terça-feira, 6 de outubro de 2015

Idiossincrasias e horizontes desertos

Ao princípio, o Da Moncada fazia-me lembrar moncos. Com o seu ar esverdeado, aparecia-me como uma lagarta gorda e reluzente. Associava-o ao tipo de homens que, por obter sempre um prazer idêntico, se abstrai do gozo de possuir a sua mulher, considerando-as - todas - substituíveis.
(Não sei o que nos permite, por vezes, sentirmo-nos de uma espécie mais elevada, como que subtraídos ao meio por um espírito imanente e oculto de generosidade e gratidão, cuja utilidade medimos pela ventura  que lhe encontramos.)
Com o tempo, passei a subtrair o Da Moncada de toda a sua cagança e achei-o homem sombra de um herói hesitante e resignado que cedo se suicidara.
Acontece cruzarmo-nos entre conhecidos. Sem temperamento de confidente, limito-me a observar o quadro convencional da criatura imponente, ilusória e esgotada. Outro dia, com instintiva polidez, ouvi-o queixar-se dos novos vizinhos das "casas premium", contando com ares de ficção como ouvira um escarcéu vindo do quintal e, assomando, vira o vizinho a tentar degolar uma galinha. Compra um homem uma "casa premium" para isto, lamentava-se repetidamente...
 
Entretanto, ocorre-me que já me endereçaram convites para a passagem de ano, mas ainda ninguém me perguntou o que quero para o Natal.  

8 comentários:

  1. Respostas
    1. Tive um professor que falava (não) muito (bem) desse tal outro Moncada. Agora vou ali ver o que possam ser as casas com nome de vodka.

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    2. Professores são uma meia dúzia, entre vivos e já falecidos.

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    3. Bom dia,
      Então, mas não conhecem o Da Moncada? E eu a pensar que todos conhecíamos um Da Moncada...
      Vodka premium? Essa sou eu que não conheço.
      Beijos,
      Outro Ente.

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  2. Mas, mas ... ???!!! Foi por ter dito que não era "muito bem"? Ó Céus!

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    1. Não, não. Foi porque o post não visava senão um ser da minha imaginação.
      Um beijo,
      Outro Ente.

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  3. Quem não se cruzou já com um Da Moncada desses? :)

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