem se fechar em nenhum; consultar a inteligência, sem esquecer o bom senso; amainar as aclamações imaginadas, sem deprimir; comover-se com os atributos dos outros, sem hipocrisia; viver no luxo, sem cheirar a dinheiro; brilhar em clarões de simpatia, sem inanidade nos olhos; discernir o valor pessoal, sem pretensiosismos; bocejar com as fórmulas estéticas, sem desdenhar de Wagner; agir com naturalidade, sem rigidez aperaltada; vencer as primeiras miragens para conhecer o romance concreto das vidas reais; deixar-se apoderar pela  inocência; renegar o prazer das velhacarias; excluir a duplicidade moral; apostatar o moralismo; empenhar-se pela graciosidade na aparência e pela naturalidade na aparição; encantar-se com a imaginação; saborear a companhia e a sua ausência; inquietar-se com Corneille; não julgar caracteres e educações;  abandonar-se sem reserva.
Que, ao menos, soubesse não saber.

Assimilações

Um dos perigos da reestruturação de um serviço é a possibilidade de perder um bom técnico para ganhar um mau chefe. Mudar as designações dos serviços ou passar a chamar "diretor de núcleo" ao anterior "chefe de secção" é palha. São as pessoas que fazem os lugares. Importa-me pôr o Nunes no lugar do Ferreira e transferir  competências da divisão A, onde se tornaram residuais, para a C, onde serão rentabilizadas pela Carla. Costumava dizer que não se começa a jogar com o bispo entalado entre a torre e o cavalo. Deixou de ser preciso dizê-lo. Já ninguém me apresenta organogramas sem nomes. Agora, olho para a estrutura que aprovei e penso que não é só de poeta e louco que tenho um pouco.