quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O beijo*

É tarde. A noite já atravessou o vazio com as suas sombras. Passou lentamente por nós, como se trouxesse em si o limite dos mitos papões que se temem. O beijo tarda. Como se tivesse escolhido não ser, encolhido numa dimensão de temor nascida da herança decadente de um deus unívoco vivo no sol meridiano que nos cega. A boca misturava com a língua as palavras, fundindo-as com o barulho, com o crepitar do fogo, com o respirar do vinho. O beijo dentro da boca era como espinho na carne. Tão difícil era ele de guardar. O beijo seria mais do que leve rumor do amor. Seria sentimento tornado ato. Seria destino cumprido. Suspensa a espera que o tempo tornara alucinação, o beijo pronto encontrou os lábios já mortos!... De fome.  

*Em jeito de agradecimento a Teresa Borges do Canto.

4 comentários:

  1. Em "beijo" de agradecimento, e eis-me, assim, como, que, aqui...maravilhada.
    Pode ser?

    Lindo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Teresa Borges do Canto,
      Sendo certo que uma imagem vale mais do que 1000 palavras, sou-lhe penhorado.
      Bom dia,
      Outro Ente.

      Eliminar
  2. Muito bonito, Outro Ente.
    [tem o dom da palavra]
    As fotos da Teresa estão giríssimas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Té,
      O dom da simpatia é seu. Grato pela amabilidade.
      Um beijo,
      Outro Ente.

      Eliminar