terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Não me digam que já não é Natal

Sempre houve cães na herdade e na quinta. Eram cães de caça e de guarda, do avô e do pai, que os seguiam para todo o lado e lhes obedeciam aos gestos, sem que me mostrassem a mesma fidelidade por mais iguarias que lhes desse. Aos seis anos, o meu desejo era ter um cão a que pudesse chamar meu e, acima de tudo, me sentisse como o seu. O Pinta chegou num dia bom. Inaugurou o canil do quintal e foi o meu primeiro cão: andava atrás de mim sempre que não corria à minha frente, jogava à bola e roubava do estendal o que pudesse, gania quando eu saía para a escola e latia ainda eu vinha antes da curva. Revelou-se um cão amalucado, com tiques de soberano ciumento e agressivo com outros bichos.
Era véspera da véspera de Natal. Levei um Pinta doente ao mata-cães (assim era conhecido o veterinário). Sem trela e preso apenas por horas, regressei com ele ao sofá poído da sala de jogos. Morreu-me durante a noite. Fui acordar o pai que embrulhou o Pinta numa manta, o colocou no jipe e nos levou à quinta. Tentei não chorar muito alto enquanto o pai abriu a cova.
No caminho de regresso, quase a chegar à curva, o pai assustou o silêncio: "Vamos fazer Natal!"


(Morreu o Tonic.)

20 comentários:

  1. Querido Outro Ente,
    Este ano não pusemos estrela na árvore.
    Morre-nos um elemento, e ficamos com um Natal (que, conforme sabe, é todos os dias), mais pobre.
    Sei bem o que sente, neste momento.
    Aceite o meu abraço,
    Linda Blue.

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    1. Querida Linda Blue,
      O Tonic passou nove natais connosco... Continuarei a "fazer Natal".
      Um abraço,
      Outro Ente.

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    1. Querida Be,
      Esse é o espírito. (Isso e fracassar baixinho)
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    1. Caro Pipoco Mais Salgado,
      Para 2016 não quero uma agenda. Quero um cão. Faço votos para que também encontre o seu.
      Um abraço,
      Outro Ente.

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  4. Faça-se sempre Natal celebrando os que ficam e recordando os que partem!

    Um abraço amigo, caro Ente.

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    1. Assim é, querida Maria Eu.
      Nem sempre a natividade é espontânea, por vezes é preciso "fazer acontecer".
      Um abraço,
      Outro Ente.

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  5. Toca o sino pequenino... Se ajudar canto-lhe até ao fim.

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    1. Querida Mirone,
      Sempre tão doce.
      Grato pelo embalo.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  6. Faça-se sempre Natal, apesar das perdas.
    Um beijo, Outro Ente.

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    1. Querida Mia,
      Talvez sejam as nossas perdas que justificam o "nascimento renascido" em cada ano.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  7. Deixo-lhe apenas um abraço, querido Outro Ente.

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  8. Oh! Deixo-lhe um abraço apertado.
    Já senti dois últimos suspiros enquanto os afagava, sei bem o desgosto que deve estar a sentir.
    Oxalá as estrelas lhe enviem um novo companheiro, no ano vindouro.

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    1. Querida Mais Picante,
      Já reuni o comício das estrelas. Neste momento, pondero. Fumo branco para breve.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  9. Lamento profundamente.
    Tenho certeza que esse pequeno roncador terá sido muito feliz.

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    1. Obrigado, querida Cuca.
      O Tonic tinha, de facto, graves problemas respiratórios. E, era guloso. E tinha digestões difíceis. Enfim, estimámo-lo muito e acho que ele foi feliz, apesar das ciumeiras que por vezes tinha.
      Um abraço,
      Outro Ente.

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  10. Querido Outro Ente,
    Se pudesse oferecia-lhe um Gin.
    Sei que vai chorar o Tonic, como eu chorei os meus cães. Ainda não sei se é bom ou mau a nossa vida dar pelo menos para dez...mas eles parecem saber isso muito bem.
    Um beijo.

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    1. Querida Teresa Borges do Canto,
      A irmã do Tonic chama-se Gin. Vive em Barcelona, com uma minha amiga.
      Só dez? Tem razão... Por vezes esqueço a quantos ando. E, então, multiplico tudo e tenho dois ou três ou cinco ao mesmo tempo. E gosto de todos.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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